– E quando ele vai embora eu me sinto tão só
– Ah… eu conheço bem essa sensação. Só que comigo é quando ela vai embora (risos).
– (risos) É né? Então você me entende né?
– Sim, mas me diga uma coisa: esse “só” é algo do tipo: saudades dele, ficar sonhando acordada com o que aconteceu ou é do tipo não gosto de ficar sozinha e ele me tira desse pesadelo que é ficar comigo mesma?
– Hum… é… mais do segundo tipo.
– Hum… pois é… E quando ele não vem “te tirar da solidão”, como você fica?
– Às vezes eu fico triste, às vezes fico com raiva… mais com raiva que triste na verdade.
– Claro, porque ele não veio te resgatar né? “Porque que ele me deixou aqui… “sozinha comigo mesma”?
– É… (risos)… você falando parece idiota, mas é assim mesmo que eu me sinto.
– Pois é… sabe, eu acho que você tem vivido muito em função dele. Já que você não sabe o que fazer quando está sozinha. Fica perdida, não é algo assim?
– É… parece que ele dá sentido para a minha vida.
– Embora eu ache isso super romântico tem um certo problema no sentido de que a vida é sua sabe?
– É… eu sei…
– Veja bem: tua relação tem só a ganhar se vocês forem duas pessoas completas escolhendo viver uma com a outra ao invés de ele ser a pessoa que dá sentido à sua vida e – caso ele vá embora, leve esse sentido, isso dá um medo né?
– Dá… e eu acho que esse medo fica o tempo todo aparecendo numas coisas bobas que eu faço.
– Com certeza que fica. Agora, que tal tu aprender a gostar de ficar contigo para aproveitar ainda mais quando estiver com ele?
– Eu acho que eu preciso disso
– Também acho, vamos lá!
Uma interpretação errônea do amor romântico da Idade Média nos levou a entender que romântico é quando o outro dá sentido à nossa vida. Nada mais longe da verdade.
O amor romântico tinha por ideal viver um amor pessoa – a – pessoa. O foco era a experiência individual o “eu te escolho”. Era um amor centrado em duas pessoas completas que se escolhiam pelo olhar, a janela da alma.
Daí que geralmente temos hoje pessoas que não sabem o que fazer com suas vidas, estão incompletas e entendem que o que falta é um amor, alguém para preencher este vazio. Ora, ninguém vai preencher este vazio porque ele é seu, ou você preenche ou não preenche.
Vi o filme “Minha semana com Marilyn” que mostra um pouco da vida de Marilyn Monroe. Como uma mulher como aquela: linda, famosa, rica poderia ser tão insegura, tão indefesa? Resposta simples: auto-estima e amor-próprio. Riqueza, beleza, status, fama são fontes externas de “afeto” (digamos assim) elas ajudam em uma parte da equação, mas não para outra. Ninguém pode nos dar o sentido para a nossa vida, ninguém pode nos fazer sentir que o que fazemos é bom para nós. As pessoas podem nos indicar a direção, mas, por final, somos nós quem temos que fazer a caminhada.
Numa relação ocorre o mesmo, enquanto o outro é a razão da minha vida a conseqüência mais provável é óbvia: medo de perder. Esse medo permeia a relação e se mostra, como minha cliente colocou: “em coisas bobas”. Bobas, mas que ao longo do tempo quebram uma relação ou tiram dele a vitalidade.
Tenho uma inclinação para entender que o verdadeiro romance começa com a escolha de dois seres completos, íntegros e que conhecem seus limites e sabem o que fazer com suas vidas. Daí não existe a dependência de que o outro venha “me tirar da solidão”, mas sim o desejo de que o outro venha compartilhar comigo suas alegrias e desafios e que juntos criemos os nossos divertimentos e desafios próprios.
Abraço
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