– Então ele disse que ia sair com a namorada!!
– Hum, complicado né?
– Muito! Onde já se viu ele nos trocar por aquela menina!
– É… complicado mesmo… as pessoas tem a mania de crescerem e começarem a fazer escolhas próprias não é?
– Como assim?
– Ora, o que você está me dizendo é que seu filho cresceu, aprendeu a pensar sobre a vida e agora está fazendo escolhas.
– Hum…
– Esta escolha em específico te deixou um pouco braba, mas enfim, é uma escolha.
– Ai… não gostei mesmo dessa escolha dele…
– A questão é que agora você não é mais o centro da vida dele não é mesmo?
– Não me fale isso… eu sei… é isso mesmo…
– Pois é… mas veja lá, esta é uma oportunidade riquíssima para vocês. Ser mãe, agora pode significar algo novo se você souber lidar com as novas escolhas dele.
– É… é verdade… mas como fazer?
– O que te incomoda mais nessa escolha dele?
– Ele não vai estar próximo de nós sabe? Está indo…
– Sim, entendo perfeitamente. Agora: esta distância é, necessária e exclusivamente ruim? Estar “longe” não pode ser bem aproveitado também?
– Hum… se eu for pensar dessa forma… acho que sim né?
– Claro. Você e o seu marido não ficam grudados o tempo todo não é?
– Não.
– E isso acabou com a relação de vocês?
– (risos) Não, não. É até bom porque tem o que conversar depois sabe?
– Perfeito! Que tal usar essa mesma ideia com o seu “pequeno”?
– Vou tentar!
Os momentos em que os filhos começam a se tornar mais responsáveis é muito conturbado e muito rico. Conturbado porque todo um esquema familiar precisa ser revisto, modificado e rico pelas mesmas razões. Pense numa plantação: o que iria acontecer se o agricultor cuidasse das plantas sempre do mesmo jeito? Se ele não fizesse uma distinção entre os momentos de limpar a terra, plantar, regar, adubar e depois colher? E se ele resolvesse cuidar das plantas sempre arando e limpando a terra?
Não iria dar muito certo, obviamente. Pois isso é o que muitas famílias – na melhor das intenções – fazem com seus filhos: os tratam como sementes quando eles já estão dando frutos. É óbvio que os pais, quando olham para os filhos conseguem ver a criança que ele foi, o bebê que ela foi, no entanto, trocar esta lembrança pela realidade é um erro atroz.
A principal tarefa de uma família quando os filhos começam a crescer é ser capaz de rever as regras de conduta, abrir espaço para a nova individualidade da “criança”, aprender a colocar limites negociando-os e aprender a lidar com a distância que essas fases começam a trazer.
O grande problema surge quando a individualidade não é levada à sério. Os novos desejos, ideias e atividades devem ser encaradas como as primeiras tentativas da pessoa rumo à uma grau cada vez maior de responsabilidade. É nesse cenário que criam-se mágoas como a do exemplo acima: “você está me trocando”. Injetar culpa, raiva ou mágoa nas primeiras tentativas de independência de uma pessoa é minar toda a auto-confiança que ela possa vir a desenvolver.
Portanto, aprenda a distanciar-se de uma forma saudável. Quando uma pessoa começa a desejar ser mais responsável é necessário que os pais entendam o recado sem levarem isso para o lado pessoal. E se levarem, é importante buscar ajuda para compreender o porque disso.
Abraço
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