– Pois então, na verdade eu até penso, mas na hora não consigo dizer.
– O que te impede de falar isso?
– Eu acho que é um pouco de várias coisas: não venho de uma família que não fala muito sobre o que está sentindo e eu tenho medo de falar sobre isso.
– Medo do que?
– Ah não sei bem ao certo… eu já falei algumas coisas ao longo da minha vida e sabe… me ferrei entende?
– O que aconteceu especificamente?
– Algumas vezes caçoaram do que eu falei, outras ficaram até brabos comigo.
– Entendi e como você reagiu à isso?
– Acabou que eu fiz o mesmo de sempre: fiquei cada vez mais quieto.
– Entendi. Mas me diga uma coisa: será que não seria mais interessante você aprender a se defender quando te caçoam ou quando ficam brabos contigo do que ficar quieto?
– (Pensa) Nunca tinha pensado nisso.
– O que te parece?
– Sei lá… parece algo que eu nunca tentei. De fato, eu sou daqueles que “pago para não entrar numa briga” sabe?
– Sei sim, imagino. O problema é que às vezes a gente tem que saber como se defender né?
– Hum… to entendendo… algo como: se eu puder fazer isso não preciso ficar quieto e daí não vou ter todos estes problemas que estou tendo agora?
– Muito bom, é isso mesmo.
– Me ajude com isso então, quero tentar!
– Claro, vamos lá!
Expressar nossas emoções e desejos é algo fundamental para o desenvolvimento de uma relação sadia. No entanto, para muitas pessoas isso é um sério problema.
Seja por uma educação punitiva ou fria na qual os sentimentos e a expressão deles assim como dos desejos eram severamente reprimidas, ou então por uma educação na qual esta mesma expressão não era levada à sério as pessoas aprendem a se fechar, calar. A questão, no entanto, não é a repressão, mas sim o registro que fica e diz que “se calar é melhor”.
É o que eu escuto no consultório: “é melhor ficar quieto do que provocar e ter uma briga”, “prefiro não falar nada para evitar discussões”, “fica aquele climão ruim e eu não gosto disso”, “tenho medo que ele (a) fique brabo e me dê um fora”. São várias as frases que caem no mesmo tema: “é melhor calar”. Mas será mesmo assim? Calar é melhor à curto prazo apenas por evitar uma situação constrangedora, no entanto, relações são compromissos à longo prazo – espera-se, pelo menos. Quando pensamos nos malefícios causados à longo prazo calar não é, nunca, a melhor opção.
Expressar, no entanto, não significa falar de qualquer jeito ou – como muitos fazem – “vomitar” as emoções e impôr que o outro “dê um jeito”. É importante saber o que se quer ao expressar um afeto. Ter a intenção clara irá facilitar a sua vida caso você precise defender o seu ponto de vista – caso seja necessário. O caso do cliente acima, por exemplo, ele percebeu durante o seu processo que precisava aprender a como sustentar a sua opinião e ter comportamentos adequados à ela, geralmente ele falava o que queria, mas não se comportava de acordo. Ao longo do tempo o conjugue acabava por desvalidar o que ele dizia – e neste caso o conjugue também tinha uma necessidade de dominação grande que facilitava o processo. Quando ele aprendeu a sustentar o que desejava, o que sentia e se comportar de acordo com aquilo ele começou a falar de forma muito mais natural, sem ansiedade e com convicção.
Pergunte-se: qual o problema em falar: o que dizer? O que eu quero ao dizer? As conseqüências que terei que enfrentar depois de dizer? Essas perguntas simples vão dar uma luz para você saber o que precisa trabalhar para poder, simplesmente, falar.
Abraço
Visite também o nosso site: www.akimpsicologo.com.br