• 6 de novembro de 2013

    Competição

    – Daí sempre quero ser melhor que elas sabe?

    – Sei… mas, para que?

    – É porque na minha família sempre tínhamos que ser os melhores.

    – Entendo, porém, para que? Qual a finalidade de “ser o melhor”?

    – Ah… não sei ao certo sabe? Mas, poxa, quem quer ser o “pior”?

    – Ninguém é claro… mas há de convir comigo que ser o melhor só para ser o melhor parece algo meio infantil né?

    – Hum… pensando desse jeito…

    – Então: para que ser a melhor?

    – Ai Akim… sei lá! Para as pessoa admirarem você?

    – E para que isso é necessário ou importante?

    – Hum… acho que para eu ter um lugar de destaque.

    – Perfeito, e para que esse lugar de destaque?

    – Para ser desejada talvez?

    – Hum… entendo, então você precisa fazer um outdoor de você mesma?

    – (risos) é algo assim… e se não estou lá me sinto meio mal…

    – Claro, sem destaque, sem admiração, sem admiração…

    – Sem amor né?

    – É… e o pior é que com admiração também não é mesmo? Afinal fica só na fachada e nunca em você estou errado?

    – Não.

    Todo comportamento humano busca uma resposta do meio (interno ou externo).

    Se uma pessoa entende que precisa ser “melhor” que os outros, todos são competidores e o mundo é um jogo de ganhadores e perdedores, assim sendo, ela quer sempre “estar por cima”. No entanto, ninguém “quer vencer” apenas por vencer. “Vencer” significa algo para a pessoa, dá sentido à ela de alguma forma e é sempre importante se perguntar se o sentido empregado está adequado para o contexto.

    Todo comportamento é útil em um determinado contexto.

    Se o contexto é uma entrevista de emprego, por exemplo, ela está super correta. Buscar mostrar suas qualidades, demonstrar que sabe lidar melhor com pressão do que seus concorrentes é algo super adequado. Ver as pessoas como concorrentes, quando elas realmente são suas concorrentes é perfeito.

    No entanto, perceber o conjugue como um concorrente é algo um tanto descontextualizado. Esta percepção trará muitos problemas ao casal, mesmo que o conjugue também perceba a relação da mesma forma.

    Pessoas que competem o tempo todo percebendo outros seres humanos como concorrentes ou como alguém que quer “tirar o seu lugar” em geral tem uma falha central no eixo de sua auto estima: percebem o amor como algo ligado direta e exclusivamente ao desempenho de atividades. Algo no formato: “serei amado se, e somente se,… “for o melhor”, “tiver boas notas”, “for um bom menino”, “não causar problemas”, “for melhor que meu esposo/esposa” e outras condições.

    O problema não está no comportamento, mas sim no contexto: o afeto. Afinal de contas o amor não pode estar ligado à apenas um determinado tipo de comportamento, é muito reducionismo achar que todo o afeto que alguém pode sentir por você estará ligado a uma e apenas à uma determinada característica do seu repertório de comportamentos. É como dizer que se a pessoa estiver com preguiça um dia perderá o amor de seus entes queridos. Ou como dizer que se você discordar de alguém perderá o seu amor, ou que se não for o vendedor do mês pelo trigésimo mês seguido perderá todo o afeto construído ao longo de anos. É, no mínimo, non sense.

    A falha pode ser reestruturada quando a pessoa percebe que existem inúmeros comportamentos que ela tem que a fazem ser amada e não apenas uma quantidade restrita, que o afeto se consolida ao longo do tempo, que “quem ela é” “também conta” e principalmente, que ela é algo além de seus desempenhos.

    Esta última percepção é algo que a pessoa desenvolve com ela mesma. É um trabalho interessante porque é uma corajosa atitude de se desfazer de alguns conceitos vividos por anos à fio e assumir a verdade do amor próprio. Assumir que é possível se amar mesmo errando, uma forma de aceitação incondicional, que busca sempre o melhor, mas que nunca se abandona por nada, aceita-se sempre. Ao aceitar-se a necessidade de competição começa a se desfazer, a ruir porque o outro agora “pode ser o outro” e apenas isso, ele não quer mais “tirar o meu lugar” – porque eu me dou um lugar que ninguém pode tirar – ele não é meu competidor – porque sei que existe um lugar bom para todos e, além disso, eu estou querendo o melhor para mim e não ficar “acima” de alguém.

    Abraço

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