• 28 de outubro de 2016

    Prenda-me, se puder

    – Mas não consigo ficar muito tempo.

    – O que acontece?

    – Eu logo me sinto meio mal, como se estivesse preso ali entende?

    – Entendo, porém, não me parece que sair com sua mulher seja necessariamente uma prisão.

    – Não é só com ela, sabe, é meio que com tudo isso. Quando fico muito tempo em algo, logo sinto isso.

    – Será que o problema, então, é com o que você faz ou com a sua percepção de compromisso?

    – Hum, pode ser isso sim Akim.

    – Nesse caso, qual o problema em estar comprometido com algo?

    – E se eu quiser sair? Se não quiser mais o compromisso, como que eu faço?

     

    Muitas pessoas confundem estar comprometido com estar preso a alguma pessoa, situação ou instituição. Compromisso e coação são muito diferentes e é importante compreender a dinâmica psíquica por detrás do medo do compromisso.

     

    Se você é daquelas pessoas que entra em uma situação (namoro, curso, trabalho) já pensando em como dar uma escapada ou o que fazer para evitar de estar lá quando você não quer, pense novamente, provavelmente você tem um problema em se comprometer com alguma coisa. Se, junto com isso, você se sente preso ou prisioneiro, como se a situação que você mesmo escolheu estivesse aprisionando você, tenha certeza: compromisso é um problema para você.

    A pergunta que eu sempre faço e que confunde as pessoas com este tipo de problema é: se você escolheu isso, como está fazendo para tornar isso uma prisão? Há uma confusão que a pessoa estabelece entre escolher algo e ser submetido à isso. Quem escolhe é livre para escolher novamente, não há dúvida sobre isso. O ponto é que, visto que é uma escolha, dificilmente a pessoa deseja abrir mão disso.

    Em geral, pessoas com dificuldade em comprometer-se não se conhecem muito bem. Pensam que sim, mas na verdade não. Elas não conseguem pesar a longo prazo aquilo que querem e o que estão dispostas a enfrentar para ter isso. Com isso em mente, no momento em que as escolhas começam a mostrar suas dificuldades, elas entendem que são “vítimas” daquilo e sentem-se coagidas pela situação, desejando sair dela para não sofrer ou buscar outra que seja mais interessante.

    Outro ponto que leva as pessoas a este conflito é o excesso de cobrança. Pessoas com este problema fazem suas escolhas e levam os resultados num nível tão alto de exigência que tornam a situação por demais onerosa em termos emocionais. O que era uma escolha para a evolução pessoal se torna um desafio para a sustentação da auto estima, nesse momento, começam as dúvidas sobre ter sido uma boa escolha ou não.

    Em ambos os casos conhecer-se melhor é fator fundamental para mudar a situação. Ter expectativas mais realistas sobre como o mundo funciona e sobre seus limites pessoais faz parte de saber comprometer-se de uma maneira adequada com aquilo que escolhemos. Saber que o mundo traz desafios e saber o quanto realmente podemos fazer é um fator que nos ajuda a superar as crises, por nos manter com os pés no chão.

    Abraço

     

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