• 19 de dezembro de 2016

    Porque as pessoas sempre me exploram?

    – E daí ele pegou e ficou lá se enrolando.

    – E você?

    – Tive que ficar esperando.

    – Porque?

    – Porque é sempre assim, eu marco uma coisa para ir com ele, ele fica se enrolando e acaba se atrasando e nunca vamos.

    – E o que te faz realizar novamente a mesma escolha, já sabendo do possível resultado?

    – Também não sei…

     

    Não é por acaso que nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor. A maneira que escolhemos as pessoas e a maneira de nos relacionar tem ligação profunda com nossa auto imagem, seja ela qual for.

    Nossa auto imagem tem múltiplas funções em nosso psiquismo. Uma delas se refere ao tipo de pessoa com a qual nos relacionamos e o tipo de relação que desenvolvemos com ela. Pessoas que são abusadas, em geral, tendem a ter uma auto imagem negativa. Essa percepção deixa a pessoa vulnerável a se relacionar com pessoas abusadoras.

    O fato é que uma auto imagem negativa pode fazer com que a pessoa tenha comportamentos de fuga de si. O sentimento de estar só é um vazio incomensurável, doloroso demais para ser sentido. Há uma crença de que a pessoa não é boa o suficiente e que está sozinha por causa disso. Assim a solidão a inunda com um pessimismo sobre si própria difícil de ser percebido.

    A tendência, então é reprimir este sentimento. Porém, uma vez reprimido, ele tenderá a se mostrar nos comportamentos da pessoa. Vejo muito em meu consultório pessoas que acabam compensando sua auto imagem negativa com uma busca em servir os outros. Este desejo de ser bom para outras pessoas, quando associado a auto imagem negativa é, na verdade, um desejo por redenção. É como se a pessoa estivesse fazendo qualquer negócio para estar com alguém, pois isso mostraria que ela não é tão ruim assim: “alguém me quer”.

    Esta atitude, porém, faz com que ela atente para pessoas que realmente desejam um serviçal por perto. Se o desejo é servir alguém, devo me encontrar com alguém que quer um criado. Até aí a equação funciona perfeitamente. O problema é que na verdade o desejo de “servir” não é pleno. Em outras palavras, o que a pessoa deseja não é servir, mas sim ser amada ao fazer isso. Ela deseja comprar o amor do outro. Nesse momento a coisa desanda.

    Ocorre que uma parte da equação está querendo um serviçal e não alguém para amar, cuidar e colocar no colo quando estiver por baixo. Mas é exatamente isso que o outro lado da equação quer, mas não coloca de forma clara. Assim se mostra muito solícito na esperança de obter favores especiais que não vem (quem daria favores especiais à um servo?). Nesse momento, sente-se explorado e usado, mas não percebe uma realidade mais torturante: foi ele próprio quem se colocou na posição de abuso.

    A auto imagem negativa é o que permite que a pessoa se coloque neste tipo de situação degradante. Enquanto ela não olhar para aquilo que não gosta em si e aprender a se amar, tenderá a repetir o padrão de escolhas que fez antes. Poderá sofrer muito na vida, porém, na sua auto imagem ela merece este sofrimento, é com isso que se identifica. Mudar isso é fundamental para melhorar as escolhas que faz assim como a forma pela qual se relaciona.

     

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