• 30 de dezembro de 2016

    Aquilo que não quero saber sobre mim

    – Eu não quero saber disso.

    – Eu sei. É difícil mesmo.

    – Não é que é difícil, eu não posso aceitar que sou assim.

    – Consegue aceitar que não consegue aceitar que é assim?

    – Isso é mais fácil, mas mesmo assim eu não gosto de perceber isso em mim.

    – Eu sei. Não é uma questão de gostar ou não. Esta percepção está aí. Negar é mais fácil, porém, menos produtivo.

     

    O humano é imperfeito por natureza. Nossa incompletude é que nos permite os maiores deslizes, como também é fonte de nosso desenvolvimento. Aceitar esta condição e abraça-la, no entanto, não é tarefa fácil.

    Existem dois movimentos básicos em relação à motivação: aproximação e afastamento. O primeiro movimento visa aproximar-se daquilo que desejamos. Em geral tem-se um objetivo suficientemente claro para o qual a pessoa se dirige. O segundo movimento busca afastar-se de algo que a pessoa não quer. Nesse caso, temos uma visão de onde não queremos chegar e tendemos a nos comportar afim de nos afastar disso.

    A auto imagem é um componente de nossa vida psíquica que produz os efeitos de aproximação ou afastamento. Em geral, quando as pessoas elaboram uma auto imagem positiva, buscam aproximar-se dela. Quando a mesma é negativa, procuram o afastamento. A auto imagem, no entanto, nem sempre é um bloco único. O mais comum é termos varias facetas que juntas compõe o mosaico de nossa auto imagem. Também é possível não gostar de partes de nós mesmos.

    O problema em relação à estes dois movimentos é que independente de gostarmos ou não daquilo que vemos, nossa auto imagem nos compõe. Assim sendo, mesmo que você deseje se afastar daquilo que percebe de negativo em você, essa característica continuará existindo. Será como tapar o sol com peneira. Outra tendência é criar um ideal sobre a característica negativa e buscar ativamente atingir este ideal. O engano aqui é em não ter nada negativo para ser mostrado. O desejo de uma “limpeza” por completo é irrealizável, ninguém é plenamente virtuoso.

    Aproximar-se dos defeitos que você detecta em você mesmo é mais proveitoso. Nenhuma característica existe por mero acaso. Como disse aquilo que somos é composto de várias facetas que se integram e interagem. Assim como o corpo é um todo, com partes que funcionam de maneiras específicas, a mente também funciona de maneira similar. Assim sendo nossos defeitos fazem parte daquilo que somos e extirpar um defeito é extirpar uma parte de nós.

    Conhecimento é poder. Conhecer aquilo que somos, mesmo quando não gostamos é fundamental para o auto desenvolvimento. Requer, obviamente, coragem e certo desprendimento da condição de ser ideal e perfeito. Aproximar-se de nossos defeitos é aproximar-se de nossa humanidade também. Reconhecer e valorizar este aspecto em nós fortalece a auto estima ao invés de diminuí-la.

     

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