• 22 de maio de 2017

    Menos palavras, mais ações

    – Mas Akim, eu quero mudar isso!

    – Não, não creio que você queira.

    – Como você pode dizer isso?

    – Pelos seus atos. Você pode me dizer que deseja a mudança, mas não formula um motivo e nem mesmo ações, além do fato de que, quando faz algo, logo desiste.

    – Mas… é que eu quero! Mas não consigo.

    – Isso é algo cômodo para se dizer. O fato é que o desejo pela mudança ou a necessidade dela não estão maduras aí dentro. Veja, não tem nenhum problema você não querer mudar.

    – Como não? Isso me faz mal!

    – Sim, concordo que não é lá muito saudável, mas o que o quero dizer é que não é pecado escolher ficar onde já se está.

    – Ai Akim, não gosto de ouvir isso.

    – Isso pode ser o início da mudança, caso você aceite toda a situação e esse mal-estar.

     

    Costumo dizer que presto pouca atenção ao que as pessoas falam. Fico muito mais atento ao que elas fazem. Na ação está a concretização real de tudo o que a pessoa diz, mesmo que uma coisa seja o contrário da outra.

    Salvador Minuchin, certa vez falou que o paradoxo da terapia é que as pessoas desejam mudar desde que nada mude. Constantemente verifico esta verdade em meu consultório. As pessoas chegam e relatam horas e horas de dor e sofrimento em seu trabalho, família, com amigos ou qualquer outra situação. Algumas vezes faço a proposta de uma mudança de comportamento, apenas para ver o compromisso da pessoa com a mudança. Faço a proposta, ela objeta, resolvo a objeção, ela objeta novamente, resolvo a objeção, ela objeta de novo. A objeção, por fim, vence.

    Outro psicoterapeuta famoso chamado Bert Hellinger disse que o terapeuta deve estar atento, porque nem sempre o que as pessoas buscam em terapia é a solução de seus problemas. Algumas vezes apenas querem um cúmplice que afirme o seu modelo de mundo. “Concorde comigo”, é o que pedem; me diga que eu sou mesmo uma vítima. Também tem aqueles que querem apenas serem confirmados em suas atitudes ou quem deseja um amigo, sem fazer um amigo.

    A questão é verificar se as palavras encontram eco nas ações. Esse é o teste final. Palavras são apenas palavras, mas palavras com ações se tornam convicção. Quando alguém fala, deve prestar atenção ao que faz. Nós, somos especialistas em ocultar a verdade. Quando somos honestos com nós mesmos sabemos que no momento de nos dizer “não”, acabamos agindo de forma super protetora e negligente. Nos permitimos agir de maneira inadequada. E depois? Bem, depois buscamos alguém para colocar a culpa.

    Muitas vezes as pessoas precisam, de fato, falar. São as ocasiões em que a angústia ou a ansiedade está num nível tão alto que ela precisa desabafar um pouco para ter espaço interno para processar tudo. Outras vezes é porque ela teve uma experiência e deseja compreender o que aconteceu. Dito isso, a ação é mais importante. Perceber a ação, nossa reação às situações é mais importante do que nossa “opinião” sobre ela.

    Opiniões costumam importar muito pouco em um processo de terapia. Elas apenas fazem sentido quando estão conectadas com a ação. O problema é que muitos de nós agem de uma forma e pensam de outra. Assim, desejamos negar nossas ações e as motivações de nossas ações apenas porque elas não “combinam” com o que pensamos. É a loucura de ver que discordamos dos motivos que nos levam a agir, mesmo vendo que agimos dessa forma.

    Esta cegueira voluntária ou involuntária é o que nos causa o maior “mal”. Fugimos de nossa essência, seja ela qual for, e tentamos ser aquilo que não somos. Esta é a receita do fracasso. É muito mais difícil prestar atenção às motivações que já temos e a partir delas buscar alguma mudança do que ficar tentando ser o que não somos. Digo isso porque nem sempre gostamos daquilo que somos. Melhor dizendo: muitas vezes “discordamos” do que somos e isso nos causa problemas. Enfrentar estes problemas pode ser difícil, mas é neles que está a chave de qualquer solução, ou você pode continuar falando, falando, falando…

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