• 17 de fevereiro de 2020

    Porque é importante “não saber”?

    – Eu me sinto triste com isso.

    – Ok, tente aceitar essa tristeza.

    – É difícil.

    – O que torna isso difícil?

    – Eu sinto que se eu ficar triste… bem… é como se eu admitisse que não tem mais o que fazer, como se falasse: só me resta chorar.

    – Isso mesmo.

    – E eu não sei o que fazer depois disso. Tipo, o que eu faço com isso, ou depois?

    – Você não sabe?

    – Não!

    – Ótimo, consegue aceitar que não sabe?

    – Também é complicado…

    Queremos saber, ter respostas e definir metas. Porém, o mais importante é “não saber”. Porque? “Não saber” envolve lidar com as dúvidas que temos, com as respostas que não alcançamos e olhar para a realidade, ao invés de olharmos para nossos pré conceitos. Essa tarefa não é simples.

    Se as pessoas soubessem, não estariam na terapia. O que ocorre é que causa certa angústia perceber que “não sabemos”. Nos cobramos em ter uma resposta ou ter que ter tido uma resposta antes. Porém, o fato é que “não saber” é o estado natural do ser humano. Nascemos sem saber e vamos aprendendo com a vida. Logo, perceber que você não tem uma resposta para os seus problemas ou que a resposta que tem dado não está ajudando, não é um sinal de fraqueza ou burrice, é apenas o que é. Ao aceitar esta verdade – dolorosa, muitas vezes – é que você poderá começar a buscar por uma resposta.

    Então entra o segundo momento que é aguentar ficar sem saber. Queremos achar uma resposta “logo”, porém, quando se trata de questões humanas, rápido raramente é sinônimo de eficiente. Ficar sem resposta é um bom estado quando nos permitimos isso. Manter a atitude de desejar responder é diferente de achar, logo, uma resposta. Essa fase é importante para nos desapegarmos das histórias que nos contamos sobre o que é o problema e como resolvê-lo.

    Parece incrível, mas a maior parte de nós mantém uma visão inadequada dos problemas e das soluções. Nos apegamos à esta explicação e ficamos operando dentro dela. Desapegar e ficar “sem saber” também significa não ter mais uma história para contar sobre o seu problema. Olhar para a experiência e dela derivar aquilo que realmente é importante faz parte deste segundo momento. Não saber também significa olhar novamente para os seus problemas e para a sua história e dar um passo para trás, rever tudo novamente com outros olhos.

    É através disso que a terapia, muitas vezes, opera. O comum é que as pessoas venham para a terapia com uma ideia do que seu problema é. Ao mesmo tempo esta ideia não os ajuda a resolver o problema. Quando conseguem deixar essa percepção de lado e abrir sua mente para mais elementos elas se dão conta de que há mais “sob o sol”. Não saber é o nome que se dá a esse processo. Não responder também é importante. Em um primeiro momento não precisamos de mais respostas, precisamos de perguntas melhores.

    Como se diz em pesquisa, quando se tem uma boa pergunta, metade do problema está resolvido. A pergunta traz a dúvida e não a certeza. Viver é mais um trabalho de saber lidar com as dúvidas do que com a certeza (afinal, raramente temos certeza de algo). Abertos à dúvida, podemos ver a realidade, pois ela é paradoxal em sua natureza. Se aceitamos a dúvida e o “não pensado”, conseguimos nos abrir diante das possibilidades e com isso criar perguntas com base na nossa experiência e não em nossas ideias pré concebidas. Isso é um dos melhores caminhos para resolver nossos problemas.

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