– Mas eu não posso concordar com ele.
– Porque não?
– Porque eu disse que não ia, que não gostava.
– E?
– Como assim “e”? O que acontece se eu fico mudando de opinião o tempo todo.
– Mostra que sabe raciocinar e aprender de forma diferente?
Na era das opiniões, todos precisam ter uma sobre todos os assuntos. No entanto, cria-se um problema porque não conseguimos desenvolver uma boa opinião sobre tudo. Assim sendo nos agarramos com unhas e dentes ao que proferimos. Será isso adequado?
Não. Agarrar-se com unhas e dentes à uma opinião é uma atitude que nos leva ao dogmatismo. Quando uma opinião se torna dogma, toda a possibilidade de aprimoramento na visão termina. Hoje, como já coloquei, existe uma necessidade em dar opiniões. Todos os sites e redes sociais pedem para que você dê a sua “valiosa” opinião. Isso cria uma cultura que crê (erroneamente) que a mera verborréia que sai de nossa boca é muito importante.
Porém, em boa parte dos casos, as pessoas nem sequer pensam sobre as opiniões que proferem. No consultório canso de ver pessoas defendendo ferozmente uma ou outra opinião. Quando lhe pergunto se leram algum livro sobre o tema, ficam vermelhas e exclamam que não. Em “Era da opinião” já mostrei que esse é um fenômeno cada vez mais comum, visto que o importante é dar respostas rápidas e não boas respostas. Assim, qual o valor da opinião de fato? A critério da opinião ser pessoal não é suficiente para darmos às opiniões o crédito que desejam ter.
Mais importante do que a conclusão em si, é a maneira pela qual a pessoa chega à conclusão. O desenvolvimento do ato de raciocinar, nos leva a refletir sobre os resultados do pensamento ao invés de tê-los como artigos de fé. Compreendemos ao aprender a pensar que vários raciocínios podem levar à mesma conclusão. Isso nos faz perceber que os dogmas que tem sido criados ultimamente refletem o fato de que as pessoas não defendem argumentos e sim emoções que são provocadas a partir destes argumentos.
A opinião quer se impor. O que quero dizer com isso é que quando alguém emite uma opinião na sociedade de consumo, seu desejo é de que a mesma seja tratada como lei (ou fé). As opiniões se tornaram os produtos mais valiosos que os consumidores possuem. Elas fazem a mercadoria girar e o mercado adaptar suas regras de funcionamento. O que quer o cliente? Esse é o verdadeiro motivo pelo qual opiniões são tão importantes hoje em dia.
Assim sendo, para responder a pergunta deste post, não “mudamos” de opinião. Opinião não é (ou não deveria ser) como um produto que escolhemos no mercado: “ah, cansei de tomar neo liberalismo, acho que vou experimentar um pouco de comunismo para vero que dá”. A opinião, quando tratada como argumento, nasce de uma reflexão que leva em conta critérios e determinados elementos para chegar à uma conclusão.
A pessoa que “muda de opinião” está, na verdade, aprendendo uma nova maneira de analisar os dados afim de continuar com o seu processo de raciocínio sobre o tema. Assim sendo, não mudamos, aprofundamos nossa análise e isso pode nos levar à conclusões diferentes das anteriores. Mas não é isso que é ciência? Sim. Desta forma, duvide daquele que não muda sua opinião, pois pode fazê-lo apenas por dogmatismo e não por verdadeira convicção ou compreensão do assunto sobre o qual versa.
No que tange aos temas humanos, enquanto psicólogo, creio ainda mais difícil ater-se à uma só conclusão ou maneira de pensar. A humanidade é um tema tão vasto que creio que a pessoa que entende que pode explicá-la com apenas uma teoria é, na verdade, ingênua.
Abraço