• 8 de outubro de 2012

    Criando (in)felicidade

    – Pois é Akim, depois de pensar eu entendi o que eu faço

    – Ótimo, então vamos lá, me conte

    – É algo do tipo assim: eu quero ser aprovado, quero que me incentivem e faço isso para os outros na esperança de que eles façam isso comigo.

    – Hum e onde está o problema?

    – O problema é exatamente este: eu não faço comigo o que eu quero que eles façam. Eu deveria fazer comigo o que faço com as outras pessoas: eu deveria me incentivar, aprovar entende?

    – Com certeza, assim fica bem mais fácil não é mesmo? Diminui um monte o seu trabalho não é mesmo?

    – É… eu percebi que enquanto eu fico esperando esta atitude vir dos outros eu fico prisioneiro dos meus relacionamentos, porque eu fico ali esperando, esperando alguém me dar essas coisas sabe? E aí fico preso, com medo de magoar, acabo, por isso, não  me expressando, ficando calado, quieto e apático com o passar do tempo.

    – Maravilha hein? Semana produtiva?

    – É né? (risos).

    – Não quero contribuir para a sua neurose de aprovação alheia, mas meus parabéns! (risos)

    – (risos) Obrigado, mas não contribuiu não.

    – Não? Ótimo. A sua percepção foi muito bacana, agora me conte: o que você vai fazer com esta percepção?

    – Então, comecei a fazer algumas coisas; sabe que eu sou muito visual né? Então eu fiquei percebendo no meu dia a dia quando eu começava a criar a imagem: “o que o outro está esperando de mim?” e quando eu fazia isso, imaginava, no lugar: “o que eu quero fazer agora?” E daí fazia. Isso incluiu dizer coisas que eu geralmente não digo, fazer coisas que eu quero fazer, vencer alguns medos, mostrar decepção sabe?

    – Pô, que ótimo! Percepção e ação, agora me conte: quando você age assim, isso causa alguma afetação sobre como você se sente em relação à ti próprio?

    – Sim, muito, me sinto mais confiante em mim. Mais leve, mais solto.

    – Perfeito!

     

    A expressão “profecia que se auto-realiza” foi empregada pela primeira vez já faz algum tempo, desde lá nossa percepção sobre o que fazemos em nossas relações nunca mais foi a mesma. Falar sobre esta expressão de uma outra forma significa dizer: o que nós fazemos em nossas relações que nos levam diretamente para aquilo que mais tememos? Entendendo que uma relação é sempre feita de duas pessoas, nos perguntamos sobre qual a nossa parte na história.

    Geralmente tendemos a nos afastar ou atacar – para destruir – o que nos causa medo. Assim sendo, emocionalmente e psicologicamente falando a tendência é que aquilo que tememos “não exista” na nossa consciência. Não aceitamos alguns “detalhes” nossos e, por isso, colocamos eles “de lado”. Ao fazer isso, não aprendemos o que precisamos aprender com aquelas situações o que apenas nos mantém sem saber o que fazer com elas. Assim sendo começamos a ter os mesmos comportamentos de esquiva ou de ataque para estas questões e aí vamos criando a nossa infelicidade, por não confrontar o que precisamos confrontar. No caso acima, por exemplo, o que ele precisava confrontar era, exatamente a questão de aprender a se valorizar, a cuidar de si próprio e sentir-se capaz e confiante dessa tarefa. Isso era o que ele colocava de lado e terminava por conseguir sempre o que não queria: ser criticado, desaprovado.

    Perceber como contribuímos para a criação de uma história pessoal de infelicidade é o primeiro passo, depois disso precisamos buscar agir de uma forma nova, diferente. No entanto, simplesmente mudar um ato não é o suficiente – embora seja algo ótimo. A mudança precisa de um “alvo”, uma espécie de meta. Ou seja, vou mudar o meu comportamento, mas para qual direção? Aí entram os sentimentos, as emoções e as metas: quero me sentir mais seguro de mim quando alguém me criticar; quero conseguir ouvir uma crítica, separar o que é importante desta crítica e o que não é e me sentir feliz de ter sido ajudado pela pessoa, mesmo que ela seja grosseira comigo; quero me sentir leve nas minhas relações; quero me entregar afetivamente. Todos estes são exemplos de metas que tem a ver com emoções que desejamos sentir quando alcançamos um dado estado emocional, um dado objetivo ou conseguimos nos comportar de uma determinada forma. No caso acima, por exemplo, a pessoa compreendeu e mudou o seu comportamento conseguindo sentir-se diferente com ela mesma o que – no caso dele – era uma meta terapêutica.

    A mudança feita dessa forma é fundamental pois, mudar simplesmente significa mudar o comportamento e eu posso mudar para algo ainda pior do que eu já tinha. Portanto, antes de mudar, é importante saber para onde estou indo, onde desejo chegar e como chegarei lá. É uma mudança na direção “certa”, para ir de encontro com o que, de certa forma, tememos e não sabemos como lidar, mas é nesta direção que fazemos as mudanças mais profundas, libertadoras e criativas.

    Abraços

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