– E eu fiquei pensando na nossa consulta sabe?
– Sim, que bom.
– Pois é…daí pensei que tenho muito medo desta coisa de ser abandonado
– É um medo bem forte seu não é?
– É sim, e eu me lembrei de uma cena em que minha mãe me dizia: não provoque teu pai, porque se ele ficar brabo resolve largar a gente e daí vamos ficar pobres e podemos até morrer.
– Que forte isso não?
– Pois é.
– O que você pensa sobre isso hoje?
– Eu sei que é bobeira, mas sempre que penso naquela cena fico com medo de ser abandonado.
– Topa fazer uma experiência?
– Sim!
– Lembre da mesma cena, só que quando a sua mãe falar eu quero que você imagine que ela está falando com você adulto, imagine como se fosse numa tela de televisão ela falando com você, adulto lá naquela imagem.
– (o peito se ergue suavemente) Nossa… agora eu falei e a minha mãe ficou quieta.
– Sério? O que você disse para ela?
– Disse: que se o pai nos abandonasse eu ia pegar um trabalho qualquer e pronto.
– Como se sente agora?
– Akim… me caiu uma ficha: eu só serie abandonado se eu me abandonar.
– Perfeito!
“Ser” abandonado é uma questão que tem muito a ver com a identificação que a pessoa faz de si própria. Quando dizemos que somos algo estamos nos referindo à nossa imagem, ao como nos percebemos.
Quando nos percebemos como abandonados a imagem corriqueira que fazemos é de uma pessoa – na verdade algo mais parecido com um objeto – que é posto de lado por alguém; como um brinquedo velho jogado fora. No entanto o problema é que se essa imagem se repete em nossa mente acabamos nós mesmos por viver uma vida de abandonados, ou seja, adaptamos o nosso comportamento, nossas emoções ao como nos percebemos e passamos a viver a vida tal como abandonados.
Quando crianças que são deixadas para adoção conseguem entender que elas possuem um valor por elas próprias, que são dignas de viver e serem felizes começam a se preocupar com elas mesmas. Quando elas não conseguem isso se tornam vítimas de algo que ocorreu com elas pois passam a perpetuar o pensamento de “eu sou um abandonado”, “mereço ser deixado de lado” e assim começam desde cedo jogar suas vidas fora. Esse fenômeno não ocorre apenas com crianças abandonadas, mas também com adultos e adolescentes que sofrem desilusão amorosa. Sentem-se abandonados e com o tempo indignos de amor.
Um dos fatores principais é a pessoa conseguir modificar a forma pela qual se vê, assim como fiz com meu cliente. Fizemos uma técnica na qual ele se colocou na mesma cena só que de posse de mais recursos para saber o que fazer consigo, assim que ele percebeu que poderia se cuidar mesmo que o pai se fosse a sua relação consigo próprio mudou. Ele não mas se viu como uma pessoa que poderia ser abandonada porque ele próprio não se abandonaria.
Pessoas podem optar por viverem suas vidas longe de nós, mas só nos sentiremos abandonados de fato quando nós também desejarmo isso.
Abraço
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