• 3 de junho de 2013

    Liberdade

    – Pois é Akim, mas isso tolhe a minha liberdade entende?

    – Ah é? Hum… na verdade eu não consigo entender direito, pode me explicar?

    – Pô meu! É assim ó: se eu ficar com ela e namorar com ela, não posso mais ficar com nenhuma outra mina!

    – Ah! E isso é tolher a sua liberdade?

    – Claro! Como que eu faço com o meu desejo? Se eu ficar com vontade de pegar uma mina?

    – O que você faz, de fato?

    – (Silêncio) Como assim?

    – Ora, você está exercendo a sua liberdade: ninguém te apontou uma arma na cabeça para namorar com ela e muito menos disseram que você tinha que ser monogâmico, portanto se você escolhe – usando a sua liberdade – namorar ela de uma forma monogâmica, me parece que foi a escolha de um homem livre, ou você só está considerando o namoro como uma forma de “não perder ela”?

    – (Silêncio) Porra meu… mas colocando a coisa assim você me ferra!

    – (Risos) Porque te ferro?

    – Porque daí eu tenho que dizer que eu escolhi namorar ela e que… eu escolhi não ficar com outras mulheres.

    – Mas não é exatamente isso?

    – É né?

     

    Alguns existencialistas dizem que o homem é totalmente livre para escolher em qual prisão deseja viver. A afirmação paradoxal deve-se por uma confusão que é cada vez mais difundida em nossa sociedade sobre o que a palavra “liberdade” realmente significa.

    De uma forma geral quando perguntamos às pessoas o que é liberdade elas respondem: “é eu poder fazer o que eu quero”. Óbvio que liberdade tem a ver com fazer o que se deseja, mas será que a liberdade resume-se à isso? E se eu quiser algo, mas, dentro de mim, algo me disser para não fazer isso e eu escolher por não fazer? Então eu quis e não quis ao mesmo tempo; será que a escolha que fiz tem a ver com a minha liberdade de escolha ou não? E não fazer algo que se quer é sempre uma forma de não exercitar a sua liberdade?

     

    Creio que o grande problema está na palavra “eu quero” e no significado que atribuímos à ela hoje em dia. “Eu quero” está associado ao prazer que as escolhas vão trazer, à satisfação. Somos uma sociedade de consumidores, portanto nossas escolhas tem que refletir esta realidade e escolha traduz-se por encontrar algo que me traga satisfação para uma necessidade ou impulso de consumo. Quando associamos isto à “eu quero” e “eu quero” à “liberdade” achamos que liberdade é apenas conseguir coisas que vão nos trazer satisfação. Mas, repito, será que a liberdade é somente isso?

    Não creio, acho que ela é muito mais profunda do que realmente pensamos e que suas implicações são mais amplas que o nosso consumismo quer nos fazer entender. Entendo a liberdade não de fazer o que “eu quero” apenas, mas do que “eu posso”, do que “eu devo”, enfim, penso na liberdade muito mais como a liberdade de fazer uma escolha do que apenas escolher o que “eu quero”. E essa escolha por, muitas vezes, ir contra o que eu quero. É na escolha e na habilidade de realizá-la que se encontra a tal liberdade e isso se dá porque muitas vezes o “eu quero” não é possível ou realizável daí que confundir “eu quero” com liberdade é um erro – na minha opinião.

     

    Por entender a liberdade desta forma quando trabalho com meus clientes sobre este tema busco sempre trabalhar com a habilidade da pessoa de escolher algo e manter-se íntegra à sua escolha. Também trabalho com a habilidade de refletir sobre as escolhas que fez, que faz e perguntar o que ela deseja fazer com estas escolhas. Quando colocamos a liberdade no poder de escolher chamamos a pessoa a refletir sobre suas competências, sua integridade, seus limites e desejos isso coloca a liberdade numa perspectiva mais realista e menos consumista; a pessoa passa a entender que a liberdade não tem a ver apenas com prazer e satisfação, pelo contrário, a liberdade é, por definição, angustiante, pois é exatamente a angústia de buscar uma direção que nasce o exercício da liberdade e seus resultados.

    Sermos livres para escolhermos nossas prisões quer dizer que cada escolha é um novo limite. No caso acima: escolher não namorar e ficar “com quem quiser” é um limite, vai te guiar para um tipo de experiência; escolher namorar de forma monogâmica vai te guiar para outro, assim sendo, o que importa é o que você pode, quer e deve fazer com isso. Usar a cabeça para fazer uma escolha e tornar o pensamento real é, na minha opinião, o que de fato resume a liberdade.

     

    Abraço

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