– Eu simplesmente não consigo suportar ele!
– (Risos) Entendo perfeitamente, mas me diga: como ele te provoca?
– Ai é o jeito dele, aquela cara dele, aquele jeito de falar dele!
– Parece que está apaixonada (risos).
– Ai Akim!! Não né? Eu não gosto mesmo!
– O que esse jeito “todo especial” dele faz em você?
– Ai, não sei é tipo assim: parece que ele está bem o tempo todo sabe?
– Sei…
– E ele fica lá todo posudo, se fazendo, com o nariz empinado. “Tudo numa boa”. Não suporto!
– E você, está bem sempre? Com a auto-estima em dia?
– Você sabe que não…
– Sei, por isso também sei que ele te incomoda… mas ele também te mostra algo não mostra?
– Como assim?
– Tem algo nele que te fere, por isso você não suporta ele, mas será que este algo que te fere é algo que te fere “do mal” ou “do bem”.
– Do mal né? Se me fere!
– Será… o que tem nessa alegria toda dele que você poderia usar a seu favor?
– (Silêncio) Eu não quero dizer que eu tenho inveja disso tá?
– Tá… mas se você tivesse dito eu poderia te perguntar o que você poderia aprender com ele não poderia?
– Sim… ele tem uma coisa de que fala, enfrenta as coisas quando aparecem sabe? Isso que eu acho que ele é alegre assim…
– Entendi… então, se você tivesse dito e eu perguntado e você me respondido isso eu poderia te dizer: será que não seria bacana para você aprender com isso?
– Sim.
– Ótimo, então vamos fazer assim: como se você não tivesse dito nada eu te pergunto: que tal você aprender a enfrentar as situações da sua vida e falar mais sobre teus sentimentos e você mesma?
– É uma boa…
Intolerância, creio que este seja um tema importante para a sociedade que estamos vivendo e criando.
Vamos olhar para a palavra “tolerante” antes de irmos para a intolerância. “Tolerante” como está descrito no dicionário Michaelis: “1 Que tolera. 2 Dotado de tolerância. 3 Indulgente. 4 Que desculpa certas faltas ou erros. 5 Que admite ou respeita, embora não reconheça, opiniões contrárias à sua.”
Esta última parte é a mais importante a propriedade e habilidade de reconhecer uma ideia, posicionamento contrário, dar à ele valor de existência e respeitá-lo é o fundamento da tolerância. No entanto, parece que esta é uma habilidade que tem estado cada vez mais fora dos círculos sociais.
A resposta da sociologia, poderia vir das palavras de Zygmunt Bauman quando reflete sobre o modo consumidor de nossa sociedade atual. O Consumidor não é treinado para ser tolerante, pelo contrário a sua marca é a intolerância. Um bom consumidor não pode ser tolerante por vários motivos: ele deve – perceba-se que ele “deve” ou seja, é obrigatório – preservar sempre a grande máxima “garantir a sua satisfação com o serviço”, se ele precisa garantir a satisfação como pode tolerar algum tipo de falha ou imprevisto na empresa ou loja? Jamais, deve logo descartar e partir para a próxima. Atrasos? Jamais” Falta de estoque? Jamais! Ter que adiar a minha satisfação (grande terror)? Jamais!
Vejo os pais ensinando aos filhos: “não está bom? jogue fora”. Meu projetor está quebrado, levei ao concerto e o rapaz me disse: talvez não fabriquem mais peças para o seu aparelho senhor. E eu perguntei: e o que eu faço daí?; ele respondeu: “Bem, o senhor vai ter que comprar um novo porque não vai ter concerto”. Percebem a diferença: uma coisa é jogar fora algo que não tem concerto a outra é rapidamente trocar algo apenas “porque não está bom”. A muito tempo atrás eu cuspia vinho seco quando o provava, torcia o nariz e dizia: “Meu Deus que coisa ruim”, hoje, com o paladar adaptado, “tolerante”, aprendi a saborear os vinhos secos e adoro cada um deles.
O problema está quando usamos a lógica de consumo para mediar as relações humanas. Este é o problema. A sociedade não está indo bem? Deve ter “algo” na sociedade que deve ser eliminado (descartado) para que ela fique boa – judeus, homossexuais, artistas, intelectuais, deformados – e então, descartando fica tudo certo. A pessoa me incomoda? A culpa é dela e ela tem que ser retirada. Essa é alógica de consumo, quando criamos as pessoas para pensarem assim não podemos depois dizer que elas não estão desempenhando o seu papel. Estão à todo momento dizendo quem pode e quem não pode ficar, quem dá prazer e satisfação e quem não dá, quem é problema e quem não é de uma forma que nunca se fez antes. Porque? Porque com o mundo globalizado os “exílios” estão cada vez mais escassos, não existem mais lugares para aqueles que não são desejados irem. Para onde irão então? Para o descarte, para a lixeira.
Praticar a tolerância é algo inverso ao modo de pensamento atual. Como agir, então?
Tenho buscado agir da seguinte forma: a primeira mostrando quando a intolerância é realmente adequada. Ser intolerante ou seja, não compreender, não respeitar e não aceitar é algo importante para o ser humano quando se trata de elementos que ferem de forma brusca a sua integridade. Aí entra a segunda parte do como lido com isso a qual se divide em duas: reflexão e criação de recursos.
Reflexão: “será que o elemento que o perturba realmente fere a sua integridade?” Muitas vezes temos apenas caprichos, projeções negativas ou até mesmo inveja. “Se ele me fere, de que forma o faz?” É importante sabermos como somos feridos para sabermos como vamos nos defender e é aí que entra a proposta de gerar recursos, ou seja, aprender novas formas de perceber, se relacionar e agir com o que nos causa intolerância.
Ao final de vários processos o que vejo? A maior parte das pessoas, depois que aprende como lidar com algo passa a simplesmente não escolher aquilo ao invés de ser intolerante. O grau de intolerância passa a ser um simples: “não gosto” ao invés de “isso me faz mal”. Aprender a lidar com o que nos provoca é fundamental para sabermos distinguir o que é falta de competência nossa e o que realmente nos faz mal e causa dano. Quando a pessoa aprender ela se torna mais rica, mais sábia e geralmente mais tolerante.
Abraço
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