– O que eu estou tentando é não fazer cagada!
– E tem conseguido?
– É, tem ido bem.
– Que bom! E que cagadas você não tem cometido?
– Ah, eu não tenho mais vagabundeado como antes, não fico mais me enrolando para fazer minhas tarefas, não estou mais falando merda para a minha namorada… essas coisas sabe?
– Hum… e se você não está vagabundeando, o que tem feito?
– Ah, eu chego em casa, almoço, dou uma dormidinha porque ninguém é de ferro, acordo e daí pego e faço logo a lição, depois lavo a louça e faço o que tem que fazer e daí vejo o que vou fazer com o tempo que sobra.
– Hum… e como você está fazendo para fazer isso tudo?
– Ah… eu meio que coloquei assim na cabeça: é melhor eu ficar ganhando bronca todo dia ou ficar de boa com a minha mãe? Dai optei pela segunda.
– Perfeito! Mas me diga: você não acha que está se menosprezando um pouco dizendo simplesmente que “não está mais vagabundeando”?
– Como assim?
– Ora, me parece que você tomou decisões, aprendeu a se motivar e está criando um senso de responsabilidade ao fazer tudo o que tem feito e isso me parece muito mais do que um simples “não estou mais vagabundo”, me soa mais como um “estou me tornando responsável e maduro”.
– Hum… num tinha pensado assim.
– E como te parece pensar assim?
– Pô… empolga mais né?
– Empolga né? Também acho, onde mais você poderia usar essas estratégias?
– Hum… acho que sei exatamente aonde… lembra que te falei daqueles piás que me enchem o saco na escola? Acho que dá para adaptar algo disso com eles…
“A opção saudável ao pensamento negativo não e o pensamento positivo, mas o pensamento critico. Nós não ensinamos um pensamento positivo estúpido” (Martin Seligman no livro Florescer).
Adoro esta crítica de Martin Selgman por ter sentido a diferença entre pensamento positivo de fato e o estúpido de forma muito nítida em minha vida e em meu trabalho. Santo Agostinho tem uma frase que adoro: “reze como se tudo dependesse de Deus, trabalhe como se tudo dependesse de você”. Esta frase fala muito sobre a crítica de Seligman e é o tema do post de hoje.
O que seria um pensamento positivo “de fato”? Quando aquele garoto disse que “não estava vagabundeando” ele estava pensando de forma negativa, algo que ele “não está” fazendo e, com isso, livrando-se de algo ruim. Ao longo de nossa sessão busquei trazer as competências, crenças e atitudes que ele desenvolveu para “não vagabundear” à tona, criando nele uma sensação de competência e auto-estima. Estas sensações “empolgam” como ele colocou e podem ser percebidas pelas pessoa, reproduzidas, avaliadas e colocadas em outros contextos. Isso é pensamento positivo de fato.
É muito diferente de apenas se dizer: “vou conseguir”. É um “vou conseguir” embasado, com experiência de vida, com sensações e tudo isso alinhado com a identidade da pessoa e a capacidade de avaliação crítica – condições que faltam ao pensamento positivo “estúpido” porque ele não se importa com a realidade e concretude de suas afirmações, você tem que acreditar e pronto, é dogma e não pensamento.
Assim sendo é importante frisar alguns pontos do pensamento positivo “de fato” que são: embasados na realidade, nas experiências – pessoais ou não – são passíveis de análise crítica, de serem verificados, são alinhados à identidade da pessoa, são reproduzíveis e aplicáveis à várias situações e falam sempre de competências que a pessoa adquiriu, seja ela um comportamento, uma atitude mental ou uma nova forma de se perceber ou perceber o mundo. Agora perceba a diferença:
“não estou mais vagabundeando” – Pensamento negativo: apenas fala sobre algo ruim que não ocorreu
“eu posso ser responsável” – Pensamento positivo “estúpido”: o poder não está alicerçado, não é crítico e não mostra como ser responsável.
“eu penso: quero ficar bem com a minha mãe, me dou um tempo de repouso e começo a fazer as tarefas de casa e da escola, depois escolho o que quero fazer. Já fiz isso e posso fazer novamente!” – Pensamento positivo “de fato”: o poder está alicerçado em atitudes mentais, comportamentos e é fruto de reflexão da pessoa com base em experiência pessoal.
Agora experimente fazer isso com as suas experiências bem sucedidas, #fica a dica!
Abraço
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