• 3 de julho de 2013

    Ninho vazio

    – Estou meio chateada com o meu filho sabe? Meio desesperada com muitas coisas na verdade…

    – Me conte o que ocorre com ele

    – Ele não para mais em casa… na verdade… neste último feriado ele nem ficou com a gente, foi lá para a casa da namorada sabe?

    – Sei… aquela namorada que convidou ele para morar junto com ela?

    – Essa mesma! Ele não tem idade para isso… E ele fica me enfrentando sabe?

    – Sei sim… porque será?

    – Porque ele é um mal-agradecido, fiz tudo por ele, dediquei a minha vida e agora recebo isso: jantar na casa da namorada!

    – E a sua vida, como está?

    – Como assim?

    – A SUA vida… sabe, aquela que não tem a ver com o seu filho…

    – Ah Akim, nem sei mais o que é isso… depois que eles nasceram, nunca mais tive vida própria…

    – Então, acho que o seu filho está dizendo que está na hora de você voltar à ter

    – Ele me disse isso

    – Porque não encarar isso como um elogio? Sabe: ele foi tão bem educado que agora está conseguindo ir sozinho para a vida, alçar voo do ninho da águia mãe para fazer o dele e a águia mãe é você! Quem sabe ela não merece uma recompensa – dada por ela mesma – nesta fase da vida para comemorar o sucesso?

    – Hum… nunca pensei desse jeito…

    Eu faço uma comparação tosca – tosca mesmo – entre filhos e empresas. Se uma empresa depois de uns 4, 5 anos ainda precisa do fundador do mesmo jeito que precisava no primeiro ano alguma coisa está errada, com filhos é a mesma coisa: se a criança mantém a dependência dos pais enquanto o tempo vai passando, algo está errado, pois a ideia é que ela vá se tornar cada vez mais independente.

    Os filhos crescem e se desenvolvem e quanto melhor o trabalho for feito, mais eles terão vontades próprias, mais eles terão desejos e mais eles vão concretizar os seus sonhos. Isso no entanto, culminará em um momento no qual o filho diz aos pais: “vou voar”. E aí o tal do “ninho” fica com um passarinho à menos.

    Esta é uma fase importante e que gera um certo estresse no sentido de que toda a família precisa se adaptar à nova fase. Muitas famílias tendem à sabotar o processo, colocar dificuldades e desqualificar as iniciativas pessoais da pessoa o que é problemático. Famílias que trabalham bem com este momento geralmente possuem uma percepção clara de que o fato do filho desejar sair de casa não tem relação pessoal com os progenitores, apenas faz parte do processo.

    No caso que citei acima coloquei uma redefinição que acho muito útil nestes momentos que diz que o filho sair de casa deve ser algo comemorado, pois quer dizer que tudo está correndo muito bem. Assim como o dono da empresa pode relaxar e ir atrás de outros horizontes quando a empresa anda sem ele! Apoiar o filho em suas primeiras tentativas fora de casa é algo importante. Apoiar não quer dizer “fazer por”, mas sim estar presente como um porto seguro, como um conselheiro, como alguém com quem contar e permitir que a pessoa faça o seu caminho. Poder sair de casa sem raiva, sem culpa e sabendo que estão todos torcendo por você é a melhor forma de fazê-lo. Mas… e quem fica?

    Quem fica – os pais – devem saber que este momento chegará e o que ele representa para eles agora. A saída dos filhos pode ser entendida como a fase na qual as pessoas vão começar a modificar a forma de viver. Quanto mais os pais abdicaram da vida pessoal e marital em função dos filhos maiores serão os problemas para quem fica, pois a sua identidade de “pai” ou “mãe” acaba ficando muito forte, muito enraizada e a pessoa sofre muito com a saída dos filhos, acha-os injustos e fica com raiva de um processo que é natural. Para estas pessoas é importante lembrar que sair de casa é algo esperado e que ele deve sempre tomar conta de sua própria vida: ter hobbies, atividades, amigos, interesses pessoais independente dos filhos. Para quem é muito enraizado nos filhos pense da seguinte forma: o que aconteceria se seu filho morresse? – Não, não desejo isso para ninguém, é apenas exercício mental – quando alguém morre temos que retomar nossas vidas, reencontrar nosso sentido de viver por mais difícil que isso seja.

    Assim, para todas as famílias é importante de pensar antecipadamente neste momento para que ele seja o que é: a demonstração de que o filho cresceu e o sistema familiar pode comemorar isso! Os pais devem sempre ter as suas vidas particulares e maritais para que a saída do filho seja meno dolorosa possível e mais alegre possível!

    Abraço

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