• 12 de agosto de 2013

    Desafios do crescimento

    – Minha mãe quer que eu pare a terapia.

    – Ah é, e você?

    – Eu não, me faz bem vir aqui.

    – Perfeito, o que faz ela querer que você pare?

    – Ela diz que eu estou muito agressivo em casa, respondão.

    – E está?

    – Eu acho que estou sim. Na verdade eu tenho me colocado sabe?

    – Sei sim, você tem me contado isso.

    – Mas acho que ela entende isso como “respondão”.

    – É bem provável, o que você pode fazer com isso?

    – Hum… acho que eu posso “responder” de uma outra forma e dizer para ela que não estou fazendo por mal, apenas estou evoluindo…

    – Acho que seria ótimo você experimentar isso e me contar os resultados depois!

    Existe uma crítica que se faz à psicologia no que tange a ajudar as pessoas a serem “elas mesmas”. A crítica consiste em dizer que as pessoas pisam  ou que param de ligar para os outros ao serem “elas mesmas”.

    Certo e errado, vamos conferir?

    “Ser você mesmo” não significa pisar nos outros, na verdade se “ser você mesmo” significa pisar nos outros você não está sendo você mesmo, está apenas vitimizando uma outra pessoa. Nathaniel Branden um psicólogo super conhecido e respeitado no tema da auto-estima diz que uma pessoa com boa auto-estima “não esta em guerra com ninguém” e ao contrário de pisar, ajuda a elevar a auto-estima das outras pessoas – porque quanto mais pessoas com auto-estima elevada, melhor e mais fácil mantermos a nossa elevada também. Assim sendo a crítica não se sustenta porque o objetivo não é pisar em ninguém para crescer, mas sim crescer pelo seu próprio esforço.

    “Parar de ligar” para os outros é um ponto que também não se sustenta. As pessoas, quando começam a crescer emocionalmente tornam-se mais responsáveis com suas próprias vidas, ficam mais bem  humoradas por conseguirem ter mais soluções práticas para viver e acabam tendo mais tempo para compartilhar com aqueles que amam. Elas colocam prioridades em suas vidas e acabam sendo mais eficientes do que antes. Assim, elas não param de ligar para os outros, pelo contrário, lhes sobra mais tempo para conviver com quem querem e lhes fazem bem.

    No entanto…

    Ao crescer as pessoas aprendem a “dar limites”, um limite pode, muitas vezes, ser interpretado como “pisou em mim”. Existe uma diferença entre ser pisado e sentir-se pisado. Isso ocorre, por exemplo, em sistemas familiares nos quais uma pessoa sempre manda e a outra sempre obedece, até que quem obedece sempre resolve crescer e dá um limite do tipo: “eu sei que você quer isso, porém eu vou fazer algo por mim primeiro, depois te faço isso”. Pronto, feito a guerra: “está pisando em mim, começou a  terapia e agora está aí querendo ser toda(o) metida(o), você vai se arrepender”. Se você acha que receber um limite é ser pisado, ora de procurar a sua terapia!

    Ao crescer as pessoas também começam a dar prioridade às coisas e pessoas que lhes fazem bem e começam a se afastar lentamente daquelas que lhes fazem mal. Assim sendo o famoso “não liga mais pra mim” é um fato, porém um fato que deve ser encarado como uma marca de que se a pessoa quer que a outra “ligue” novamente, ela deve se esforçar para ser “melhor”. Certa vez tive que dizer à um cliente: “meu caro, mas veja: sendo chato desta forma não tem como a pessoa querer estar do seu lado mesmo, ela está crescendo e querendo o melhor para ela, se você a quer, dê este melhor”.  Se você percebeu que a pessoa está se afastando, busque entender o que precisa fazer para que a relação de vocês possa ser mais próxima de novo e, novamente, tempo de buscar a sua terapia.

    Concluindo

    Mudanças geram mudanças. Quando crescemos passamos a tomar atitudes diferentes e, muitas vezes, as pessoas que estão acostumadas com nossa forma antiga de ser acabam ficando um tanto sem saber como lidar com a gente. É comum que, para lidar com isso, ataquem nossas mudanças desvalorizando-as. É importante aprender a manter a sua integridade e, assim sendo, lidar contra a desvalorização da mudança.

    Abraço

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