• 23 de agosto de 2013

    Quando a punição recompensa

    – Eu chegava triste em casa e eles me deixavam pior. Se era porque uma menina me deu um fora eu era feio e desajeitado, se era porque fui mal numa prova eu era desleixado!

    – Sabiam te colocar pra baixo é?

    – E como! E daí o pior era assim: quando eu estava me sentindo o pior dos seres eles falavam: ah, mas sorria vá!

    – Hum…

    – Cara… como eu me sentia mal! Sempre assim: davam um tapa e depois um afago.

    – Pois é, ensinaram você direitinho a levar porrada não é mesmo?

    – Sim! Por isso que eu acho que me envolvo nestas relações que eu só me fodo sabe?

    – O que tem a ver uma coisa com a outra?

    – Que a pessoa me fode e daí eu aguento porque fico esperando pela minha recompensa sabe? Tipo: você me esbofeteou, agora – ou daqui a pouco – vai vir e pedir desculpas ou me fazer um afago não vai?

    – Hum… só que não né?

    – Pois é…

    Aprendemos que ser punido faz com que a gente pare de fazer algo errado ou nocivo, porém, as vezes aprendemos a “gostar” de ser punido.

    Tenho visto várias pessoas com este perfil e, por isso, resolvi escrever este post.

    No livro “As vantagens de ser invisível” o professor do personagem principal diz à ele que “aceitamos o amor que achamos que merecemos”. Adoro esta frase, ela sintetiza muitos anos de terapia para inúmeras pessoas. Simples, profunda e verdadeira em vários aspectos a frase pode virar um mote. Aceitar o amor que achamos que merecemos tem a ver com o que achamos que merecemos! Embora possa parecer obvio isto nos remete ao que aprendemos  e repetimos sobre o amor, ser amado e sobre onde nos encaixamos – o que merecemos – nisso.

    Portanto a questão se remete ao aprendizado que tivemos e que matemos em nosso comportamento sobre o amor. A pessoa do exemplo acima, havia aprendido que deveria entrar em relações nas quais as pessoas zombam das dificuldades dela e que ela deveria sorrir quando fizessem isso. Além disso deveria, também, se culpar por não ser perfeita, afinal “era só por causa disso” que as pessoas zombavam dela. Em resumo: dê valor e atenção à quem te desqualifica e zomba de ti, dando à esta pessoa atenção e afeto – e é claro, um sorriso no rosto! Este era o tipo de amor que ela achava que merecia.

    Qual a lição sobre amor que você aprendeu?

    Já no filme “Mouling rouge” a frase é outra: “A coisa mais importante que você poderá aprender é amar e ser amado em troca” – que em inglês fica muito mais sonora: “the greatest thing you´ll ever learn is just to love and be loved in return”, mas ela recairá de uma certa forma no mesmo ponto. A questão é que damos o amor que temos e recebemos o que merecemos. Uma vez conversando com uma colega que se queixava dos homens perguntei o que ela faria se o homem perfeito – perfeito para ela – chegasse e dissesse: te quero. Ela respondeu quase que sem pensar – as melhores, pelo menos mais sinceras respostas – “saia correndo”. O exemplo serve para lembrar que não importa – num primeiro momento – o amor que achamos que é o melhor, mas sim aquele que conseguimos suportar, no qual conseguimos nos ver dentro, como algo real.

    Mas gostaria de tomar a frase do “Mouling rouge” para lembrar que a troca é algo muito importante numa relação. Troca no sentido de eu ter o que preciso para me sentir amado e dar o que o outro precisa para se sentir amado. Esta percepção e compromisso é parte fundamental de um bom relacionamento, algo que vai contra a ideia de “fazer o que eu quero”, pois quando em relação, “o que você quer” ultrapassa o seu desejo individual, torna-se dual e quando digo isso não quero dizer o interesse do outro, mas sim da relação propriamente dita. Não se trata de bom para mim ou bom para você, mas sim de “bom para nós”.

    Suas relações lhe acrescentam ou você sempre se sente dando mais do que recebe?

    Para finalizar o tema de hoje: A punição é uma recompensa quando é ela o que aturamos receber. Ou seja, quando estamos recebendo algo ruim, porém acreditamos, de alguma forma, que isto é o que merecemos está aí a nossa recompensa. Vários fatores podem levar à este fim portanto não vou ficar comentando sobre todos eles, muitos caminhos levam à Roma, o importante é compreender a forma pela qual você faz este caminho. Se compreender isto, poderá começar a mudar.

    Algo que posso “adivinhar”, de antemão é que você deverá trabalhar com sua auto-estima. Neste caso aprende-se à se balizar por baixo – quem é que crê que uma relação ruim é algo bom? Quanto a auto-estima começa a melhorar a pessoa pode dizer que o ruim é ruim e que ela não quer isso. Algo inacessível num primeiro momento, o segundo momento será o de sonhar com algo melhor e então buscar por isso.

    Abraço

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