• 6 de setembro de 2013

    Bloqueios

    – Mas é difícil isso para mim.

    – Você quer dizer que é difícil para você dizer que é bom em algo que é bom?

    – Sim, parece estranho, mas é isso sim.

    – Ok, sem problemas. me diga: o que aconteceria se você conseguisse fazer isso?

    – (pensativo) Acho que eu iria ter muitas brigas.

    – Ah é? Com quem e por qual razão?

    – Acho que com minha família principalmente, agora porque eu não sei dizer ao certo… parece que… é como se eu fosse traí-los.

    – E como uma competência pode ser uma traição?

    – Não sei… acho que porque se eu acreditasse mesmo eu teria ido morar em outra cidade para estudar melhor o assunto sabe?

    – Hum… então você está traindo ou saindo de perto?

    – Para a minha família dá no mesmo.

    – Entendo, e se você pudesse ir para outra cidade sem problemas com eles, será que você continuaria escondendo esta qualidade de você?

    – Acho que não… na verdade, não mesmo!

     

    Muita pessoas dizem: tenho um bloqueio nesta ou naquela área, mas o que isso significa e o que fazer com isso?

     

    Um ponto para começar é diferenciar três frases: “não consigo”, “não posso” e “não quero”.

    “Não consigo” é algo que usamos para nos referirmos à falta de competência. Quando a pessoa diz “não consigo” ela está querendo mostrar que ela não sabe como fazer alguma coisa, que a competência dela, naquela área é restrita e que, por isso, ela não consegue. É algo como “não consigo nadar”, “não consigo dar limites”.

    “Não posso” é algo a ver com permissão. A pessoa, por algum motivo não tem a permissão para executar algo, para aprender algo, para pensar ou sentir algum pensamento ou emoção. Neste caso estamos focando nos valores e crenças, na censura e na permissão que a pessoa tem é um tema que envolve a flexibilidade moral da pessoa.

    “Não quero” tem a ver com o desejo. Portanto, se a pessoa diz não quero ela não possui um bloqueio, ela está apenas fazendo uma escolha. Aí trabalhamos com a aceitação e validação do desejo de não fazer algo, diferenciando “não querer” de ter um bloqueio.

     

    Obviamente “não consigo” e “não posso” podem estar correlacionados, por exemplo: “não consigo falar sobre o que não sei porque acho que isso não é certo”; ou seja, a pessoa não consegue, não tem a competência e considera esta falta de competência algo ético – mesmo que ela soubesse não o faria. Um outro exemplo é o do cliente acima: “ele tem boas capacidades intelectuais e gostaria de trabalhar muito mais com elas fazendo um mestrado em outra cidade, porém ele não se permite, pois ao fazer isso entraria em conflito com sua família; neste caso temos uma pessoa que consegue realizar algo, mas não se permite.

    Distinguir estas duas frases é importante para que compreendamos com mais precisão aonde está o “bloqueio” da pessoa: em ter competência, em uma questão moral ou numa relação entre as duas. Assim podemos definir “bloqueio” como “algo que nos impede de fazer ou perceber outra coisa”, esta “outra coisa” pode ser consciente ou não assim como o “algo que nos impede”. Definindo se o problema é “não consigo” ou “não posso” ou uma mistura entre os dois conseguimos saber o que fazer com o tal “bloqueio”.

     

    Ocorre que se o problema for “não consigo” teremos que trabalhar com a competência da pessoa, ajudá-la a desenvolver recursos, comportamentos, atitudes mentais para conseguir executar algo. Aqui vale lembrar sempre das metas, das razões pelas quais a pessoas deseja conseguir e o que “conseguir” aquilo significa para a pessoa.

    Se a questão for “não posso” teremos que ajudar a pessoa a se permitir realizar o que quer. Teremos que trabalhar com seus valores, crenças e ajudar a flexibilizar suas perspectivas para que ela tenha uma permissão interna de realizar o que deseja. Aqui trabalhamos também com conflitos familiares e competências interpessoais que muitas vezes são a verdadeira causa do “não posso”: dizer não para pais, dar limites em amigos ou conjugues e até mesmo em filhos faz parte de aprender a lidar com o “não posso”. Outras vezes estamos falando simplesmente de uma flexibilização moral: tem pessoas que se sobram em demasia nos campos éticos da vida e acabam assumindo responsabilidades que não são suas.

    Outras vezes trabalhamos com os dois lados ajudando a pessoa a permitir-se e a saber como se faz alguma coisa. Parece óbvio que por não se permitir a pessoa não saiba como se faz, uma vez que nunca fez antes. Assim sendo o processo torna-se mais comprido e – ao mesmo tempo – mais enriquecedor – porque a pessoa aprende duas coisa de uma só vez.

     

    E você: não pode ou não consegue? Liberte-se!

     

    Abraço

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