• 9 de setembro de 2013

    Psicossomática

    – Tenho algo muito bacana pra te contar que eu percebi estes dias.
    – O que foi?
    – Este ano eu não peguei nenhuma gripe!
    – Opa, que bom! Era comum você pegar?
    – Sim, todo ano eu tinha no mínimo do mínimo umas duas. E ficava de cama uns dois dias sempre.
    – Olhe só que evolução!
    – Pois é! E sabe, acho que tem tudo a ver com eu estar bem este ano.
    – Ah é?
    – Sim, porque eu me sinto mais forte sabe? Então, não sei se tem a ver, mas acabou que eu não peguei gripe nenhuma.
    – Creio que alguma coisa tem a ver sim, você começou a praticar exercícios também não é?
    – Sim!
    – E a alimentação?
    – Melhorei também, na verdade foi uma das primeiras coisas que eu senti o efeito da terapia: me cuidar, principalmente da comida.
    – Perfeito!

    A mente pode causar doenças?

    Esta pergunta aparentemente simples envolve uma discussão enorme para a qual a ciência – nem a medicina, nem a psicologia – ainda não possui uma resposta definitiva.
    Ocorre que o tema vai além da mera resposta: sim ou não. Existe no meio disso um “como” o processo ocorre. Aí o problema torna-se mais complexo ainda porque envolve uma questão filosófica sobre: o que de fato é a mente? (ela existe? ela é o nosso cérebro? ela reside na alma?) Ainda não temos uma resposta para esta pergunta, apenas várias e várias conjecturas sobre a natureza da mente e as possíveis relações dela com o corpo – e aqui até cabe a pergunta: a mente é, de fato, separada do corpo? Existem estas duas “coisas” uma chamada corpo e a outra mente ou tudo é uma coisa só?

    Uma das formas de responder – de uma forma rápida para não me delongar num assunto que daria vários livros – a pergunta é afirmar que tanto mente como corpo existem e que o fenômeno que chamamos de “mente” tem uma relação estreita com os processos que ocorrem no cérebro – talvez até o que chamamos de mente seja um “subproduto” desta atividade cerebral. Uma vez que adotamos esta ideia podemos pensar em como a mente influencia a saúde de qualquer pessoa – para o bem ou para o mal.
    Tomando esta ideia como base – uma vez que existem outras teorias – podemos pensar da seguinte forma: o sistema imunológico – responsável pela defesa e equilíbrio do organismo em relação à doenças – seria, de alguma forma influenciado pela atividade da mente – nossos pensamentos, emoções, crenças, relacionamentos e comportamento. A relação não é direta, mas sim indireta – a mente não teria uma atividade direta com o sistema imunológico – da seguinte forma: sabe-se que pensamentos e estados emocionais interferem em processos biológicos como batimento cardíaco, sudorese e estresse. Os sistemas envolvidos nestes processos (sistema nervoso autônomo e sistema endócrino) são mais diretamente afetados pelos nossos pensamentos e emoções e estes sistemas estão diretamente envolvidos com o sistema imunológico. Assim: nossas emoções, pensamentos e comportamentos afetariam o sistema nervoso autônomo e o sistema endócrino de maneira direta e esta influência afetaria o sistema imunológico, afetando, assim, a nossa disposição para doenças ou saúde.

    Uma metáfora que se emprega para pensar o sistema imunológico é da identidade. Esta metáfora se dá porque a atividade deste sistema embora se pareça com a de um exército – defesa do organismo – se dá espelhando o que é conhecido e o que não é conhecido dentro do organismo. Em outras palavras o sistema de “defesa” só ataca aquilo que ele não reconhece como sendo do organismo, como se as células dissessem: “isso não sou eu”, portanto devo atacar.
    Assim sendo a questão do autoconhecimento poderia afetar a forma pela qual o sistema imunológico identifica o que é “eu” e o que não é “eu” através dos mecanismos acima citados. Este processo pode afetar a nossa saúde: resistência à doenças, recuperação de doenças, aumento da saúde, produção de células sanguíneas e outros. Reconhecer os sinais do corpo nos ajuda a aumentar o auto-conhecimento relacionado à nossa biologia, para que você entenda: muitas vezes já tive que mostrar para clientes que o “calorão” que ele sentia era apenas porque a respiração aumentou, que era algo normal e bom, esta pessoa pode incorporar o “calorão” no seu repertório de “eu” e agora, não mais ficaria atenta ou desconfiada do seu calorão. Antes ela via o “calorão” como algo ruim e nocivo, quando, na verdade, era somente uma resposta muito saudável do seu organismo.

    Aumentar o auto-conhecimento faria com que a pessoa organizasse melhor a sua auto-imagem com relação à processos naturais do organismo que mantém o seu equilíbrio e a deixaria atenta para o que afeta este equilíbrio para melhor – gerando mais saúde – ou para pior – debilitando o organismo. Desta forma a “mente” poderia interferir tanto biologicamente – afetando produção de células sanguíneas e de defesa, produção de hormônios e outros processos – como comportamentalmente deixando a pessoa mais envolvida com atitudes que melhorem a sua saúde: pratica de exercícios, melhoria na alimentação, relaxamento muscular, melhor escolha de relacionamentos e outros. E este é o viés que emprego na clínica para compreender e orientar as pessoas em relação à como sua saúde emocional influencia sua saúde biológica, como o cliente do exemplo acima demonstrou a relação que desenvolvemos com nós mesmos pode afetar a nossa saúde física e creio que a forma acima citada é um bom começo de conversa para sabermos “como” isto ocorre.
    Por fim gostaria de dizer aqui que todo o exposto é apenas mais uma ideia e não se trata de uma comprovação científica, afinal de contas não temos ainda um completo conhecimento do sistema imunológico e nem mesmo do que entendemos por “mente” e suas relações com o “corpo”. No entanto, é uma hipótese muito comentada no meio científico e tem feito sentido para muitos pesquisadores. Também quero deixar claro que o aspecto mental não é o único, existem aspectos genéticos e puramente biológicos nesta questão: um vírus continuará sendo um vírus. A psicossomática como o próprio nome diz envolve aspectos biológicos, emocionais, psíquicos, comportamentais e ambientais o que não nos permite cair em reducionismos. Portanto, alerto ao leitor: trate de sua saúde emocional, mas não a tenha como o único meio de obter saúde física, consulte sempre um médico quando tiver um problema de saúde, a mente pode afetar a nossa saúde, porém o biológico também tem o mesmo efeito e precisamos tratar com sabedoria os dois lados da equação.

    Abraço
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