• 23 de setembro de 2013

    Hipnose

    – Eu limpo o piso da minha casa… tem muito ácido ali e eu sinto o cheiro bem forte.
    – Ótimo, muito bem, agora: o que ajuda a diminuir o efeito corrosivo deste ácido?
    – Se eu jogar mais água ele vai se diluir.
    – Consegue imaginar isso?
    – Sim.
    – Perfeito, como está ficando?
    – Mais suave, mais refrescante… agora o ácido está na quantidade certa entende?
    – Sim, você sempre limpa o piso?
    – Sim.
    – Imagine-se, agora, preparando uma nova limpeza, como você faz?
    – Estou indo na dispensa e pegando o esfregão e o ácido para limpar, a mangueira já está aberta lá fora molhando a calçada.
    – Perfeito… o ácido esta guardado aonde?
    – Na caixa dele.
    – Ok, pegue a caixa
    – Ok.
    – Olhe quanto diz que é para pegar de ácido.
    – Ok, vou pegar só aquilo ali mesmo.
    – Ótimo, muito bom, veja qual o efeito na calçada.
    – O mesmo de antes: frescor.
    – Gostaria que prestasse atenção ao seu corpo enquanto limpa com a quantidade certa: sua mente, suas sensações corporais e emoções.
    – Perfeito.
    – O que mais, na sua vida, precisaria da quantidade certa de ácido?
    – O meu estomago.
    – Perfeito, imagine então a quantidade certa e deixe-a preparada antes da refeição. A “mangueira” da saliva já está funcionando?
    – Sim, sinto até um pouco de saliva agora.
    – Excelente, imagine que somente aquela quantidade de ácido é liberada para o seu estomago.
    – Percebi… nossa… me deu uma sensação de que também não posso comer tanto, porque tenho um limite.
    – Muito bom, já resolve dois problemas com um só não é?
    – Pois é…
    – Excelente… imagine agora esta cena da mesa, como se sente?
    – Mais tranquilo, por incrível que pareça.

    A hipnose tem sido alvo de muita discussão. Na história da psicologia ela já foi de heroína à vilã várias vezes. Neste post
    procuro apresentar a forma pela qual entendemos a hipnose na Akim Neto Psicologia Clínica.

    A hipnose trabalha com o que chamamos de estado alterado de consciência. Isso não é nada místico ou perigoso, na verdade, você faz isso espontaneamente todos os dias, várias vezes por dia. Alguns pesquisadores entendem que sem isso, inclusive, você não conseguiria sobreviver. É quando, por exemplo, você se pega imaginando suas férias e chega até a sentir a sensação da calor da praia: aquilo não está ocorrendo “de verdade”, mas a sensação é tal como. No seu cérebro a sensação é praticamente a mesma, ele não distingue o real do imaginário muito bem, se ele percebe a sensação ela “torna-se real”.

    A hipnose vai se utilizar desta capacidade humana buscando acompanhá-la para atingir estados alterados que conduzam a pessoa à uma nova percepção de seus problemas, por exemplo. Note que usei a palavra “acompanhá-la”. Na hipnose, hoje, usamos esta ideia ao invés da ideia de “indução”, não induzimos a pessoa à nada, acompanhamos o seu ritmo natural e, conhecendo este ritmo, usamos ele para fazer sugestões que serão ou não usadas pela mente da pessoa para gerar melhorias.

    Outro termo importante: sugestões. Nossa mente inconsciente é altamente defensiva, ela não permite que ninguém lhe cause dano a não ser que você aceite receber este dano. Uma de suas funções primordiais é a defesa do organismo, assim sendo nada que um hipnólogo lhe diga será aceito se você não possuir uma disposição para aceitar isso de antemão. Daí que os hipnólogos não criam nada na mente da pessoa que não fosse possível criar.

    As sugestões, em geral, são dadas usando uma linguagem que chamamos de “metafórica”, na qual a imaginação da pessoa é empregada para realizar processos de mudança e de percepção. Cria-se uma história, uma metáfora análoga ao problema ou situação que a pessoa está querendo trabalhar assim como no exemplo acima em que a digestão da pessoa foi comparada ao processo de limpeza da sua casa. Depois da sessão pedi que ele refizesse em casa a mesma imaginação que fizemos nos consultório antes das refeições e ele declarou após uma semana que havia tido melhorias muito boas, sentiu a dor no estomago apenas em um dia ao invés de praticamente todos os dias. Com o tempo pedi que ele fosse retirando a medicação contra acidez – em conjunto com o médico que autorizou a experiência – e os resultados se mantiveram.

    O autor que seguimos aqui chama-se Milton H. Erickson, um grande psiquiatra e hipnólogo americano que começou a sua carreira com ele mesmo, realizando mudanças em sua saúde precária através das técnicas que mais tarde ele usaria em seus clientes e ensinaria em seus workshops.
    A hipnose tem eficácia comprovada, não é invasiva, pois trabalha com os conteúdos, ritmos e metáforas que fazem sentido para a pessoa – na verdade é mais ela quem conduz do que o hipnólogo que se torna um condutor ao invés de um autor. Obviamente existem pessoas que desejam usar a hipnose para tudo – o que não dá certo – o próprio Milton Erickson não a usava como uma panaceia tendo sempre outros recursos à mão.

    Abraço
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