• 2 de outubro de 2013

    Escolhas e mais escolhas

    Este cliente trouxe à tona um dado que passa totalmente desapercebido hoje em dia: temos um excesso de escolhas. Quando digo excesso me refiro ao fato como nocivo para o ser humano. Vários estudos mostraram que não conseguimos computar um número muito alto de elementos para realizarmos uma escolha, na verdade sabe-se que um número “humanamente possível” é entre 5 e 9 elementos, sendo que quanto mais elementos, pior fica a escolha.

    Ocorre que vivemos numa era em que cada vez mais temos mais escolhas, o número 5 ou 9 são ridículos hoje perante a enorme gama de escolhas oferecidas. O mesmo vale para relacionamentos, estudos também mostram que “quanto mais pior” visto que existem elementos da escolha que precisam ser experimentados e se a pessoa tiver um número muito alto de pretendentes ela não conseguirá extrair a experiência que necessita para realizar uma escolha bem fundamentada.

    Tentando nos adaptar à este panorama começamos a realizar escolhas de várias formas diferentes, não porque precisamos, mas para suprir uma demanda cada vez mais crescente que nos diz que precisamos fazer estas escolhas. Em meu consultório percebo que as pessoas tem trazido uma grande confusão entre querer, gostar, se interessar, desejar; assumem tudo como uma coisa só e isso apenas complica a situação. Esta postagem visa ajudar um pouco a fazer uma diferenciação entre estes elementos.


    Gostar é algo que envolve um julgamento associado à prazer. Ninguém gosta de algo que não lhe dá prazer – embora algumas pessoas saibam apreciar um prazer tardio, que vem após uma ação não prazerosa, seria o que podemos chamar de “prazer à longo prazo” – porque o critério de “gostar” tem a ver justamente com o prazer. É prazeroso para mim, então associo um gostar, um agrado, um conforto.

    Interesse não tem necessariamente a ver com o prazer, pode, inclusive, ser o oposto. A pessoa pode ter um profundo interesse em um tema, por exemplo, que lhe traz desconforto algo como “não gosto, mas acho muito interessante isso”. Interessar tem mais a ver com atenção e curiosidade, por isso não envolve o prazer. A pessoa se interessa por algo que chama a sua atenção ou por algo que a deixa curiosa.

    Desejo não tem a ver com interesse ou com prazer. É um evento de outra ordem completamente diferente. O desejo tem a ver com intenção e com vontade. A pessoa pode desejar algo que não gosta ou que não lhe traz interesse de forma direta – vejo isso o tempo todo em consultório nas relações afetivas. “Não sei porque, mas estou com uma vontade de comer x… e eu nem gosto de x” este é um dos efeitos do desejo. O desejo também tem uma outra característica: é algo que é mais demorado, em relação ao tempo. Geralmente o desejo é algo que “se desenvolve” dentro da pessoa aos poucos até se transformar em um movimento voluntário e criterioso, existe um sentido, uma intenção – mesmo inconsciente – no desejo que o torna muito forte.

    Querer é um primo do desejo. Ele assume algo também no sentido de intenção e vontade porém de uma forma menos vigorosa. O “querer” tem mais a ver com um desejo que se você não realizar passa de forma rápida. É mais volúvel que o desejo, o qual possui uma intenção forte.

    Assim sendo é possível que eu goste de algo, mas não deseje aquilo. É possível me interessar por algo que sei que não vou gostar ou querer. Também é possível que eu queira algo que não gosto ou que não me causa interesse nenhum. Embora estas frases possam parecer totalmente ilógicas num primeiro momento, avalie bem o seu dia a dia e perceba que você já faz este tipo de escolhas. Uma muito comum em consultório é: “eu queria ir na festa, mas meu namorado não, então escolhi ficar com ele para não causar briga”, a pessoa quer ir na festa, mas sua escolha é não brigar, embora ela não goste desta escolha ela a fez por ser mais interessante não brigar do que ir à festa e brigar.

    Se eu gosto de comer massas e resolvo realizar um regime vou ter que aprender a fazer algo que não gosto que é diminuir a quantidade de massa que consumo. Neste caso realizar algo que não gosto é conveniente e visa ajuda a pessoa no seu desejo de emagrecer, algo que ela não gosta de fazer, mas vê que é o adequado, por exemplo.

    Achar tudo muito interessante pode ser um grande problema, a pessoa com muitos interesses tem dificuldade de escolher um conjugue, uma profissão, uma área de especialização. Pode ser adequado deixar de lado os interesses por um momento e pensar no que ela gosta de fazer em conjunto com a realidade que quer para ela.

    Estes foram alguns exemplos de como querer, desejo, gostar e interessar são diferentes. Embora sejam usados como sinônimos na linguagem comum, vale lembrar que sinônimo não é idêntico e por isso é importante prestar atenção ao que você está sentindo em relação à sua escolha. Para quem quer saber ainda mais sobre o assunto recomendo um livro chamado “Qual é a tua obra” de Mário Sérgio Cortella.

    Abraço

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