• 9 de outubro de 2013

    Não sou eu

    – É que este estado de energia não combina comigo sabe? Estou meio assustado!

    – Ah é? Olhe que coisa!

    – Mas é Akim, não fale assim… eu não sei mesmo o que está acontecendo comigo.

    – O que está acontecendo com você?

    – Eu estou dizendo coisas que não dizia, fazendo coisas que não fazia e o pior é que pelo menos no momento eu me sinto muito bem fazendo isso.

    – Tem tido mais disposição no dia a dia e se sentido mais leve também?

    – Sim!! Pelo menos acho que é isso… eu não sei se não estou tendo tipo uma crise de pânico.

    – Longe disso! Você sempre foi o cara mais “pacato” não é mesmo?

    – Sim, até meio que por isso que te procurei.

    – Pois é! E ao longo do trabalho fomos vendo quantas “travas” você tinhas não é mesmo?

    – Sim.

    – E você se dispôs a destravar não é mesmo?

    – É.

    – E agora tá aí o resultado oras! (risos) Você com mais energia, “destravado”, ainda não se reconhece nessa nova atitude e energia?

    – Acho que não viu?

    – Não tem problema, o tema é: aceite o que estiver vindo!

    Muitos clientes me dizem em vários momentos da terapia: “mas isso não sou eu”, “eu não sou assim”, “não é do meu feitio” e frases do tipo.

    O que significam? O que podemos fazer com elas?

    Em geral uma frase como essa aparece quando a pessoa se deu conta de que fez, sentiu ou pensou algo muito diferente do seu habitual. Uma atitude que não combina com a imagem que ela faz de si mesma e que, portanto a consciência tende à rejeitar. O processo terapêutico em geral ajuda a pessoa a ampliar a sua percepção de eu de modo que cada vez ela possa enxergar mais detalhes sobre o seu jeito de se comportar, pensar, reagir e sentir e este processo, muitas vezes, leva a pessoa a perceber partes que não se encaixam com o que ela pensava de si, que extrapolam a identidade com a qual ela se julgava. Algumas vezes a pessoa percebe coisas que não gosta, outras vezes percebe que tem mais potenciais do que achava ter e em algumas percebe coisas que nem sabe como classificar. Este é um dos passos fundamentais para a mudança.

    Porém, resta um segundo passo que é aceitar aquilo que a pessoa está percebendo. Resolvi trazer o caso acima por se tratar de algo diferente do senso comum. Em geral as pessoas acham que temos dificuldade em aceitar aquilo que não gostamos em nós mesmos, mas às vezes é o contrário: temos dificuldade de aceitar coisas boas à nosso respeito também. O rapaz do caso acima, por exemplo, não conseguia imaginar a quantidade de energia disponível que ele tinha guardada dentro de si sem dar uso, quando ele começou a perceber isso, achou que ia ter uma crise de ansiedade! E isso não é de se espantar porque a auto-imagem dele falava que ele era quieto e introspectivo, de “baixa energia” e não uma pessoa “radiante” como mais tarde ele passou a se perceber.

    O problema da aceitação está, em primeiro lugar na flexibilidade para alterarmos a nossa concepção de nós mesmos tendo por base a realidade, novos fatos que vem até nós. Muitas pessoas ficam tão arraigadas às suas percepções empobrecidas delas mesmas que não conseguem mudar o ponto de vista, colocar mais elementos, mesmo que seja para uma melhor qualidade de vida. Desejam tapar o sol com a peneira e manter as  suas histórias do jeito como estão.

    O respeito pela realidade, pelos fatos é um fundamento da boa auto-estima e é com este respeito que devemos organizar a nossa percepção de “eu”. Me lembro de um outro caso de um rapaz bonito que achava que nenhuma mulher olhava para ele num bar, por exemplo. Ele tinha sido um “gordinho” quando pequeno, mas agora já era um homem muito bem apessoado, no entanto, a sua percepção de si ainda era do gordinho de 20 anos atrás, foi muito interessante ele começar a mudar a sua percepção tomando por base olhares reais que as mulheres davam à ele. Uma vez, me segredou: “achei bizarro quando eu dei uma olhada para trás e vi que elas ainda estavam olhando, não sabia onde enfiar a cara”.

    Treinar o nosso respeito pela realidade é buscarmos prestar atenção à nossa experiência tal como ela é hoje, buscar perceber de forma realista os resultados que temos tido com nossas atitudes e para onde, de fato, nossos pensamentos e ações tem nos conduzido. É olhar e ouvir ao invés de fantasiar e “achar que” e começar a usar este tipo de informação como base para construir nossas conclusões e nossas novas ações no mundo e com nós mesmos. Tinha um cliente que começou a fazer isso ao pé da letra e voltou duas semanas depois um tanto assustado: “Akim, metade dos meus problemas se resolveram só com isso, a outra metade dobrou de tamanho”, ele queria dizer que percebeu que muitos problemas que ele achava que eram fundamentais eram apenas uma parte da fantasia dele, a outra parte era a  que realmente importava.

    Ao realizar este treinamento com você, pratique o seguinte exercício: busque na sua memória o maior número de situações que você viveu, busque pelas situações antagônicas nas quais você teve um comportamento completamente diferente do outro, lembre-se de você na situação, viva novamente a situação e se diga: isso também sou eu. Anote em uma folha de papel isto e, depois  de fazer o exercício releia tudo o que escreveu se dizendo “isso também sou eu, me aceito com isso”. Lembrando que aceitar e gostar são coisas diferentes, mas que aceitar é o primeiro requisito para mudar afinal o que não aceitamos não existe para nós e nossa mente não se ocupa do que não existe.

    Abraço

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