• 30 de outubro de 2013

    Humilhação

    – Me senti humilhado…

    – Imagino…

    – O que eu faço?

    – O que você já fez com isso?

    – Na hora não consegui fazer muita coisa, continuei como se nada tivesse acontecido.

    – E agora, o que está fazendo?

    – Nada.

    – Então continua agindo como se nada tivesse acontecido?

    – Parece que sim né?

    – Pois é… mas se você agir assim, como vai se dizer que algo aconteceu?

    – Acho que daí não me digo né?

    – Não… o que você quer fazer com o que viveu?

    – Quero aprender…

    – O que?

    – A não passar por aquilo novamente

    – Não dá para dizer se você vai ou não passar por situação semelhante, não tem como prever, mas quem sabe não viver aí dentro aquilo novamente?

    – É, acho que tem razão… eu até estava começando a me culpar hoje, mesmo sabendo que eu não tenho culpa nenhuma!

    – Pois é… quando a gente finge de forma verdadeira a mentira vira verdade!

    – Quero aprender a me defender daquilo e se tiver que passar por isso de novo que eu aja diferente! Chega de ser humilhado e ficar quieto, vou tomar atitudes!

    – Perfeito!

    Sentir-se humilhado e colocar-se no papel de humilhado são duas coisas muito diferentes.

    Ser humilhado por alguém é estar em uma situação a qual ou na qual a dignidade da pessoa é atacada de forma cruel e sem possibilidade de defesa. É importante destacar isso, porque muitas vezes a “humilhação” é simplesmente uma falta de competência da pessoa em se defender, porém quando a possibilidade de defesa é negada por coerção a pessoa está sendo, de fato, humilhada.

    Colocar-se no papel de humilhado, por outro lado, é algo muito mais sutil e que tem a ver com a capacidade da pessoa de compreender o que está acontecendo com ela, suas possibilidades de ação no contexto, a atitude e competência em tomar estas ações, com sua habilidade em manter sua integridade e com a sua auto imagem.

    Os judeus nos campos de concentração são um exemplo rico para trabalhar com esta questão. Obviamente as condições nas quais eles estavam e o contexto eram não apenas de humilhação, mas de degradação da própria condição humana. Eram escravos ou pior. Muitos judeus, no entanto, não perderam a sua dignidade, mesmo em meio à toda esta desgraça, como pode?

    A maior parte das pessoas que não deterioraram a sua auto estima trabalharam com os elementos que citei acima:

    Compreender o que está acontecendo com ela: a pessoa coloca-se em contato com a realidade, sabe o que está acontecendo e dá a dimensão real para o que lhe acontece.

    Perceber as possibilidades de ação no contexto: muitos judeus dizem que escaparam da degradação moral com o pensamento de que aquilo tudo iria terminar e quando isso acontecesse eles iriam reconstruir suas vidas. A possibilidade deles no contexto era apenas esta sonhar e manter a esperança, não culparam-se pelo que lhes aconteceu, apenas seguiam da forma que era possível (real).

    Manter a integridade e a auto imagem: uma terapeuta viveu nos campos de concentração e disse que quando pegavam o seu sangue para fazer experiências ela se dizia: podem pegar, sou contra a guerra então o meu sangue vai atrapalhar vocês”. Esta forma de encarar a situação mantinha a integridade dela mesmo no meio de todo aquele caos.

    A parte fundamental é a seguinte: existe uma parte da humilhação que é provocada pela própria pessoa que “é humilhada” quando ela aceita a humilhação e se coloca no papel de “ser” humilhado. Quando a sua auto imagem se transforma na imagem de um ser que pode sofrer este tipo de ação, ela não irá mais manter seus sonhos, esperanças, não vai perceber a realidade de uma forma clara, não irá se colocar no contexto de forma adequada e irá se colocar de forma à receber a humilhação.

    O contra-exemplo é um que vejo muito em consultório. Dentro dos padrões de nossa sociedade um homem branco na faixa dos 35 anos com um bom emprego não é um alvo fácil de humilhação, porém na realidade vejo muitos homens com esta descrição com uma auto estima frágil que os coloca como alvos fáceis – deles mesmo – de se colocarem em papel de “passivo de humilhação”.

    Para sairmos da humilhação é importante termos a coragem de seguir nosso coração. Isso significa termos nossos critérios e nossa auto imagem bem definidos para que mesmo que nos encontremos numa situação humilhante podermos sair de “cabeça erguida”.

    Abraço

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