– Minha namorada reclama que eu estou sempre insatisfeito sabe?
– Sei e o que você acha da reclamação dela?
– Não acho que ela está errada não sabe?
– Sim. O que te faz estar sempre insatisfeito?
– Não sei…
– Sabe sim, pensa!
– É como se eu tivesse algo dentro de mim que fica me incomodando sabe?
– Uma pedra no sapato é? Qual seria o nome desta pedra?
– Pois é… a sensação de que a vida está sendo jogada fora entende?
– Entendo… o que motiva essa sensação?
– Acho que… ah… sei lá…
– Diga
– Tem a ver com as coisas que eu não faço não é?
– Tem e mais alguma coisa: como você fica com você mesmo por não fazer essas coisas?
– Me sinto mal…
– Pois é… e daí, onde que isso aparece?
– Em tudo… melhor dizendo… eu fico vendo defeito em tudo para não ver em mim né?
– O que te parece?
– Pois é…
– Como seria se você estivesse fazendo o que você quer fazer?
– Eu acho que eu ficaria mais relaxado depois do trabalho… sentiria que a coisa está andando e me permitiria relaxar sabe? Algo como: “você merece”.
– Sei… que tal se comprometer com isso?
– Me parece bom…
“A culpa é minha e eu jogo em quem eu quiser” Homer J. Simpson.
Muitas pessoas desenvolvem o hábito de culpabilizar e criticar outras pessoas assim como as situações pelas quais passam. São altamente críticas em relação ao mundo em que vivem e às pessoas com quem convivem. No consultório percebo que este comportamento de crítica excessiva e insatisfação tem a ver com desejos pessoais que a pessoa não realiza seja por medo, timidez ou culpa, por exemplo.
Em geral quando a pessoa deixa seus desejos e vontades de lado ou aprende a classificá-los como inúteis ou sem-valor ela passa a não realizar-se no mundo, ou seja, passa a viver uma vida que não lhe é “própria” e, com isso, os valores e estéticas externas passam a contar muito mais do que as internas. O problema com isso é que ela passa a julgar o mundo e as pessoas de acordo com o mesmo critério e, então, estabelece padrões extremamente elevados para tudo e, com isto, fica fácil ser altamente crítico, pois se perde a noção de “níveis” e passa-se a julgar tudo como uma “meta padrão” – como se todos devessem seguir o mesmo padrão de perfeição.
Quanto mais a pessoa entra em contato com ela mesma, mais pode perceber e se relacionar novamente com desejos deixados de lado ao longo dos anos e começar a criar a competência para colocá-los em prática. Na medida em que isso ocorre ela pode perceber como sua auto estima era frágil porque não fora baseada no seu próprio raciocínio e sim no pensamento de terceiros. Começar a valorizar o desejo pessoal e a criar a competência – e a coragem – para construí-lo fortalece a auto estima da pessoa e a faz poder usar sua energia em atividades construtivas ao invés de críticas. Mais de uma vez já vi pessoas altamente críticas ajudando alguém a construir seus projetos e dando sugestões criativas ao invés de criticarem depois que começaram a viver a sua própria vida.
A crítica excessiva relaciona-se com a baixa auto estima de forma muito estreita. A pessoa que faz críticas de forma humilhante está, na verdade, usando as palavras para rebaixar os outros. Este rebaixamento tem a intenção velada de colocar todos abaixo ou no mesmo nível de auto estima que a pessoa que fez o crítica está. Algo como: já que não estou onde quero estar, vou colocar todos aqui em baixo junto comigo. Como disse Homer Simpson “a culpa é minha e coloco em quem eu quero”, a ideia da terapia é assumir que a culpa é sua e de mais ninguém, critique o mundo se quiser, o vazio continua sendo seu e, ao aceitar que a culpa é sua, poder colocá-la na pessoa certa: você mesmo.
Culpa do que? Culpa é uma sensação positiva quando tem a ver com a nossa falta de compromisso com nossos valores pessoais. Toda vez que eu passo por cima – voluntariamente – de algo que eu mesmo julgo correto, é adequado sentir culpa. No entanto, lidar com a culpa de forma adequada também é importante: ao perceber seu erro é importante comprometer-se à sanar os possíveis danos – caso seja realizável isso – e comprometer-se à nunca mais realizar isso novamente, além de desculpar-se com alguém no caso de ter terceiros envolvidos.
A “culpa” neste caso, em geral, tem a ver com as necessidades, desejos e ideias próprias que a pessoa não realiza ou nega. Isso é veneno para a alma e a auto estima pois a pessoa perde seu respeito próprio. Uma vez que isso ocorre ela passa a se defender atrás de suas ideias de valor estético e moral altamente desenvolvidos – e muitas vezes não seguidos por ela mesma. É a pessoa que não se relaciona porque “todos são bobos”, “o mundo é muito patético” e uma série enorme de discursos que, ao final, mostram apenas um fato: de que a pessoa não consegue relacionar-se e nem mesmo expressar o seu desejo neste mundo.
Assim sendo, ao invés de criticar, perceba o que de você existe nesta crítica. Pergunte-se de que forma isto que vejo está me incomodando e o que este incomodo tem a ver com as atividades que não pratico, os valores que não coloco em prática, os desejos que ficam para trás?
Abraço
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