– Não consigo me entregar…
– Sim, eu sei. Me diga: qual o seu problema com isso?
– Não posso confiar nas pessoas sabe?
– Sei… bem, considerando que “você” é uma pessoa, posso entender que você não pode confiar em você mesma?
– Em mim eu posso né? Eu acho…
– Acha?
– Ah, sei lá… tipo, eu não me abro porque não quero sofrer ou me enganar.
– Sei… e caso isso ocorresse, saberia se virar?
– Não sei.
– Não sabe e prefere não ter que se deparar com isso?
– Algo assim…
– O que você me diz da sua capacidade de se reerguer?
– Nada… não sei se posso… sei lá…
– Confuso não é mesmo?
– Sim… parecia tão simples…
– É simples… o problema com os outros é que eles podem te ferir e podem mesmo. Mas se você sabe se proteger, qual o problema?
– Pois é… eu não sei…
– Exato, daí a pergunta: você tem que se entregar para quem? Os outros ou para você mesma?
Antes de termos intimidade com alguém, temos que tê-la conosco. Ninguém ensina matemática se não souber matemática, ninguém se mostra à alguém se não se conhece.
Quando as pessoas dizem que tem “medo de se entregar” o problema não são os outros, mas sim a própria pessoa. Ela não sabe como lidar com as emoções que carrega dentro de si e tem medo que a relação com alguém possa vir a desencadear estas emoções. Não é, como se diz por aí, o medo do desconhecido, mas sim o medo da fantasia que a pessoa carrega consigo sobre suas próprias emoções e reações.
A entrega só ocorre quando se confia e se não confiamos plenamente em nós mesmos e em nossa capacidade de sustentar uma relação ou de sair dela, acabamos temendo entrar em algo que não damos conta. Por um lado, uma atitude saudável pois nos afasta do perigo, por outro lado se a pessoa colocar isso como uma desculpa para o resto de sua vida não conseguirá se desenvolver plenamente.
Podemos dizer que o relaxamento é um sinal de uma pessoa “entregue”, relaxamento no sentido de que a pessoa não tem nada a esconder de si mesma, por isso ela relaxa no fluxo de seus sentimentos e pensamentos. Ela pode sentir emoções antagônicas, por exemplo, sem medo delas, pois tem um bom diálogo interno para encontrar uma forma adequada de auto expressão.
Uma outra característica é a responsabilidade pelo que a pessoa faz, pensa e sente. Se você se entrega, também toma nas mãos a decisão de usar e de concretizar aquilo que você recebe de seu próprio processo interno ao invés de negar ou negligenciar. Quando a pessoa age desta forma está construindo sabedoria interna para relacionar-se consigo e saber de seus limites com os outros.
Além disso, quem está entregue à si, está em contato profundo com o mundo também. Longe de ser uma pessoa “em-si-mesmada” quem sabe se entregar consegue, justamente por causa disso, aproveitar o mundo: ela não tem medos que a impeçam de ir em direção ao que quer e se tiver, saberá como lidar com eles para conseguir o que deseja. Os problemas e dificuldades do mundo se tornam desafios aos quais ela escolhe se lançar e, com isso, ela termina por manter uma boa relação com o real, sempre respeitando o que vê e não aquilo que gostaria de ver.
E você, se entrega?
Abraço
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