– Pois é Akim, mas daí fica ele lá me enchendo o saco sabe?
– Sei sim… o que você acha sobre ele ficar verificando as suas finanças?
– Acho um abuso! Tipo invasão de privacidade entende?
– Claro que sim, é realmente uma coisa chata.
– Se é.
– Por outro lado, o que será que, no teu comportamento, auxilia ele a fazer isso?
– Como assim? Não tem nada! Tipo ele invade porque é sem noção mesmo!
– Concordo que ele tem uma parte nisso, porém, não consigo parar de pensar em você me falando sobre a culpa que você sente quando faz gastos que não precisa, quando atrasa pagamentos só por preguiça e quando diz que inventa desculpas par agastar um dinheiro que não pode gastar. O que será que isso tem a ver com o comportamento dele?
– Ah… não sei… ele fica controlando né?
– Sim, coloque-se no lugar dele; não é provável que você iria vigiá-lo de perto também…
– É… mais ou menos… você tá querendo dizer que eu meio que provoco isso?
– O comportamento da gente sempre gera respostas nos outros… se você não quer alguém bisbilhotando a sua conta primeiro dê um bom motivo para essa pessoa não fazer isso.
– Ah, mas… ele não deveria fazer isso!
– Concordo e nem você fazer o que faz com o seu dinheiro não é mesmo?
– É… isso é verdade…
As pessoas desejam liberdade. Porém liberdade não significa “fazer o que eu quero”, esta é apenas a primeira parte da equação. A segunda tem a ver com: porque quero? Quais o resultados estou atingindo? Ou seja, liberdade não tem apenas a ver com a escolha, mas com tudo o que vem antes – planejamento, desejo – e com o que vem depois – resultados e consequências.
Por isso existe aquele ditado que diz que o preço da liberdade é a eterna vigilância. Vigiar o que? Os motivos, os meios e os resultados para checar se eles tem atingido os fins para os quais foram propostos. Por esta razão liberdade e responsabilidade andam de mãos dadas o tempo todo. Ao escolher a pessoa torna-se responsável pela escolha que faz, pela forma que executa o que deseja e pelas consequências que obtém.
Devo concordar com que fizer a critica de que o meio também influencia os resultados. Com toda certeza nenhum ser humano é capaz de prever e responsabilizar-se por tudo. No entanto, é importante salientar que embora o meio exerça influencia o indivíduo também o faz e é sobre isto que estamos falando aqui: sobre a responsabilidade sobre o que é possível à pessoa.
No caso acima, por exemplo, embora a pessoa estivesse correta em afirmar que seu parceiro “invadia a privacidade” dela ela também estava comportando-se de uma maneira que “justificava” o comportamento do companheiro. Muitas pessoas reclamam das relações que tem e dos resultados que alcançam nestas relações sem parar para “vigiar” qual o comportamento que tem tido nas mesmas. Reclamam dos resultados, porém não verificam os meios e às vezes os objetivos que possuem.
Nossa cultura de consumo rápido tem distorcido a palavra liberdade e a palavra escolha. Associam a liberdade com o ato de escolher e o ato de escolher com o ato de comprar – seja o que for: um carro, um serviço de massagem ou uma viagem. Porém a escolha vai muito além de compras: escolhemos a forma de nos relacionar com as pessoas, nossa forma de pensar, as atitudes que temos e as que não temos, aquilo que dizemos e o que resolvemos não dizer. Neste campo o número de escolhas que fazemos é infinitamente maior do que as compras que realizamos.
Nosso estilo de vida não se mostra com o que temos, mas sim com a forma pela qual agimos nas várias áreas de nossa vida. A prova disso é que é possível ter várias pessoas que compram as mesmas coisas, mas que vivem vidas muito diferentes. Escolher é a forma pela qual exercemos nossa liberdade e responsabilizar-nos pelas escolhas que fazemos é tratar esta liberdade com o respeito que ela merece.
Abraço
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