– E já estou farta desta história de ele querer trabalhar sabe?
– Ah é, porque?
– Onde já se viu uma moça na idade dela querer trabalhar Akim?
– Complicado. Mas me parece que ela tem iniciativa afinal de contas não?
– Como assim?
– Ora, semana passada você reclamava que a sua filha era muito “bunda mole”, mas não me parece isso, afinal, que “bunda mole” quer trabalhar?
– Hum… é verdade…
– Já parou para pensar que você, de um lado cobra uma coisa e de outra cobra o oposto?
– Agora que você disse… sim, entendo.
– Pois é… como você acha que ela se sente com isso?
– Bem, eu me sentiria confuso!
– Pois é… a sua filha não é bunda mole, está apenas confusa com você!
Um dos comportamentos humanos mais devastadores é a ambiguidade. Dizer uma coisa e logo depois afirmar o seu contrário.
Paul Watzlavick e seu grupo estudaram a fundo este comportamento e mostraram como a comunicação ambígua pode inclusive “enlouquecer” as pessoas. Porque ela é tão devastadora?
Qualquer pessoa que já passou pela experiência sabe que quando você está em uma situação ambígua é impossível ter a noção adequada do que fazer. A comunicação ambígua faz com que dois opostos sejam ao mesmo tempo falsos e verdadeiros e, com isso, eles minam a possibilidade humana de tomar uma decisão adequada.
Um exemplo clássico da ambiguidade é em relação à independência dos filhos. Os pais dizem, de um lado, cresça e vá para o mundo e, de outro, os filhos abandonam os pais. Assim cria-se uma situação ambígua porque o pai diz: “faça o certo meu filho, vá para o mundo” e ao mesmo tempo afirma “você está me abandonando”. O que a pessoa está ,de fato fazendo? Indo para o mundo ou abandonando? Fazer o certo significa, ao mesmo tempo, errar. Assim sendo, como decidir? Este é o paradoxo que a comunicação ambígua coloca.
Em geral a pessoa que está envolvida não percebe que está envolvida. O cenário é tão próximo e tão familiar que ela simplesmente acaba se culpando ou culpando o mundo por serem tão complexos e difíceis. A ambiguidade coloca a pessoa na difícil escolha de escolher o pior, independentemente do que escolha e isso mina a auto estima pois a pessoa passa a ter uma desconfiança eterna de suas escolhas.
A saída está em perceber – geralmente com a ajuda de um terapeuta – a comunicação ambígua e, com isso, conseguir criar novos discursos. Em geral, a saída está na meta comunicação, ou seja, não ter que decidir entre sair de casa ou não sair, mas sim em se colocar dizendo, por exemplo: “pai, você percebe que se eu sair estou saindo e fazendo o certo e ao mesmo tempo fazendo o errado? O que você, de fato, quer de mim?” Quando a pessoa fala sobre o cenário ao invés de falar sobre o conteúdo ela sai da situação ambígua e começa a explorar novas formas de relação.
Esta maneira de agir faz com que o paradoxo se destrua porque agora ele está sendo visto. É como se a pessoa parasse de tentar responder a pergunta e dissesse: “a sua pergunta está mal feita”. Com isso sai da necessidade de responder e coloca o outro na situação de definir ou redefinir o que deseja. Isto muda a relação e muda a comunicação entre as partes.
Abraço
Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br