• 23 de dezembro de 2013

    Fabricando culpa

    – E daí eu fico muito braba com isso, me dá uma raiva.

    – Sei, e o que te dá vontade de fazer com isso?

    – Cara… a vontade era enfiar a mão na cara dela!

    – Você se imagina fazendo isso?

    – Já imaginei isso sim, mais de uma vez.

    – Em estado associado? Como se você estivesse na cena mesmo?

    – Sim… em primeiríssima pessoa.

    – E como você se sente quando pensa nisso?

    – Ah, na hora da um alívio, mas é meio constrangedor não é mesmo?

    – De fato, porém é a única resposta que você consegue dar não é mesmo?

    – É… eu não me permito dar os limites né?

    – Pois é, e acaba fazendo esta fantasia destrutiva na sua cabeça.

    – E é complicado porque eu não vou fazer isso… e acabo de mãos atadas e me sentindo culpado.

    – Sim, de algo que você não fez ainda!

    – Pois é!

    A culpa é um sentimento corrosivo? Particularmente não acho a culpa algo prazeroso, no entanto, ela é uma emoção importante para nós.

    O que a culpa quer dizer? Que sinto que cometi uma falta, um erro passível até de punição. Não há nada de errado com isso à meu ver. O problema é quando a pessoa se afunda na culpa e generaliza a culpa para a sua personalidade, algo como: “fiz isso, portanto eu sou uma pessoa desprezível”, mas isso não é responsabilidade da culpa e sim da falta de percepção da pessoa que é bem radical neste sentido.

    Muitas vezes nos sentimos culpados por coisas que fizemos. Atitudes e comportamentos que não foram adequados segundo os nossos próprios critérios. Em outras, no entanto, a culpa vem de coisas que “não fizemos”. Como assim? Muitas vezes as pessoas imaginam uma dada situação, criam ela em sua mente e vivem ela como se fosse realidade – o cérebro não distingue o real de imaginário, para ele só existe o real, então se pensamos em algo é, para nós, como se fosse verdade. Isso é o mecanismo que explica porque sentimos medo de um filme de ficção, por exemplo, sabemos que é irreal, mas sentimos o medo da mesma forma – e quando se vive a fantasia tal como real podemos sentir culpa de algo que imaginamos ter feito.

    Muitas culpas são criadas desta forma. Um exemplo clássico é o do filho(a) que tem medo de ter matado o pai ou a mãe. Na sua fantasia ele(a) é o(a) assassino(a) do pai ou da mãe, nada mais longe da realidade, porém, fantasiado como real assume o valor de real e, assim, a culpa vem da mesma forma, com a mesma força. Em exemplos mais cotidianos, temos o do cliente acima que sentia vontade de “enfiar a mão na cara” e sentia-se mal por “fazer isso”, assim com a culpa como guia ele não conseguia ter os comportamentos adequados que precisava ter por medo de “enfiar a mão na cara” e por culpa de ter pensado isso, algo como: “se eu pensei isso é melhor ficar quieto, porque, vai que ela descobre”.

    Aprender com a culpa significa aprender a ter auto-controle, por exemplo e frear comportamentos, pensamentos e atitudes inadequadas. Aprender a antecipar situações que lhe são nocivas para que você aprenda a se defender, aprender a se desculpar e se retificar quando necessário e aprender a dar limites de uma forma adequada antes que problemas ocorram. De uma certa forma a culpa – entendida desta forma –  lhe chama para a responsabilidade com o seu próprio sistema de crenças e eu não consigo ver como isso pode ser inadequado.

    Abraço

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