• 27 de dezembro de 2013

    Juízes

    – Eu fico o tempo todo brigando sabe?

    – Sim, complicado isso não é mesmo?

    – Pois é, é um estresse mental.

    – É verdade. Com quem você briga aí dentro?

    – Com todo mundo, pai, mãe, amigos…

    – Qual o tema das brigas?

    – Eu fico meio que justificando o que eu quero fazer sabe?

    – Como que mostrando que você tem razão no que quer?

    – Sim.

    – Entendi… e se você não precisasse mostrar para eles que tem razão?

    – Como assim?

    – Imagine você num futuro no qual você não precisa mostrar que tem razão, como seria, de lá, observar você aqui, hoje, tendo tido este problema?

    – Nossa… difícil isso hein? Acho que… eu pensaria: nossa, quanta energia jogada fora do jeito errado.

    – Hum… e?

    – E eu relaxaria mais, ficaria muito mais tranquila e iria pensar mais no que eu quero e em me aproximar das pessoas que eu gosto.

    – Me parece uma coisa boa, não?

    – Sim

    – E, se você, ainda daquele futuro, olhasse para dentro de você, qual seria a principal diferença entre você aqui com aquele problema do passado e lá no futuro com a solução e uma qualidade de vida melhor?

    – Eu não me culparia pelo que quero… Eu me diria que mereço o que quero.

     

    É muito comum acharmos que os outros nos seguram, que tolhem nossa liberdade ou que desafiam nosso desejo.

    Existe, porém, um artifício que usamos e não damos a devida importância que são as pessoas que “guardamos dentro de nós”. Gosto de usar o termo “juízes interiores” quando falo sobre este artifício. O exemplo do cliente acima mostra um pouco do funcionamento: a pessoa deseja algo e imediatamente coloca em funcionamento os juízes que ela tem dentro dela para negarem seus pedidos, falarem que o que ela deseja é errado ou moralmente inadequado. Em geral eles usam frases de pessoas importantes para nós que nós já ouvimos antes “quem você pensa que é para…”, “você não sabe de nada”, “primeiro o trabalho depois a diversão” e outras que servem para que a pessoa entre em conflito com aquilo que deseja.

    A grande “pegadinha” é que – embora a pessoa possa, de fato, ter ouvido estas frases antes – ela é quem as coloca dentro de sua própria mente. Ela está repetindo as frases para si mesma e brigando com elas. É algo um tanto “confuso” porque a própria pessoa cria as frases contra as quais briga e quer se libertar. É como se ela construísse uma prisão, se trancasse, jogasse a chave fora e ficasse lá dentro reclamando que está presa. Um sufoco e tanto que desperdiça um monte de energia.

    Para começar a mudar este panorama e sair da prisão auto-imposta é importante que a pessoa perceba que os juízes são colocados por ela própria. Em segundo ligar é importante também, aprender a perceber quais são os argumentos que eles utilizam. Este passo é importante porque muitas vezes as pessoas estão  brigando contra argumentos que elas concordam! Brigam apenas por não querer aceitar o controle de alguém sobre elas, porém, em seu íntimo, elas mesmas dão voz àquilo contra qual lutam. É importante, neste caso aprender a conciliar e se integrar com o argumento.

    Para os outros é importante perceber que eram argumentos de outras pessoas que – visto que você não concorda – não são úteis para você e, com isso, poder libertar-se de algo que, na verdade, nunca foi uma prisão verdadeira. Deixar os outros com seus argumentos e se assegurar de seguir os seus próprios é o que faz a pessoa poder libertar-se de julgamentos inadequados. Como diz um grande terapeuta de família a ideia é atingir a capacidade de dizer sim sem raiva e não sem culpa neste cenário. Entender que mesmo que as pessoas tenham ideias diferentes das suas você ainda pode realizar aquilo que deseja de acordo com os seus próprios ideais é o exercício deste hábito que desenvolvemos.

    Abraço

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