– Mas Akim, ele é o meu bebe!
– “Bebe”?
– Ai… é o meu jeito de falar sabe? “Para os pais, filhos serão sempre bebes”.
– Sim, é o jeito que você vê ele dentro da sua mente, como um bebê… agora… eu conheci aquele brutamontes de 1,85 por 1,85 e não vejo nenhum bebe ali!
– (risos) É… eu sei, eu sei…
– Perfeito… quando você dá um limite para ele e ele te olha, como você o vê aí dentro?
– (Olha para mim pensativa) Eu estou olhando para ele, mas é como se eu visse ele quando pequeno mesmo sabe? Aquele bebezinho chorandinho!
– Sim, imagino… e nesta época ele realmente precisava que você largasse tudo e fosse vê-lo não é mesmo?
– É… era importante né, vai que ele estava com fome, ou precisando trocar as fraldas.
– Sim… Seu filho ainda usa fraldas?
– Não né? (risos)
– Então porque ainda o percebe aí dentro como se usasse e precisasse de você para trocar?
– Não sei…
– Os pais muitas vezes sentem saudades dos filhos quando eram pequenos, é bonito isso. Porém, talvez seja interessante separarmos as coisas: uma delas são as informações, memórias que você tem do seu filho quando ele era um bebe, outra é o comportamento de mãe frente ao seu filho naquela época e hoje.
– Faz sentido.
– Ótimo, como seria então olhar para o seu filho e, ao invés de colocar as necessidades dele em primeiro lugar, checar se elas realmente precisam dessa atenção toda?
– Seria mais sensato né?
– Perfeito, vamos trabalhar mai em cima disso!
Joseph Campbell certa vez disse que quando estamos em uma relação e fazemos um sacrifício não estamos fazendo este sacrifício pelo outro, mas sim pela relação. Adoro esta perspectiva e concordo com ela, no entanto, muitas pessoas ainda fazem a confusão entre “sacrificar-se pela relação” e “sacrificar-se pelo outro”.
A confusão é simples e tem a ver com o foco com o qual a pessoa organiza as suas crenças, critérios e foco numa relação. De uma forma simplória, podemos dizer que é uma questão de ponto de vista, ou seja, a pessoa orienta suas ações no mesmo rumo no qual orienta a sua percepção. Isso tudo se organiza na mente da pessoa: a forma pela qual ela, internamente, organiza a relação para ela. Ouvi de uma mãe certa vez algo como “quando meu filho chora, o mundo some da minha frente e só vejo ele chorando”. Se formos tomar isto ao pé da letra e imaginar isso de fato, é difícil que a mãe pense em qualquer outra coisa além do choro da criança, obviamente, para aquela mãe – cuidando de seu primeiro bebê – aquilo estava super adequado. No entanto, nem sempre este esquema interno é adequado. Muitas pessoas colocam as necessidades de seus filhos e conjugues sempre em primeiro lugar – em muitos casos chegam até a esquecer como é ter as suas necessidades. No caso da mãe acima, é importante colocar a necessidade do bebe em primeiro lugar visto que a criança realmente precisa daquilo senão ela morre, porém, seria o mesmo pensamento adequado para um adolescente de 15 anos?
Estruturalmente falando existe uma forma da pessoa criar em sua mente uma representação muito poderosa das necessidades do outro e uma forma muito fraca – ou até inexistente – das suas próprias necessidades. De maneira que é muito fácil abrir mão do que se precisa ou deseja, em prol do que o outro quer ou deseja. O problema com esta forma de agir é que seres humanos possuem necessidades e desejos próprios e abrir mão deles como uma regra gera estresse para a mente e para o corpo, mesmo que existem crenças que deem apoio ao comportamento. Trocando em miúdos, as pessoas precisam se cuidar de uma forma específica e se abrem mão disso acabam se fazendo mal mesmo que pensem estarem fazendo a coisa certa. Criando uma imagem bem radical: “duas pessoas são picadas por uma cobra, uma levou o antídoto e a outra não, se quem levou aplica o antídoto em quem não levou, vai morrer, mesmo achando que fez o certo”. Novamente saliento: não é errado este comportamento, porém, se ele for uma regra irá ocasionar problemas para a pessoa – os quais nem sempre são necessários.
As pessoas que são muito voltadas para os outros precisam aprender a colocar as necessidades de terceiros em perspectiva e perguntarem-se: “o que eu quero?” De posse do que o outro quer e do que a pessoa quer, ela deve se perguntar se é de fato possível realizar ambos os desejos e até que ponto é responsabilidade dela realizar o desejo do outro. Aprender a realizar esta diferenciação é fundamental para perceber a distinção entre as necessidades do outro e das suas assim como criar um conjunto de regras para verificar até que ponto deve-se fazer pelo outro ou não. Embora isto possa parecer cruel num primeiro momento passa a ser de um enorme bom senso num segundo momento e melhor muito as relações das pessoas pelo fato de que uma vez criadas s fronteiras adequadas entre um e o outro, ambos poderem sentir-se bem e com isso estarem mais abertos para a sua relação.
Abraço
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