• 10 de janeiro de 2014

    Prisioneiro do coração II

    – Eu estou pensativo Akim.

    – Pensando no que?

    – Em algo que aconteceu.

    – Hum… quer compartilhar comigo isso?

    – Pois é… já faz um tempinho até… daí veio isso…

    – (Silêncio do terapeuta)

    – Eu estava pensando que sou muito “eu” sabe? Muito dono da razão.

    – Sei.

    – E daí esses dias eu me ferrei porque eu não tinha nada para comer em casa e estava certo que os mercados iam ficar funcionando o horário normal deles, a minha namorada tinha me dito que não, mas “eu sei de tudo né”?

    – Sim (risos)

    – E daí fiquei sem comida em casa… tudo bem, não foi algo muito feio, mas me fez parar para pensar entende?

    – Claro, pensar no que?

    – Que eu tenho que deixar as pessoas afetarem mais a minha vida.

    – Olhe que coisa boa!

    – Mas isso não vai me fazer “perder a minha personalidade”?

    – Você realmente acha que a sua personalidade é tão fraca que se der ouvido aos outros ela vai sumir?

    – Boa pergunta!

    No post de hoje quero falar sobre uma outra forma de ser “prisioneiro do coração”, no post anterior eu falei sobre pessoas focadas demais nas necessidades dos outros, hoje vou falar sobre pessoas focadas demais em si.

    Uma pessoa é focada demais em si quando ela não sabe – ou consegue – se abrir para ouvir os outros. Infelizmente nossa sociedade atual enaltece este tipo triste de solidão chamando esta pessoa de “pessoas de opinião” ou “pessoas de personalidade” e até “pessoas de atitude”. Aquelas que não são mudadas pelo mundo ao seu redor, que não se permitem influenciar por terceiros.

    A grande falácia é que é impossível não ser influenciado por terceiros. Se você “não se permite ser influenciado”, precisa se defender de alguma forma, ou aprender a não dar ouvidos e isso já é, por si só, uma influência. Em outras palavras para não ser influenciado você precisa perceber-se como um “alvo” que “os outros” querem influenciar e se defender disso protegendo a sua “preciosa” opinião do mundo. Portanto, já está sendo influenciado a se defender deles. A única forma de “não ser influenciado” pelos outros é se eles não existissem.

    Um outro “mal entendido” é que “opinião”, “atitude” e “personalidade” é algo criado em conjunto com o meio que nos circunda. Existe uma diferença entre ter uma opinião e não ouvir ninguém, na verdade, “não ouvir” é, muitas vezes perigoso, pois o outro pode estar percebendo algo que você não está e que é vital para a sua própria decisão. Se a opinião “não pode” receber influências, ela se torna uma obsessão e não uma opinião. É um dogma e não uma opinião, uma verdade universal, uma espécie de fanatismo.

    Assim sendo, uma forma de ser prisioneiro do coração é estar tão focado no outro que se está pouco dentro do seu próprio coração e a outra é estar tão dentro que você se tranca lá dentro e joga a chave fora.

    Em geral a “pessoa de opinião” tem um pavor de “ser mudado” pelo outro como no caso que coloquei acima o medo de “perder a personalidade” como se o fato de “ouvir” alguém e permitir-se “mudar de ideia” fosse igual à “perder a personalidade”. No post anterior tínhamos a pessoa aberta demais às opiniões de terceiros, por exemplo, que só age ouvindo alguém lhe dizer o que fazer, no outro extremo temos a pessoa que “não pode” – e este “não pode” é o problema – ouvir opinião de ninguém.

    Não se perde a personalidade por mudar de opinião ou por permitir que alguém influencie a sua percepção da vida, na verdade, se fortalece a personalidade ao fazer isso. Quando uma pessoa é capaz de ouvir o que lhe é dito, analisar aquilo que foi dito, permitir-se experimentar para ver se o que foi dito lhe serve e então decidir o que fazer com a informação ela está se tornando mais sábia e mais forte e não perdendo personalidade e se tornando mais fraca. Muitas vezes é importante mantermos nossas opiniões e lutarmos por nossas convicções, porém isto é muito diferente de não nos permitirmos ouvir os outros e sermos mudados pelos outros.

    Um exemplo disso vem da segunda guerra mundial. Os alemães ganharam uma enorme vantagem na guerra logo no começo, por que? Os franceses e ingleses estavam acostumados a táticas que envolviam a velocidade de movimentação de homens, enquanto os alemães estavam pensando na velocidade de tanques de guerra. Enquanto a estratégia aliada estava indo, os alemães já tinha ido e atacado todos pela retaguarda com seus tanques. A ideia dos tanques não era inexistente, porém “não foi ouvida” pelos líderes militares que iniciaram o conflito do lado dos aliados, este ouvido surdo quase custou-lhes o país.

    Um outro exemplo célebre do mundo dos negócios foi quando o presidente da IBM disse que eles não faziam computadores de brinquedo se referindo aos computadores pessoais, querendo dizer que aquela ideia nunca pegaria, ou da Kodac que não apostou nas câmeras digitais, mesmo tendo tido a possibilidade para tal. E, na vida, quantas vezes ouvimos o famoso “eu te disse?” e ficamos enraivecidos com isso? (Obviamente enraivecido com nós mesmos).

    Ouça, reflita, analise e experimente. Na pior das hipóteses você irá manter e reforçar a sua opinião, na melhor irá obter, a partir do seu próprio esforço e raciocínio, uma opinião ainda mais completa, portanto, não há como você perder.

    Abraço

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