• 15 de janeiro de 2014

    Aquilo que escondo

    – Fui até lá para organizar tudo.

    – E deu certo?

    – Não. Chegando lá não consegui fazer nada. Olhei aquele monte de papel, sentei e chorei.

    Fico olhando para ele em silêncio, esperando que continue.

    – Passei o dia todo ali querendo fazer alguma coisa, mas sem conseguir… me senti mal com isso.

    – O que te fez sentir-se mal em não ter conseguido?

    – O que eu ia dizer em casa depois sabe? Óbvio que eu não disse muita coisa, falei só que tinha muita coisa para fazer.

    – O que você não poderia dizer aos outros?

    – Bem… eu não sei ao certo… não achava que era justo eu dizer que fiquei triste e passei a tarde lá sem fazer nada.

    – Entendi, como se o seu sentimento, por si só, não fosse algo importante?

    – Hum… é, algo por aí talvez…

    – E então você esconde, mas, ao esconder dos outros, como negocia isso com você?

    – Ah Akim… eu estou dizendo isso para você só porque não sai da minha cabeça… acho que geralmente eu acabo escondendo de mim primeiro.

    “Seja forte”. Gostaria que estas instruções que ouvimos fossem um pouco mais abrangentes e nos dissessem como fazer o que precisamos fazer.

    Como as coisas não são assim, muitas vezes ouvimos e agimos com base no que achamos que é para ser feito, outras vezes pelo que vimos alguém fazer. Na verdade algumas instruções são importantes e nos ajudam a viver no mundo, outras nos fazem ter medo ou vergonha daquilo que ocorre dentro de nós e é aí que a coisa complica.

    Existem coisas que escondemos dos outros. Na verdade, escondemos dos outros e de nós, pois esta é a forma mais adequada de escondermos as coisas: se nos esquecermos nunca falaremos. O problema, porém, é que esconder não significa resolver.

    Toda vez em que uma pessoa esconde algo de si própria, ela está, também, tirando de si a chance de dar uma boa resolução para o problema. Aquilo que fica escondido aparece em momentos de tensão nos quais alguns medo veem à tona, ou em momentos de tristeza nas quais a memória por vezes trabalha melhor ou em brigas nas quais o passado vem para ser vomitado no parceiro.

    Esconder significa assumir para si que algo que lhe incomoda não está ali. É como tapar o sol com a peneira ou, como muitas vezes escuto, quando a pessoa vai viajar e “nem quer pensar nisso”. Obviamente, em alguns momentos temos mais é que esquecer mesmo de algumas coisas para que possamos nos organizar para enfrentá-las mais tarde, porém esconder sempre faz com que o “armário” inconsciente fique muito abarrotado.

    Sempre que escondemos, como já disse temos medo ou vergonha do que fizemos, sentimos ou pensamos. O primeiro passo é conseguir fazer as pazes com aquilo que escondemos, dar valor de existência novamente ao invés de continuar fingindo que aquilo não existe. O segundo passo é determinar se o que escondemos nos causa medo ou vergonha. É importante definir isso porque medo e vergonha são elementos distintos e precisam ser tratados de formas distintas.

    Com o medo trabalhamos buscando especificar o que causa o medo e, com isso, compreender o que a pessoa precisa aprender para tornar-se mais competente ao enfrentar o seu medo. Na vergonha precisamos compreender qual a regra que faz a pessoa envergonhar-se do que fez para checar se esta regra não está sendo muito rígida ou inadequada.

    Depois disso, em geral, trabalhamos buscando ajudar a pessoa a expressar aquilo que esconde de uma forma adequada – quando é o caso de expressar aos outros – e de lidar com o que sente de uma forma mais útil para si.

    Abraço

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