• 29 de janeiro de 2014

    Aquilo que não sei de mim

    – Eu estou meio angustiada

    – O que está angustiando você?

    – Não sei ao certo… eu tive um sonho esses dias e depois disso fiquei incomodada.

    – Ah é? Me conte o que te incomodou dele?

    – Não sei ao certo… mas acho que tem a ver com eu ter brigado feio com meu pai no sonho.

    – Hum e o que te angustia nisso?

    – Eu não sou de brigar! Não gosto disso e acho falta de respeito brigar, brigar com o pai então… pior ainda… mas eu meio que gostei de ter feito isso no sonho.

    – Olhe só… o que será que te fez “gostar” disso?

    – Hum… não sei Akim… será que porque eu achava certo brigar com ele?

    – Não sei, me diga você.

    – Eu senti, depois do sonho, que eu fiquei mais “boca aberta” sabe? E estou meio que gostando disso, embora eu ache feio, estou gostando.

    – Perfeito… será que tem aí coisas para você aprender sobre você?

    – É o que parece né?

    Muitas pessoas falam do inconsciente como se fosse algo à parte das pessoas: “isso é algo que veio do inconsciente”; como assim, ele enviou algo por SEDEX para você? Quando se fala “do inconsciente” parece algo tão impessoal e eu não gosto desta abordagem.

    Para mim o inconsciente faz parte do “ser”, ele não é algo à parte, mas sim do todo. Muitas vezes não combina com a nossa “auto imagem”, porém dizer isso não significa dizer que não faz parte do meu ser. Gosto de entender ele como aquilo que não sei de mim, aquilo que me surpreende, aquilo que me faz perceber – não que eu não sou dono de mim – mas sim que eu sou muito mais do que eu consigo perceber com a minha limitada consciência.

    Esta percepção ao invés de me fazer temer o meu inconsciente me ajuda a buscar uma proximidade maior com as coisas “esquisitas” que eu sinto e percebo sobre a minha experiência. Ao invés de tentar controlar os impulsos, eu busco permitir que eles guiem a minha consciência para onde ela se faz necessária, compreender essas coisas que não sei de mim como mensagens minhas para eu mesmo é muito mais interessante do que entender como algo que está “fora do meu controle”.

    Somos um processo vivo e ele não precisa de “controle”, mas sim de “domínio” e só posso “dominar” – no sentido de compreender, entender e saber como lidar – quando permito que aquilo que entendo como estranho apareça e faça parte, senão buscarei controlar para manter represado. Assim sendo, a melhor forma de lidar com aquilo que é estranho em mim é entender que isso também sou eu, por mais estranho que pareça e, uma vez feito isso, posso guiar-me de acordo com o que se pode fazer com aquilo.

    Como disse um poeta cujo nome não me recordo, a pessoa morre quando perde a capacidade de se surpreender consigo.

    Abraço

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