• 3 de fevereiro de 2014

    Imagem distorcida

    – Eu não consigo me ver assim Akim.

    – Entendo, me diga, como consegue se ver?

    – Me vejo como um idiota, feio e sem futuro.

    Pego um espelho e levo até a sala de atendimento, coloco-o na frente do cliente e digo para se olhar e me descrever o que vê.

    – É isso que te falei, um idiota, feio e sem futuro… eu não gosto do meu rosto.

    – Ok, feche os olhos e pense em uma pessoa que você admira muito.

    – Ok, pensei.

    – Quero que imagine o rosto dessa pessoa e que, aos poucos, você entre dentro dela, como se pudesse “vestir” essa pessoa.

    – Ok.

    – Entre bem em contato com ela e imagine como seria sentir-se desse jeito.

    – Muito melhor

    – Ok, agora abra os olhos

    Continuo com o espelho na frente dele de modo que quando ele abre os olhos dá, novamente, de cara com ele próprio. Pergunto-lhe como é se ver agora.

    – É estranho… parece que tem algo diferente, mas eu sei que não tem… não pode ter…

    – O que te motiva a dizer “não pode”?

    – Eu…

    O cliente começa a verter lágrimas dos olhos… e continua dizendo:

    – Eu não mereço ser assim… não posso ser assim!

    – E se pudesse?

    – Não sei o que faria! Acho que iria magoar muitas pessoas!

    – Você iria magoar as pessoas ao sentir-se bem consigo mesmo?!

    – Estranho não é?

    – Pois é!

    Uma das melhores formas de evitar a solidão é viver sozinho.

    Embora paradoxal, a frase contém enorme “sabedoria”: ao viver sozinho, não entro em contato com outras pessoas, não sinto o gosto da companhia. Ao não ter esta experiência viver só se torna muito mais simples e tolerável. Em outras palavras é mais fácil não sentir falta de algo que desconheço do que não sentir falta de algo que já experimentei.

    O que isso tem a ver com o caso acima?

    Muitas vezes a família ou o ambiente no qual uma pessoa nasce não tem o necessário para dar o suporte ao crescimento da pessoa “tal como ela é”. Outras vezes este ambiente tem planos já traçados para a pessoa que não levam em conta a sua personalidade. Nestes casos existe uma choque, uma diferença entre o desenvolvimento da pessoa e o do ambiente, da família na qual ela se encontra.

    Em muitos desses casos ocorre, na pessoa, uma certa “culpa existencial”. Algo como “porque sou como sou?”, “porque não podia ter nascido diferente?”. Uma das formas em lidar com esta culpa é abrindo mão de sua imagem pessoal e assumindo uma imagem que tenha mais a ver com o que a família ou o ambiente estejam procurando.

    No caso acima o cliente veio de uma família cujos pais precisavam muito “mostrar o seu valor”. O problema é que, para os pais, “mostrar o seu valor” significava que ninguém mais poderia brilhar ao redor deles. Assim, qualquer demonstração de talento ou habilidade que pudessem ser “maiores” ou que pudessem levar os filhos à “independência” eram vistos com maus olhos. Este cliente, então, para “alinhar-se” com a família aprendeu a ver-se como “feio”, “idiota” e “sem futuro”. Um cenário perfeito, pois ele dependeria para sempre dos pais: sendo “feio” não arranjaria mulher para casar, sendo “idiota” não teria competências e nem raciocínio próprio e sendo “sem futuro” precisaria de alguém para garantir o seu.

    A imagem que ele tinha de si, causava-lhe problemas até porque era uma pessoa de talentos, era alguém bonito que quando se empenhava em uma tarefa em geral destacava-se. Porém ele ao imaginar-se sendo diferente disse que “não podia”, este “não poder”, no caso dele estava relacionado com as explicações que dei acima. Muitas pessoas não se permitem ver-se de uma forma diferente, desdenham de uma possibilidade de futuro melhor ou não creem nela usando paradigmas aprendidos com terceiros que não lhe servem mais e que não são úteis ao seu desenvolvimento.

    Assim sendo distorcem quem são apegando-se à qualquer nível de detalhe para ver nelas mesmas algo de que não gostam, algo que julgam feio, ridículos, não merecedor de valorização. Se você “tem medo” de se olhar no espelho, pergunte-se: o que você está vendo ali que teme tanto? O que você vê de tão ridículo? Qual o problema em se encarar tal como é? Será que você é apenas isso, ou pode ser mais ainda?

    Abraço

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