• 24 de fevereiro de 2014

    Enroscos, rolos e enrolos

    – Eu não sei bem ao certo o que acontece.

    – Eu imagino, tente perceber o que te faz não perceber isso, porque olhando de fora tem muita coisa que está perfeitamente clara.

    – Não sei o que dizer… eu tento pensar no que fazer para ajudar o meu filho e a minha mulher, e não consigo chegar a nenhuma conclusão. Fico meio perdido.

    – Sim. E enquanto você pensa neles, como decide o que fazer com você mesmo?

    – Não sei… não tenho pensado muito em mim esses últimos tempos.

    – Sim… apenas nestes últimos tempos?

    – É… na verdade nunca pensei muito em mim… não saberia nem por onde começar eu acho…

    – Que tal começar por aqui, nesta sessão?

    – Pode ser…

    É muito comum as pessoas se preocuparem com as outras. Entendo que isso além de ser comum é saudável, demonstra afeto e empatia, ou seja, faz parte da “natureza humana”.

    Porém, existe uma forma adequada de fazer isso e uma inadequada. A forma inadequada é esta que meu cliente mostrou acima: a perda de referencial interno em favor do externo. Quando a pessoa faz isso, ela passa a colocar a outra pessoa em primeiro lugar tentando pensar como ela, sentir como ela e tornando a vida dela a sua própria vida. Passa a “sentir pelo outro” e, em geral, acaba se frustrando quando a pessoa diz coisas como: “vai viver a sua própria vida” ou “para de me encher”. O sentido da vida da pessoa se torna a vida do outro e ela deixa de ter a sua individualidade. São pessoas que não tem a resposta para: “o que você gosta de fazer? O que quer fazer com sua vida agora?”.

    O lado saudável ocorre quando a pessoa demonstra interesse pela situação da outra pessoa. O envolvimento respeita os limites entre o eu e o outro e busca-se ajudar a pessoa a se potencializar para alguma coisa se ela assim o desejar. A individualidade de um e de outro são respeitadas – não se dá ajuda que não se deseja ser recebida e nem se sujeita à humilhações por parte de quem recebe ajuda. Se a pessoa diz para “viver a sua própria vida” isso é entendido como uma escolha a qual o outro pode ter e não se leva para o lado pessoal. A pessoa que respeita os limites ajuda e mantém o foco em sua vida, mantendo seus desejos, sonhos e ambições.

    É como a borboleta saindo do casulo: se você cortar o casulo por ela, ela sairá, mas nunca voará porque não pode retirar a gosma de suas asas ao passar pelo aperto do casulo. Ela te culpará por isso e você se culpará por isso. Tentará “fazer com que ela voe”, mas sem resultados. A relação complica.

    Por outro lado, se você filmar ela saindo e deixá-la fazer o que precisa, ela voará e será grata por você tê-la assistido enquanto fazia o que precisava fazer. E você será grato por ter visto a beleza deste processo se desenrolando e ter sido testemunha disso.

    Abraço

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