• 12 de março de 2014

    Ser “forte”

    – Porque você está falando isso Akim?

    – Porque é um fato sobre você e a sua história, estou apenas repetindo o que você me disse, algum problema?

    – Não… não tem problemas…

    – Não creio que isso seja verdade… o seu rosto está querendo dizer alguma coisa, o que será?

    – Como que você está vendo? Ninguém vê isso! Não quero mais falar sobre isso!

    – O que está fazendo você não querer mais falar disso?

    – Se eu falar eu choro porra! Não quero isso!!

    – Ok, ok… vá com calma e me conte do seu incômodo sobre o choro!

    – Tá…

    Chorar. Se entristecer, magoar-se e ficar uns bons dias deprimido sofrendo pela perda de alguém ou alguma coisa importante, decepcionar-se, desiludir-se. Sofrer.

    Muitas pessoas aprenderam que tudo isso significa só uma coisa: fraqueza. Quanta asneira…

    Muitas vezes é importante engolir a tristeza e ir em frente, existem situações – como a guerra, épocas de grande recessão em que as perdas se tornam “lugar comum”, situações extremas como em sobreviventes de desastres naturais ou acidentes de navio ou avião, por exemplo – nas quais as pessoas não podem se dar o luxo de parar para sofrer, de viver o luto de uma forma sadia. Nestes momentos é importante… pensou que eu ia dizer “ser forte”? Errou, nestes momentos é importante saber como fazer para engolir a tristeza, criar um olhar muito objetivo do que se tem para fazer, frear o impulso saudável e natural de diminuir o ritmo e seguir em frente com algumas metas bem estabelecidas. Porém…Viver desta maneira não é saudável e muito menos coisa de gente “forte”.

    Fora destas situações a resposta mais adequada para a tristeza é simples: se entristecer. Não é à toa que nosso cérebro se organiza para que fiquemos mais quietos e tristes: a emoção da tristeza tem o potencial de fazer com que pensemos no que perdemos, no que era importante e no que poderíamos ter feito diferente. Embora dolorido o objetivo não é a dor, mas sim o aprendizado e a possibilidade de readaptação futura. Quem se entristece de maneira saudável percebe o que perdeu e era bom e aquilo que não pode repetir no futuro e, então, organiza a sua mente e suas atitudes para novos comportamentos que lhe trarão ainda mais felicidade no futuro.

    Enfrentar ao invés de fugir é a atitude típica de quem é forte. Os fortes lutam não lutam? Enfrentar a tristeza e o sofrimento significa isso, aprender a perceber o que se perdeu e como se pode ter aquilo novamente – em essência – e então tocar a vida para frente. Muitas vezes recebo em meu consultório pessoas que viveram situações difíceis em relacionamentos, por exemplo, mas nunca se permitiram chorar e se entristecer, estas, quase sempre vem com o discurso: “relacionamentos são coisas ruins, melhor evitar”. Já os que choram e aprendem com a tristeza dizem: “estou vendo hoje onde errei e quero ajuda para não cometer os mesmos erros”.

    Você pode até alegar que existem pessoas que se escondem atrás de sua tristeza. Com certeza que há. Porém, assim como os “fortões” elas também não sabem como lidar com a tristeza, não estão vivendo o lado saudável de estar triste, mas sim prolongando algo que não deveria ser prolongado. Quando trabalho com o processo de luto este é sempre um fator ao qual fico atento: se a pessoa está saindo do luto e aprendendo ou se ela está se apegando ao luto e ficando dentro dele. Não é uma questão necessariamente de tempo, mas sim de dinâmica pessoal de mergulhar e sair da tristeza ou de ficar mergulhado nela correndo o risco de se afogar.

    A verdadeira força está sempre em ouvir nossas emoções e a reagir adequadamente à elas. Em algumas situações pode ser sábio engolir o choro, em outras poderá ser como engolir veneno. Aprender a distinguir isso e viver de maneira digna o seu próprio processo de desenvolvimento vital é o que as pessoas realmente fortes fazem!

    Abraço

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