– Mas e o que a minha família vai dizer?
– Provavelmente eles não vão concordar.
– E daí?!
– Bem, daí que eles não vão concordar, só isso.
– Como assim “só isso”?
– Oras, eles não tem que concordar tem?
– É… não… mas…
– Mas?…
– Eu queria que sim…
– Ah… seria ótimo se sim… mas este é o seu caminho, não o deles.
– É triste isso.
– Um pouco sim, a gente sempre quer ter todos por perto não é mesmo? Mas isso também seria algo meio estranho não é?
– É, pensando bem… ninguém vive as mesmas coisas né?
– É.
(silêncio)
– Acho que tenho que parar de temer ser quem eu sou.
– Também acho! Muito bom!
Que lugar você se dá em sua vida?
Todos nós nascemos com um lugar em nossa família. Antes mesmo de virmos ao mundo existem várias expectativas e desejos pairando sobre nós, somos educados com base nessas expectativas, aprendemos a nos relacionar com elas como pano de fundo. E aprendemos “qual o nosso lugar” através do mesmo processo.
Porém…
Num determinado momento da vida sentimos algo diferente em nós, algo que não tem apenas a ver com o lugar que nos deram, com a educação que recebemos, com os anseios, desejos e expectativas dos outros sobre nós. Olhamos para fora da janela de nossa casa e vemos o mundo, vemos outras pessoas, outras formas de interagir, de educar e vemos outros lugares no mundo. Essa coisa “diferente” em nós chama-se desejo.
Num determinado momento podemos perceber que podemos ter os nossos desejos, algumas vezes ele será muito parecido com os que recebemos de nossa família, outras será muito diferente, em algumas será o oposto. Aprender a lidar com este desejo é aprender a “colocar-se no seu lugar”.
Porque talvez o ser humano são “seja”, talvez ele “apenas” “esteja”. Algumas coisas podem “estar” a vida toda com nós à ponto de nos fazer sentir que “somos” daquela forma. Mas outras não, elas evoluem com o passar do tempo e assumem as mais diferentes formas e, talvez, aprender a conviver com isso seja crescer e se desenvolver, talvez isso seja o que é “ser” humano: um “ser” vários “seres” ao longo da vida e ainda assim, sentir-se um só “ser”.
Desta forma, aprender a afirmar o nosso desejo, o nosso “ser” do momento é afirmar o nosso processo evolutivo; negar, é negar o mesmo processo. Afirmar não significa impôr sobre os outros, porque eles tem processos próprios. Também não significa que alguém tem que concordar com você ou afirmar o seu processo porque as outras pessoas podem ter opiniões diferentes sobre você. E não significa também que você terá sucesso financeiro e status social porque a sociedade e o mercado podem não estar interessados no seu processo.
A única recompensa que você pode almejar nisso tudo é saber que você seguiu o que tinha que seguir. Pode parecer pouco, mas no final, talvez isso seja a única coisa que valha à pena, uma pequena e frágil coisa chamada integridade. É lá no final que, ao olhar para trás, responderemos a pergunta mais cruel que um ser humano pode se fazer: vivi a minha vida? Dei ao meu desejo, ao meu processo um lugar especial?
Que lugar você se dá em sua vida?