– Muito bem Akim, muito bem!
– Que bom que você está bem, fico feliz em saber!
– Ah sim, tudo está ótimo mesmo!
– Muito bom!
– Pois é… está tudo tão bem sabe?
– Sei.
– Que eu nem sei porque estou aqui!
– Pois é e mesmo assim veio né?
– É… mas está tudo bem sabe?
– Claro, e já disse que fico feliz com isso!
Alguns momentos de silêncio se passam quando a cliente volta a dizer.
– Me dá uma angustia não ter o que te dizer.
– Em geral, quando meus clientes estão bem eles me contam alegres sobre o que está acontecendo de bom na vida deles.
– Ah é é? Hum… mas não sei… só está tudo bem sabe como… não quero falar sobre isso.
– Ok.
– Porque eu fico angustiada, então, se está tudo bem?
– Me diga você!
– Será que está tudo tão bem mesmo?!
Em primeiro lugar: adoro quando meus cliente me trazem boas notícias. Gosto muito de ficar uma sessão toda falando sobre como eles estão bem e explorar cada pequeno detalhe da felicidade e alegria deles. Fico muito satisfeito enquanto pessoa e profissional quando isso ocorre.
Esta explanação é importante porque o tema que trago pode ser entendido como uma “ode à tristeza” ou aos problemas. Não é.
É mais simplesmente uma crítica à um tipo feio de alegria que temos cada vez mais tido que enfrentar: o das pessoas que “não podem” ficar tristes, solitárias, mal amadas.
Porque “feia”? Porque dá para ver de longe que o sorriso é forçado! Porque dá para sentir em 2 segundos que por detrás da máscara de alegre a pessoa tem um milhão de medos, vergonhas, culpas ou seja lá o que ela esconde por debaixo da máscara. Além disso, quando ela fala percebe-se que é um discurso ansioso e não um discurso ameno, típico de quem está, de fato, feliz. Uma necessidade de provar que se está bem se segue – obviamente porque a pessoa não está feliz, não está bem.
A alegria “bonita” é muito mais doce. Ela não tem medo de ficar triste, acompanha o ritmo da vida e entende que tristeza faz parte da felicidade e até mesmo da própria alegria. Não existe um sorriso forçado, pelo contrário ele contagia e dá vontade de sorrir junto – é muito difícil ficar triste ou chateado perto de uma pessoa com alegria genuína – não existe necessidade de mostrar ou provar a própria alegria: quem é alegre é. Sua fala tem um tom de voz próprio que mostra a alegria e não a necessidade de mostrar sorrisos à todo custo.
Obviamente, enquanto psicólogo, a minha crítica é em relação ao discurso social que prevê este tipo forçado e feio de alegria como algo importante ou necessário. Nunca vou criticar a pessoa, até porque entendo que ela usa-se deste tipo de alegria por vários motivos – ninguém nasce forçando o sorriso, aprendemos a fazer isso – e cabe à terapia e ao terapeuta respeitar, compreender a ajudar a pessoa a superar isso.
Aquele que – secretamente – se identifica com este tipo de alegria que chamo de “tediosa” – porque este tipo de comportamento cansa o ouvinte ao invés de inspirá-lo como faz a alegria verdadeira – digo que pare e pense se, de fato, está valendo a pena fazer todo o esforço para manter o sorriso no rosto o tempo todo. Claro, no seu trabalho talvez isso seja importante, mas para você mesmo? E se você se permitisse sair desta falsa alegria só um momento e aprendesse a lidar com as outras “emoções proibidas”? Tenho certeza que você poderá lucrar muito com isso. Sei que você tem, teve, os seus motivos e, sinceramente, honro cada um deles, mas não será hora de pôr aquelas crenças e ideias em cheque e questioná-las um pouco?
Em relação à pessoas e instituições que pregam a necessidade deste tipo de conduta, no entanto, fica a crítica: sorrisos sem alma não são sorrisos, são apenas fotografias em preto e branco do que, um dia, foi um sorriso humano. Nem esteticamente eles valem porque, convenhamos, vemos de longe que a qualidade deles não são boas.
Alegria é bom e eu, particularmente, adoro ela. Mas viver uma vida realmente alegre é viver uma vida sem proibições emocionais e, portanto, aceitando a presença de qualquer emoção.
Abraço
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