– E então Akim, o que você acha?
– Me diga o que você acha?
– Bem, sabe, eu pensei nisso um monte… eu me sinto mal e humilhada porque quero coisas simples dele e nunca vem, mas quando ele quer, sai da frente.
– Sim.
– E então?
– Então o que?
– Você não tem nada para me dizer sobre isso?
– Tenho: quantas vezes você já chegou nesta mesma conclusão, com vários e vários exemplos?
– Um monte.
– Apenas neste relacionamento?
– Não, em outros também.
– O que mais você quer achar aí dentro? Será que não passou já da hora de fazer algo com isso?
Existe um problema na Psicologia que é quando o profissional quer “interpretar demais”. Lembro-me de um curso que fiz de interpretação dos sonhos em que o professor no passou um sonho para interpretar. Todos fomos rapidamente buscar as informações importantes do sonho: os arquétipos inconscientes, a ligação destes com a dinâmica do cliente, as possibilidades de intervenção com base nestes dados. Ao final o nosso professor disse que as interpretações estavam ótimas, porém ninguém estava correto e isso porque nenhum de nós prestara atenção ao contexto no qual o sonho foi tido: após um grande jantar no qual a pessoa havia comido e bebido muito. “Não interpretem feijoada” ele disse, nunca mais me esqueci disso.
Contei esta história longa para ilustrar que às vezes as pessoas querem significado demais em evento de menos. Ou seja, muitas vezes não há mais o que “escarafunchar”, interpretações à fazer ou memórias à recordar… muitas vezes não há mais nada à ser pensado, resta apenas a ação. Muitas pessoas me procuram com seus problemas e querem sempre “tirar um pouco mais” deles, como se sempre fosse haver algum significado oculto esperando para ser descoberto e aí sim “ahá” agora entendi o meu problema.
Muitas vezes pergunto: “o que mais você quer tirar disso aí?”. Muitas vezes não tem mais o que ser tirado, enfrente a conclusão e aja, aí sim, quem sabe, você poderá entender melhor a sua vida, não a partir da reflexão, mas sim da contemplação do que você fez e dos resultados que obteve. Existem várias formas de alcançar a sabedoria. A reflexão é uma delas, a ação é outra. Quando as duas se encontram temos algo formidável.
O que vejo é que é difícil simplesmente ver a vida tal como ela é. A crueza dos fatos muitas vezes é tão forte que as pessoas não suportam olhar para eles. Porém é ali mesmo que reside a “cura”, o “próximo passo”, a “mudança” , a “compreensão”, a “evolução” seja lá como você quer chamar. Por vezes não temos que interpretar ou entender, por vezes temos que simplesmente observar e reagir ao que observamos. Se você pensa que isso é algo “superficial” experimente viver assim por alguns meses, simplesmente reagindo – de acordo com suas crenças, obviamente – ao que percebe e veja como isso aprofunda a sua experiência.
Abraço
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