– Então eu fico pensando assim: se ele gosta desse tipo de mulher, é óbvio que ele acha a minha amiga melhor que eu.
– Hum… entendi! Mas será que ele avalia isso desse jeito?
– Deve avaliar… eu faria isso!
– Ah sim, você faria. Agora pensa assim: o que, de fato, você está fazendo? Avaliando ou comparando?
– Hum… to avaliando: ela tem e eu não!
– Perfeito, mas e o “complemento” “minha amiga é “melhor” que eu”? O que é isso?
– Bom… melhor que é uma comparação né?
– Então! Agora te pergunto: porque te comparar à ela?
– Ai não sei…
– Veja: perceber que ela tem algo que você não tem é uma coisa, mas julgar você como melhor ou pior por isso é complicado não é?
– Pois é… é mesmo…
Sartre disse que o inferno são os outros. A frase muito conhecida é pouco compreendida, visto que seu autor não falava sobre a natureza do inferno e sim sobre a natureza dos outros, das relações humanas.
O inferno talvez esteja quando começamos a nos comprar com outras pessoas e, junto com isso, associar valores morais às comparações. É algo extremamente penoso fazer uma comparação entre dois seres únicos porque a base de comparação é sempre injusta visto que é diferente. Porém, quando além de fazer isso a pessoa associa ao lado “perdedor” uma juízo de inferioridade e ao outro lado de superioridade, teremos um terreno fértil para criar baixa auto estima e muita dor afetiva.
O problema com as comparações se inicia no jogo de poder que associamos à ela: o melhor e o pior – afinal, isto é comparar. Quem é o melhor deseja manter-se neste lugar quem é pior quer subir de nível. Como as duas pessoas são únicas elas tentam, então, criar uma base arbitrária que vá mostrar que ela é melhor ou pior do que a outra. Como as crianças fazem no jardim de infância: “o mais bonito vai conquistar mais meninas”. Cria-se a disputa e então a concorrência aberta. Como é uma disputa a questão começa a ter um valor importante para a sobrevivência emocional da pessoa e perder torna-se insuportável.
No entanto… mesmo o “melhor”, ao virar-se para o lado, encontra uma outra pessoa que é “melhor” que ele em algum outro quesito – e sempre encontramos alguém que é melhor que a gente em algum quesito. Assim sendo, mesmo aqueles que são “melhores” encontram outros “melhores” e o inferno se alastra. A mesma coisa de uma outra forma é quando o “melhor” encontra-se com outro “melhor” (o mais bonito da turma do futebol encontra-se com o mais bonito da turma do basquete) e inicia-se uma nova disputa pelo poder.A ilusão é tão poderosa que as pessoas chegam até a brigar por causa do suposto “poder” que elas detém ao se perceberem “melhores” ou “piores”.
Mas, o que fazer com isso?
O primeiro passo é sair da disputa. Sair do círculo vicioso – e tedioso – de ficar buscando ser “melhor que” ou “pior que” alguém. Isso significa parar de comparar-se aos outros e associar à isso uma posição de poder. Não significa desejar melhorar a sua própria condição porque isso é bom para você e você assim o quer. Ao sair do círculo a sua percepção muda: o outro deixa de ser “melhor” ou “pior” que… e torna-se “alguém com uma competência” ou característica.
Assim o outro torna-se o outro, com suas peculiaridades assim como você. As relações deixam de ser um palco de disputa para mostrar quem é o melhor e tornam-se um lugar onde as pessoas podem ser acolhidas por suas competências e onde podem usá-las em prol delas e de todos. Não ter a competência deixa de ser um motivo de angústia existencial e torna-se simplesmente não saber – e se o interesse em saber isso não for genuíno a pessoa nem sequer busca conhecer, ou como diria meu pai: eu não sei cozinhar, mas sei comer bem (ele não quer saber cozinhar, apenas participar do banquete, mas ele possui várias outras qualidades).
Focar em nosso desenvolvimento e nos nossos desejos é uma das formas de iniciar esta trilha. Aprender a observar o outro tal como é sem buscar uma posição de poder frente à ele, mas sim uma posição de companheirismo é outra. Experimente a sua!
Abraço
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