• 31 de março de 2014

    Generalizações

    – E como você aprendeu que era “certo” fazer o que os outros querem?

    – Hum… não sei ao certo… mas acho que tem a ver com o meu pai.

    – Me conte.

    – É que eu queria fazer algumas coisas, mas ele sempre queria que eu fizesse outras. Daí quando eu fazia o que ele queria ele sempre me dava recompensas sabe?

    – Sei sim. Que tipo de recompensas ele te dava?

    – Ah, por exemplo, eu sempre quis trabalhar na loja dele, mas ele queria que eu estudasse. Se eu ficasse só estudando ele me dava coisas, me deixava ficar sem tomar banho, se eu brigava com a minha mãe ele ia à meu favor.

    – Hum… que bagatela hein?

    – (risos) Pois é.

    – Entendi… Mas assim: o que tem a ver estudar com ser defendido numa briga?

    – Como assim?

    – Se uma pessoa estuda, isso significa que ela está pronta para se defender numa briga?

    – Não né!

    – Perfeito, mas foi isso que você aprendeu não foi? Estude e alguém te defenderá.

    – É né? Nossa… verdade…

    – E qual é um dos pontos que você quer mudar em terapia?

    – Aprender a me defender… dar limites… nossa… nunca tinha pesado nisso.

    – Pois é… vamos começar então!

     

    Todos nós temos aprendizados quando crianças, adolescentes e adultos. Aprendemos coisas sobre a vida, relacionamentos, profissão e estudos e com esses aprendizados organizamos a nossa visão de mundo definindo dos limites deste mundo, nosso papel dentro dele, as competências que temos e que não temos e como esse mundo – na nossa visão – funciona. Este processo de pegar um aprendizado e aplicá-lo à várias outras situações chamamos de generalização.

    A generalização é algo muito útil quando temos uma compreensão “adequada” do evento, da pessoa, da situação; por exemplo, algo muito útil que aprendemos logo cedo é a evitar entrar em contato com superfícies muito quentes porque elas queimam. Este é um exemplo de aprendizado que podemos aplicar à todas as chapas muito quentes porque elas todas vão nos queimar, generalizar esta ideia é muito interessante.

    Por outro lado quando a compreensão que temos não é “adequada” ela poderá nos dar uma visão distorcida da realidade e nos trazer grandes problemas por questões muito simples. No caso que eu trouxe acima, por exemplo, os estudos serviam como um escudo protetor da pessoa contra a mãe. Ora, o estudo leva diretamente ao aumento de conhecimentos, porém não levará diretamente a saber como se defender socialmente. Porém o aprendizado dizia: “estude e te defenderei”; para aquele pequeno contexto este aprendizado era válido porque o pai fazia este papel, porém, saindo daquele contexto e indo para o “mundo lá fora” ele não se mostrou adequado.

    É importante percebermos sobre qual “base” definimos aquilo que chamamos de “correto”, “é assim que o mundo funciona”, “as coisas são assim”, pois nem sempre as bases são “adequadas”. Mas o que é uma base “adequada”? De uma maneira pragmática por “adequado” entendemos uma reflexão que é útil para os mais variados contextos. Assim a relação “eu estudo – me defendem socialmente” não é adequada porque não possui uma relação “natural”, se fosse colocada como “eu estudo e aumento meus conhecimentos” seria adequada pois existe uma relação causal. Outra: “conheço meus interesses busco defendê-los” também tem uma relação causal porque só conseguimos defender aquilo que sabemos que precisamos defender. O mesmo vale para o exemplo da chapa muito quentes: elas queimam, sempre, então pegue com cuidado.

    Aprender a verificar sobre qual base você norteia a sua experiência e checar se esta base é uma que possui uma relação adequada entre causa e efeito esperado é fundamental para checar como você está buscando as coisas no mundo. Se não for, não tema, apenas busque uma nova maneira de enquadrar a situação para que a sua forma de pensar lhe ajude a conseguir o que deseja.

    Abraço

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