• 14 de abril de 2014

    Angústia existencial

    – Eu não sei Akim, estou muito ansioso ultimamente.

    – Entendo, você consegue perceber em que momentos fica mais ansioso?

    – Não sei ao certo… parece que fica o tempo todo assim.

    – Ok, e o que você fica pensando quando está assim?

    – Bem… um pouco do de sempre: “será que estou fazendo a coisa certa?”, mas parece que é algo mais que isso.

    – De fato, o que será?

    – Não sei…

    – Será que o problema está no “será que é certo” ou em outra questão?

    – Que questão?

    – Uma como “consigo afirmar – pra mim mesmo – que é isso o que eu quero de verdade?

    – Hum… faz sentido.

    – Se faz, a pergunta então é assim: “qual o problema em querer  o que você quer?”

    – Entendi…

     

    Muitas pessoas me dizem que seu problema é “não saber o que querem para si”. No entanto, vale sempre questionar como a pessoa sabe que não sabe o que quer para si. Em algumas situações o problema é real, tais como quando a pessoa encontra-se em uma situação completamente nova para ela e não possui experiência para julgar suas própria decisões. Porém existem outras situações em que o problema de fato não é saber o que é melhor ou não, mas sim assumir que sabe o que é melhor.

    Assumir o nosso desejo é um dos trabalhos internos mais importantes. No entanto, é importante falar um pouco sobre a palavra “desejo”.

    Desejo, neste contexto, não se trata de comprar o carro do ano, uma casa nova ou renovar o guarda-roupa; estamos falando aqui de desejos que tem a ver com a sua evolução pessoal e não com consumo de bens e/ou serviços. Obviamente quando seguimos nosso desejo podemos acabar percebendo que a aquisição de alguns bens e/ou serviços podem ter tudo à ver com o nosso caminho, por exemplo, o desejo de evolução pode levar a pessoa a entender que chegou a hora de realizar aquele intercâmbio à muito sonhado, ou que chegou a hora de enfrentar  medo de crescer e sair da casa dos pais, alugando ou até comprando uma casa nova. A regra, basicamente, é: se a compra é uma ferramenta que complementa a sua evolução pessoal ela estará servindo à seu favor, se ela é a mudança em si, pense novamente.

    Porque? Pelo simples fato de que se a compra é mais importante do que a mudança interna você não está, de fato, mudando, está apenas camuflando. É a questão das roupas, por exemplo, se a pessoa possui uma boa auto estima e compra roupas, estas estarão sendo o reflexo da auto estima que ela já possui. Se for o contrário “ai eu comprei essas roupas e agora me sinto linda, com a auto estima lá em cima”, você está fadado a “perder” a sua auto estima assim que a estação mudar e as suas roupas forem classificadas pelos estilistas como “out” ao invés de “in” e daí você precisará ir comprar mais “auto estima” na loja. Se a roupa te dá auto estima, lembre-se que o nome disso não é auto estima, é status.

    O desejo de que falo aqui tem a ver com a percepção de quem somos e com a expressão dessa percepção. Não é um desejo – ou impulso – de compra, mas sim uma desejo de mudança de comportamento, de forma de pensar, da maneira de se relacionar, de estilo de vida, de leitura, de vestimenta até ou mais radicalmente do lugar onde vivo. É o desejo que fala do coração, aquela força que te diz para fazer algo novo, para expressar aquelas emoções à tanto tempo reprimidas, para largar as suas amarras emocionais e ir em direção ao que você sente que irá expressar o seu eu mais profundo.

    Afirmar este desejo é o que vejo, muitas vezes, como algo difícil para as pessoas. Às vezes por ser algo socialmente não-convencional – o desejo de ser padre ou virar um missionário fora das comunidades religiosas é algo tido como estranho, pois vai contra a ideia de “individualidade” atual, porém não se diz que o desejo de ser um missionário tem tudo de pessoal assim como de ser um alto executivo – outras vezes por exigir coragem de buscar uma vida diferente daquela com a qual estamos acostumados e largar status, comodidades da vida e grupos de relacionamentos já estabelecidos, por outras trata-se de enfrentar um medo simples porém comum à todos os humanos: o de saber que o nosso caminho é apenas mais um caminho.

    Aqui não temos “certo” e “errado”, temos o caminho e nada mais. Temos as pegadas na areia, feitas com cada pequenos ou grande passo, e nada mais. Saber disso é o mais complexo teste para a alma humana acostumada com os padrões de certo ou errado porque é uma “liberdade excessiva”. O excesso está no fato de que não existe certo ou errado e que a pessoa poderá, então, simplesmente buscar o seu caminho. A falta do errado a faz estar livre e sem culpas para buscar o seu caminho, a falta do certo a coloca na angústia de ter que verificar a cada escolha se ela está, de fato, exercitando o seu desejo e expressando a sua individualidade neste mundo ou não. Este conjunto de faltas cria a liberdade e também a angústia. Podemos até dizer que o sistema “certo/errado” nos dá a culpa e a segurança, enquanto a falta dele nos dá a liberdade e a angústia de ser livre.

    Sentir e viver esta angústia para criar a sua própria vida é, no final, aquilo de que mais fugimos. Ao mesmo tempo, depois que aprendemos a brincar com ela é aquilo que mais desejamos. Escolher brincar ou fugir dela é algo individual e cada um fará a sua própria escolha.

    O que você tem escolhido?

    Abraço

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