• 16 de abril de 2014

    “Me assuma”

    vivemos-juntos-mas-ele-nc3a3o-me-assume

    • Eu fico fula da cara com ele!

    • Eu sei, mas me conte: o que ele deveria fazer?

    • Ah Akim, é óbvio não é?! Ele tinha que me dar uma mão, me ajudar com os meus problemas!

    • E como você se sente com relação aos seus problemas?

    • Ah eu acho que já até sei o que fazer, mas sei lá…

    • Sabe?

    • Sim… eu pensei um bocado antes de falar com ele.

    • Mas bem… então… pra que ele tinha que te dizer o que fazer?

    • Não é que tinha! É que… bem.. sei lá! Eu queria conversar com alguém sobre o assunto.

    • Ah… tipo uma opinião?

    • Sim!

    • E porque não falou para ele o que tinha pensado então?

    • Ah queria ouvir o que ele diria.

    • Bem, ele disse não foi?

    • Foi…

    • Mas não foi o que você queria ouvir… será que não é momento de você assumir aquilo que escolhe pra você mesma ao invés de responsabilizar o outro quando ele não fala o que você quer que ele fale?

    • Ai…

     

    Ouvi, já faz tempo uma pessoa reclamando que a outra não “a assumia”. Achei interessante e, na época, resolvi trabalhar com o que aquela palavra: “assumir” significava para o reclamante.

    Descobri que a pessoa precisava de alguém que lhe desse um certo sentido de vida. Ela precisava “pertencer” à alguém para sentir que estava no caminho certo. No entanto, este pertencimento não tinha o posicionamento submisso que se imagina, pelo contrário, a pessoa entendia que, uma vez “assumida” era como se ela tivesse o aval para fazer aquilo que queria, afinal de contas ela havia sido “assumida” não é mesmo? Significava que a pessoa gostava dela tal como ela era já que a tinha assumido.

    A primeira pergunta que fiz foi: mas porque você precisa disso se já sabe o que quer? Porque não facilita a coisa e simplesmente faz oras?! O que me parecia muito lógico na época. A pessoa me respondeu que ela não sabia o porque e sentiu-se muito mal com aquilo. Depois de uma falta, ela volta na próxima sessão e me conta que ela tinha visto algo muito ruim: que o namorado não era tudo aquilo que ela pensava que ele era. Perguntei o que ela tinha visto nele e ela me descreveu uma série de ideias que o jovem tinha – todas adequadas, porém pouco compatíveis com as dela.

    Seguimos a sessão e ela foi entendendo que o namorado – futuro ex – não tinha problemas, mas que ela tinha ideias já bem estabelecidas do que queria e ele não era o par ideal para ela. Quando ela aprendeu isso sobre si as brigas simplesmente cessaram e duas semanas depois ela tinha terminado o namoro de uma maneira muito amigável e algum tempo depois havia encontrado uma outra pessoa que compartilhava com ela de ideias muito parecidas sobre a relação. Ambos tiveram uma relação muito prazerosa durante o tempo em que atendi essa pessoa.

    Ocorre que muitas vezes queremos que as pessoas nos deem a certeza de que nossas ideias são boas e vão dar certo. Quem tem esse poder? Eu não conheço ninguém com esse poder. Quando colocamos para o outro assumir a responsabilidade por escolhas que nós queremos fazer dois caminhos de desastre são possíveis: ou a pessoa nega a responsabilidade – o que é saudável – trazendo desconforto e insegurança de volta à nós – e, por vezes, as pessoas se ressentem  disso – ou então o outro resolve assumir a responsabilidade que lhe foi imposta e aí o desastre continua: uma vez assumida a responsabilidade o outro deverá, agora, reagir da maneira prevista pelo conjugue em todos os momentos sem poder ter o menor deslize, obviamente, mais cedo ou mais tarde ele deslizará e, então, a culpa recairá sobre ele.

    Em geral o que move este desejo de que o outro nos dê a certeza, de que o outro nos assuma é uma dificuldade em lidar com o medo e insegurança “naturais” que o processo de escolher e viver exige. Explico: todas as nossas escolhas são pautadas na incerteza do futuro, assim sendo, todos nós temos que conviver com a insegura, em menor ou maior grau. Se a pessoa não sabe lidar com esta insegurança natural ela deseja que outra pessoa lide com esta emoção por ela, só que isto é impossível e dá margem à muitos problemas de relacionamento.

    A saída mais eficaz é tratar do medo de assumir os posicionamentos pessoais de cada um. Compartilhar o sentimento de medo e de insegurança para posicionar-se desejante de realizar algo e com insegurança ao mesmo tempo. Sobre isso um parceiro um pouco mais atento, dentro de uma relação saudável, poderá dar apoio e ajudar – não resolver por – a pessoa a superar as suas provações pessoais.

    E você, o que projeta no outro?

    Abraço

    Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br

     

    Comentários
    Compartilhe: