- Ah cara… daí eu já não estava mais aguentando sabe?
-
Sei sim, o que aconteceu depois?
-
Bom, eu acabei ficando por lá, já que não tinha mais nada para fazer. Mas fiquei daquele jeito sabe?
-
Não, de qual?
-
Ah… meio que “de corpo presente” sabe?
-
Sim, só marcando presença.
-
É, eu fiquei calado num canto e pronto.
-
Entendi, o que será que ter ficado desta maneira na festa quer dizer?
-
Como assim?
-
Você está dando uma mensagem para ela através desse comportamento, talvez você não esteja prestando atenção, mas está.
-
Hum… não sei… algo do tipo: tô me lixando?
-
Não sei… pense bem: você gosta de festas, será que o problema era estar lá naquela festa?
-
Ah… saquei Akim! Eu to querendo dizer uma parada pra ela que é o seguinte: “desse jeito não quero”.
-
O que você não quer?
-
Ah, bem é que é só o que ela quer entende? E eu quero ir nas coisas que eu quero também, junto com ela, mas isso parece que não vai rolar nunca!
-
Entendi, então estar lá calado tem essa “legenda”?
-
Tem!
Quando falamos em comunicação em geral pensamos no que vamos dizer. Porém existem muitas formas de “comunicar”: gestos, atitudes e silêncios, por exemplo.Nosso comportamento é a fonte mais rica de comunicação que temos, mais ainda do que as palavras, em consultório, costumo dizer que presto muito menos atenção ao que as pessoas falam do que ao que elas fazem.
É importante, no entanto, prestarmos atenção à nossa comunicação “não-verbal”, porque? Muitas vezes aquilo que falamos pode estar em desacordo com o que fazemos. É o caso de quem diz em tom irritado “está tudo bem!!” E também é o caso de quem diz “eu me importo com você” e, na prática, não executa nenhum comportamento que concretize esta fala. Isso pode mostrar na relação uma mensagem dúbia e o interlocutor não sabe se acredita no que é dito ou no que ele vê com os seus próprios olhos.
Em geral o comportamento expressa aquilo que as palavras não conseguem expressar. Temos um controle muito maior sobre aquilo que dizemos do que sobre algumas atitudes, assim sendo os atos e comportamentos deixam transparecer aquilo que as palavras mantém escondido. “O que fica escondido” pode ser algo “chato” como uma discussão que precisa ocorrer, assim como pode ser algo “bom” como o afeto que temos por alguém. É muito comum as pessoas não demonstrarem o seu amor por medo, vergonha ou outras sensação e preconceitos.
Assim sendo a pergunta “como expresso aquilo que prego?” é de fundamental importância para quem deseja estabelecer e manter uma comunicação de alto nível. Fazer-se esta pergunta é entrar num universo completamente distinto porque envolve três dimensões: a sua, a do outro e a da relação. Explico: o comportamento possui valores diferentes mediante quem o executa, quem o recebe e o contexto no qual isso ocorre. Num exemplo extremado, um casal pode, por exemplo ter várias “liberdades” no que tange ao toque um no corpo do outro, porém estes toques ocorridos dentro de uma reunião de negócios assumem um valor completamente diferente do que quando ocorrem no quarto do casal, por exemplo.
A pergunta inicial, então, torna-se três: (1) o meu comportamento diz aquilo que quero que ele diga? (2) para o(s) meu(s) interlocutor(es) este comportamento significa aquilo que quero que ele signifique? (3) eu e este(s) interlocutor(es) dentro deste contexto damos o mesmo significado à este comportamento? Todas estas perguntas se baseiam no seguinte pressuposto: a comunicação que tenho é o resultado que obtive com ela. As intenções não importam tanto quanto os resultados que obtemos com aquilo que fazemos. Podemos estar bem intencionados, porém comunicarmos de uma maneira que não signifique para o nosso interlocutor aquilo que queremos que signifique.
No caso de você perceber que a sua comunicação não tem atingido os resultados que você está desejando algumas perguntas podem ser feitas: de que outra maneira posso comunicar isso? Que mensagem será que a minha comunicação atual está atingindo as pessoas? Solicitar e receber feedback, neste momento é algo fundamental para fazer as “correções de rota” na comunicação.
Aqui também vale lembra outro fator muito importante e um tanto mais complexo de ser analisado: a comunicação existe ao longo do tempo. isso quer dizer que a comunicação não é um ponto no tempo como a maior parte de nós percebe ela. Ela tem um “passado, um presente e um futuro”. A maior parte de nós não age apenas no presente quando estamos nos relacionando, tudo o que vivemos com a pessoa e as expectativas que temos em relação ao futuro se misturam ao presente e é com esta mistura que avaliamos aquilo que é dito. Assim sendo nossas crenças e valores pessoais, nossos desejos e nossa história estão todos presentes quando falamos algo.
É muito comum perceber isso no trabalho com casais. Os casais violentos, por exemplo, possuem uma comunicação cíclica que envolve – de forma abreviada – um momento de provocação, um momento de violência, de apaziguamento, de clímax, novas decepções e de volta à provocação. Assim uma comunicação feita no momento de apaziguamento tem um valor específico dentro deste ciclo. Isso também ocorre em organizações e em todas as esferas de relacionamento humano. É muito importante perceber, então, o que veio antes e o que veio depois daquilo que eu disse, pois, muitas vezes, uma falha na comunicação pode ser em decorrência de um evento passado ou então da expectativa quebrada de um evento futuro e não pela qualidade – em si – da comunicação naquele instante.
O que você está querendo dizer?
Abraço
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