• 21 de maio de 2014

    Permissão para sentir

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    • Estou tendo problemas para lidar com esta situação.

    • Sim. O que você sente quando ela age assim com você?

    • Ah… eu fico meio inseguro e me sinto um fraco sabe?

    • Sei… e como é para você sentir-se assim?

    • Ah… eu não gosto nada disso.

    • Entendo. Ao não gostar, como você reage ao que sente?

    • Eu tento ficar evitando essas emoções na verdade… tento me fazer de forte entende?

    • Claro que sim. O que cria dois problemas não é?

    • É… não ajuda nada mesmo (risos)

    • Ok… como seria se, ao invés de lutar contra essas emoções você pudesse aceitá-las?

    • Não sei não… pra que?

    • Quem sabe para entender o que as motiva em você e poder fazer algo de verdade com elas?

    • Tá… pegou de jeito…

     

    Todas as culturas até hoje deram prioridade à determinadas emoções enquanto jogavam outras na marginalidade. Não importa muito como você se refere: emoções positivas x negativas, “boas x ruins” ou elevadas x primitivas; o efeito é sempre o mesmo: uma é “boa” de se sentir e a outra não. Algumas são desejadas e outras não, enfim: criamos um sistema de exclusão das emoções.

    Qual o problema com isso?

    Ocorre que nenhuma emoção ocorre por acaso – por capricho dos deuses. Todas elas estão fundamentadas na experiência humana, em nossas valores, crenças, limites e desejos. Quando negamos uma emoção ou não nos permitimos senti-la estamos marginalizando junto com ela toda esta gama de experiências que a motivaram.

    Ou seja, se eu digo que a raiva é “ruim” eu deixo de lado não apenas a emoção, mas também tudo aquilo que a motivou e que a acompanha. Desta maneira, por exemplo, a pessoa pode ficar muito indefesa na vida. A raiva, por exemplo, está ligada à sensação de agressão e violação de limites que julgamos importantes para nós, ela só vem quando nos sentimos ameaçados. Se negamos a experiência da raiva, também negamos esta sensação e, ao não darmos atenção à ela, estaremos jogando fora uma boa oportunidade de crescimento.

    A ideia que desejo transmitir neste post tem a ver com praticamente todos os atendimentos que já fiz até hoje e é: aceite suas emoções. Aceitar é dar lugar de existência, ou seja, dizer-se “sim, estou sentindo isso”, “sim, essa emoção existe em mim”. Aceitar não significa reagir impulsivamente, não significa aceitar que você está certo sem refletir, não significa que você precise gostar ou se acomodar com a emoção. Aceitar simplesmente significa dar lugar de existência. Porque isso é importante?

    Porque tudo aquilo à que damos lugar de existência em nossa vida podemos entender e agir em cima e tudo aquilo que não damos esse lugar nós não podemos mudar ou fazer nada à respeito. Em segundo lugar porque quando negamos a emoção temos dois trabalhos: o primeiro de ter que reagir à situação que nos incomoda e provoca a emoção de uma maneira incompleta – porque não está levando em conta a emoção gerada – e de ter que fingir que não está sentindo nada – e muitas pessoas fazem tanto isso que uma hora “param” de sentir mesmo, ou melhor: embotam tanto a emoção que não mais a acessam.

    Todo e qualquer julgamento realizado perante as emoções que a leve para uma questão moral deve ser evitado porque não é útil. Compreender as premissas que nos levam às nossas emoções, estudar nossas reações e buscar novas maneiras de agir é o que, de fato, no eleva e nos ajuda a criar uma boa identidade afetiva.

    Obviamente, quando fazemos esse trabalho muitas vezes percebemos que a emoção que estamos sentindo não tem um “bom fundamento”, é muito comum em consultório, por exemplo, a pessoa perceber que a agressão que ela está sentindo ao ficar com raiva de alguém não é exatamente uma agressão, ou que o problema, de fato, não é a agressão em si, mas o fato de ela não saber se defender desta agressão. E então a raiva abre os caminhos para que a pessoa possa aprender coisas sobre ela e evoluir. O mesmo vale para todas as emoções, nunca encontrei, até hoje, uma emoção que fosse “inútil”, o que encontrei muitas vezes foram pessoas dizendo que elas são inúteis quando, na verdade, não sabiam como usa-las… porém um notebook na mão de uma pessoa que não sabe nem o que é um notebook também se torna uma coisa inútil.

    Desta maneira quero terminar este post erguendo uma bandeira em favor de nos permitirmos sentir o que quer que seja. Buscar ao aceitar compreender, entender, perceber a emoção ao invés de ter uma reação intempestiva para, com isso, aprendermos mais sobre as nossas emoções e sobre nossa própria vida psíquica. Também quero erguer a bandeira em prol de permitirmos às pessoas sentirem o que desejarem sentir ao invés de julgarmos as suas emoções, obviamente isso não significa que precisamos concordar, mas sim respeitar a emoção sentida e, talvez até, ajudar a pessoa a compreendê-la. Pode parecer papo de psicólogo – e por motivos óbvios é – porém sempre falamos de respeito, mas nunca do objeto deste respeito, então: respeite as emoções das pessoas.

    Abraço

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