- Você está querendo dizer que eu tenho que abdicar de tudo Akim?
-
Não… estou dizendo que você deve refletir sobre o que ela lhe pede.
-
Cara… pra mim dá na mesma… ela quer algo que eu não tenho como dar.
-
Bem, visto que o pedido dela não é exatamente algo muito assustador, você sabe que pode dar.
-
Tá, tá… eu posso… mas o que eu ganho em troca?
-
Isso não é uma relação comercial meu caro… não é para ganhar algo em troca.
-
Mas não é você mesmo quem diz que numa relação tem que ter trocas?
-
Sim, mas não dessa maneira. O que você está supondo tem outro nome, é suborno.
-
Credo…
-
Sim: se você me der isso eu te dou aquilo. Isso é suborno porque é uma frase que pode ser escrita assim: “só lhe darei o que você quiser se você me der o que eu quero”.
-
Tá e como é que funciona?
-
Muito mais simples que isso: você pode dar ou não o que ela quer? É algo agressivo para você?
-
Não sei ao certo.
-
Veja, você está puto porque está pensando que tem que sacrificar alguma coisa, mas você não tem. O que você precisa dar à sua relação é a sua honestidade: se você é capaz de dar aquilo que a sua parceira precisa ou não. Se você quer coisas basta solicitar também, mas não organizar as coisas em termos de “trocas” ou de “subornos”.
-
Hum…
Este é um tema delicado, super polêmico e muito atual.
É um paradigma dos relacionamentos que diz que a relação deve ter “sacrifícios”. Não estou bem certo disso e também não estou bem certo do que significa sacrifício.
Se por sacrifício entendo um ritual no qual oferece uma parte de mim para uma divindade qualquer afim de obter favores da mesma e me beneficiar com isso, com certeza o relacionamento não é isso, não se trata de uma pessoa dando partes de si para que o outro lhe devolva favores. Por outro lado se por sacrifício entendo que vou doar uma parte de minha vida à serviço de algo que desejo e aprecio, então podemos colocar sacrifício novamente na discussão.
Ninguém se “sacrifica” pelo outro, sempre o fazemos pela relação. Ninguém nos obriga a estar numa relação, você está porque assim o deseja. Desta feita se a pessoa escolhe abdicar de algo, fazer uma ou outra concessão, isto não envolve trocas, não envolve um “retorno”. Ele envolve algo muito mais “pesado” que isso, a honestidade de dizer “sim, fiz isto” e “sim, ele(a) fez isso”.
A honestidade entendida, aqui, como a resolução sincera da pessoa em dizer à si e ao conjugue se aceita, de fato fazer ou não alguma coisa, ou abrir ou não mão de alguma coisa. Quando a pessoa não faz este ato de maneira sincera ela começa a desejar obter recompensas ou, então, começa a culpar o conjugue que o “obriga” a “fazer coisas”. O clima da relação rapidamente se deteriora.
A honestidade abre a possibilidade de mudanças, de acordos e negociações. Porém é importante diferenciar negociação e acordo da expectativa de retornos. Em geral os retornos são expectativas que não são ditas claramente, é uma cobrança que um dos lados faz ao outro, sem o avisar que está fazendo. Cobranças inadequadas ocorrem quando as pessoas determinam suas cláusulas sem informá-las ao outro e, depois, o cobram como se tivessem.
Numa negociação ou acordo as pessoas deixam claras suas expectativas o que possibilita ao conjugue refletir sobre o que deseja fazer com aquela informação. Quando existe a honestidade a pessoa pode se posicionar frente ao desejo do outro e, com isso, criam-se os compromissos. Quando se estabelece um compromisso, ambas partes entram na relação com o mesmo nível de consciência do que é esperado deles, esta consciência define a escolha e, uma vez a escolha feita a pessoa entra livre num acordo que percebe como possível para ela.
A honestidade é dolorosa no começo porque ela envolve lidar com a realidade e não com nossas fantasias do que uma relação deve ser. Ao lidar com o real obviamente, temos que lidar com frustrações e muitas pessoas não gostam de lidar com isso, preferindo tapar o sol com a peneira e mantendo suas ilusões. A pergunta que incia a honestidade é: o que eu quero (num relacionamento)? O que é importante para mim e de que maneira percebo isso quando recebo?
Comunicar isso ao outro é a segunda fase. A comunicação sempre deve ser a mais clara possível, feita num tom tranquilo e não num tom de cobrança ou acusador. Quem recebe não deve sentir-se cobrado, mas sim deve entender que está diante de uma escolha importante para si e que, por este motivo, deve ser o mais sincero possível.
Se comportar de acordo com aquilo que escolhe para si é o terceiro passo. Nada adianta dizer que deseja algo e, quando o outro não cumpre o acordo – por exemplo – ficar de boca calada. Aqui, novamente entra a honestidade de comportar-se tal como fala. Da mesma maneira cabe elogiar e apreciar o conjugue quando o mesmo “acerta” e cumpre o combinado. Este reforçamento é sempre importante. Como os acordos estão já feitos a cobrança e o elogio assumem um valor fundamentais.
E você? Tem sido honesto ou tem se sacrificado “à toa”?
Abraço
Visite nosso site: www.akimpsicologo.com.br