- E daí ela foi embora sabe?!
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Claro! Deveria estar com a bunda dolorida já.
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Pô meu, mas sabe… ela olhou e tal, mas…
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Mas…? O que você estava esperando?
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Um sinal mais claro!
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Hum… como um luminoso “me beija por favor”?
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(risos) Seria bom.
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Seria né? Só que isso não ocorre… não sempre pelo menos.
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Akim… você não acredita o que ele fez depois!!
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O que?
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Eu lá, toda linda esperando ele tomar uma atitude né?
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Sim…
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Daí vem “aquelazinha” e senta do lado dele.
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Hum…
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Não dá meia hora os dois se agarrando
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E você?
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Eu fui embora né?!
-
É…
Desta vez resolvi trazer dois relatos: um dos homens outro das mulheres que recebo no consultório em relação à falta de objetividade com aquilo que desejam. Existe uma diferença entre “ser fácil” e “buscar o que se quer”, assim como existe uma diferença entre “se fazer de difícil” e “impossibilitar a relação”. As confusões são enormes e envolvem defesas e dores emocionais, valores culturais assim como competência interpessoal.
Quando a pessoa deseja outra pessoa se inicia a paquera, o flerte no sentido de buscar definir à distância a possibilidade de uma aproximação ser bem sucedida. Muitas pessoas realizam o flerte de uma maneira que afasta as outras pessoas. Dentro delas existe o desejo, porém existe, também, o medo. Esse medo, misturado com o desejo, se traduz em atitudes ambíguas e esse tipo de atitude, em geral afasta as pessoas ao invés de aproximar.
O medo, por sua vez, pode ter origens em questões emocionais e ser traduzido como o medo da rejeição, de abandono, de ser enganado ou de “estragar tudo novamente”. Também pode ser um aprendizado social que diz que a pessoa não deve demonstrar o desejo de uma maneira muito aberta ou até mesmo uma incompetência social na qual o auto conhecimento e o conhecimento corporal não são bem estabelecidos fazendo com que a pessoa se expresse de maneiras que não dizem – socialmente falando – aquilo que ela quer realmente dizer.
Medo, em geral, tem a ver com a nossa falta de habilidade em lidar com uma determinada situação à qual não sabemos resolver e que pode nos causar de um determinado dano – físico psicológico ou emocional. Quando a pessoa aprende a lidar com a rejeição, por exemplo – um medo muito comum nos homens jovens quando começam a paquerar – ela deixa de temer uma possível rejeição da pessoa com quem está flertando. No caso da mulher – em geral – quando ela aprende a lidar com o abandono ela sente-se mais forte e menos dependente das atitudes dos homens em relação à ela.
Este medo é o que diferencia, por exemplo, o “se fazer de difícil” e o “impossibilitar a relação”. É como na dança: se a dama ou o cavalheiro forem demasiados duros a dança não irá ocorrer ou não será harmoniosa – no mínimo. O medo causa este excesso de “dureza”. Trabalhar com o medo nos faz perceber nossos comportamentos e se entregar ao jogo de uma maneira mais plena. “Jogar” o jogo significa envolver-se nele e o bom jogo nunca determina à priori o seu ganhador ou perdedor, isto se definirá ao longo do jogo. No caso do flerte, podemos usar esta analogia ou podemos usar uma ainda mais interessante que se traduz na criação das narrativas.
Gosto desta abordagem que resumo na seguinte frase “o que não nos mata, vira história para os amigos” e, por pior que seja a história, mais cedo ou mais tarde conseguimos rir dela, quando a vivemos e a contamos com honestidade. Assim, no universo do flerte os “foras” se transformam em experiência, se transformam em novos jogos – nada disso busca excluir a dor que podemos sentir, mas sim vivê-la com a “cabeça erguida” – que mantém a pessoa ativa no mundo e em sua vida. Retira ela da posição de estrelinha e a coloca na terra, com os pés no chão.
Esse “estrelismo” é o que faz as pessoas não buscarem o que querem. O medo do fracasso em geral se traduz num medo de terem em sua história uma “mancha”. Ora quem teme isso se entende num pedestal imaculado visto que a vida é feita de manchas. “Nada é perfeito e nisto encontramos a perfeição” é outra frase que gosto de usar. Quando mais “estrelas” precisamos ser mais nos afastamos do “estar vivo”, pois organizamos nosso comportamento em relação à uma imagem idealizada ao invés de em relação à realidade. “Imagine que eu vou fazer…” esta frase sempre está carregada de arrogância quando afasta a possibilidade de ser no mundo apenas por um julgamento pré definido ou pelo medo e incompetência de agir.
Então é que a pessoa embora desejosa se cala, embora querendo ir adiante se freia. É quando quem vence não é avida, mas sim a arrogância tola e infantil de não querer se ferir ou fazer papel de bobo. Porque chamo isso de tolo? Porque na vida todos fazemos esses papéis pois ninguém sabe de tudo, pode tudo e conhece tudo. Ninguém é inatingível para nunca se ferir e ninguém sabe tudo para nunca se enganar. Aceitar isso é aceitar a realidade da existência humana, da condição humana assim como assumir o desejo. E, ao fazê-lo é que podemos, enfim, buscar aquilo que desejamos das maneiras mais variadas, mas sempre em sintonia com quem desejamos ser.
Acredito que não é necessário estabelecermos padrões de conduta para homens e para mulheres. Particularmente, creio que quanto mais comportamentos uma pessoa tem em seu repertório, mais proveitosamente ela poderá viver a sua vida utilizando suas habilidades da maneira que julgar conveniente. A questão é que, tanto para homens quanto para mulheres, pode ser muito útil saber tanto “dar em cima” quanto “esperar o outro tomar a iniciativa”.
Creio que é importante ir além dos conceitos de gênero que ligam determinados comportamentos à homens e outros à mulheres podendo incluir este comportamentos, ou seja, uma mulher pode agir esperando o homem tomar a iniciativa e isso ser muito prazeroso e íntimo para os dois assim como pode “dar em cima” e ter o mesmo efeito. Minha experiência me leva à crer que isso depende mais da situação, do momento de vida da pessoa e dos envolvidos do que necessariamente de uma questão simples de ser “homem” ou “mulher”.
Este artigo visa esclarecer as algemas que engessam as pessoas a terem uma riqueza de comportamento para que elas possam retirar as algemas, ganharem flexibilidade e aproveitarem ainda mais suas vidas, espero ter atingido intento.
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