• 25 de junho de 2014

    O próximo passo

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    • Estou empacado sabe?

    • Como assim?

    • Agora que eu sai da casa dos meus pais e estou com um emprego bom estou me sentindo estranho.

    • Estranho como?

    • Ah.. parecia que isso era tudo o que eu precisava fazer, mas agora parece que não.

    • Entendo. E o que parece?

    • Pela primeira vez na vida eu não sei muito bem o que fazer entende? Eu pensei que agora eu ia me sentir muito bem, mas não me sinto assim.

    • Sente-se mal?

    • Também não… é estranho… eu até consigo ver que existe um futuro, mas não sei ir para este futuro.

    • Entendi… Quem é você agora?

    • Como assim?

    • Quem é você agora que saiu da casa dos pais e tem um bom emprego?

    • Não sei… um cara bem sucedido?

    • Não sei, é isso?

    • Ai Akim, pergunta difícil!!

     

    Uma boa parte do processo de terapia consiste em ajudar a pessoa a resolver seus problemas pessoais. Nesta fase pressupõe-se que existe um problema que já está instalado e a pessoa, em geral, vê-se como vítima deste problema ou inferior à ele. É o momento de perguntas mais práticas, de criação de repertório comportamental, de compreender os elementos mais importantes para a resolução doo problema além do problema em si.

    Neste momento a pessoa identifica-se como alguém que precisa resolver o problema. A sua salvação está ali. É uma guerra, uma luta contra alguma coisa que, de alguma maneira, a impede de ser feliz. Existe muita raiva, muita revolta, fala-se muito sobre o que se passou buscando por explicações e justificativas sobre “tudo o que aconteceu”.

    Depois que este momento passa e os conflitos se resolvem a terapia entra num segundo momento muito mais rico do que o anterior que é quando a pessoa aprendeu a lidar consigo e com o seu meio ambiente. Ela, agora, compreendeu a sua parte nos seus problemas e conseguiu criar novas maneiras de se comportar, de pensar e de sentir que a ajudaram a resolver situações ruins.

    Este momento é marcado, muitas vezes por uma sensação estranha de incompletude. As pessoas dizem “eu pensei que estaria melhor agora, mas estou neutro… é tão estranho isso”. Na verdade, não é estranho é algo bem comum. Ocorre que toda a revolta e raiva que existia sobre as situações anteriores desaparece porque a pessoa aprendeu a lidar com aquelas situações. Quando isso desaparece através do aprendizado vem a pergunta: porque era necessária tanta raiva então? Porque era necessária tanta tristeza? E a resposta dura que a experiência da pessoa traz é: “não era”.

    Este “não era” invalida algo muito importante sobre a pessoa: a sua percepção de “eu”, a sua identidade. Invalida porque? Porque a identidade estava alicerçada numa crença de que ela tinha que ser infeliz por causa dos problemas que tinha. No entanto, quando ela resolve os problemas, precisa ser infeliz porque? A pergunta não faz mais sentido e é por esta razão que a noção de identidade fica perdida. Ela não é mais a vítima, a pessoa perdida, aquela que não vai dar certo.

    Mas então, o que ela é? Essa é a pergunta que precisa de resposta. Organizar uma nova visão de si, uma identidade alicerçada nas competência que foram desenvolvidas, no sucesso que a pessoa teve, nos desejos que tem e na vontade de viver que ela organizou dentro de si. Isso é deixar uma identidade de “remediação” para trás e criar uma identidade de “criação” de novos caminhos para frente.

    Quem é você? A dor do seu passado ou as possibilidades do seu futuro?

    Abraço

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