• 27 de junho de 2014

    O que fica para trás?

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    • E eu não sei exatamente o que eu quero sabe?

    • Sei… é difícil afirmar não é?

    • Sim…

    • Mas digamos que você soubesse plenamente: será que isso iria simplificar teus problemas?

    • Hum… a princípio era para ser sim, mas acho que não… estranho né?

    • Não… não muito… o que iria acontecer se você decidisse qual quer?

    • Eu teria que ir atrás dele e me empenhar.

    • Sim, claro que sim. E o que mais iria… ou melhor, não iria mais acontecer?

    • O outro?

    • É né? Como você lida com as perdas das escolhas que você faz?

    • Eu acho que eu não gosto muito do que fica para trás…

     

    Muitas vezes o nosso maior problema não é no que vamos adquirir, mas sim no que vamos perder, ou no que vamos “deixar para trás”. Ao escolhermos uma opção – seja do que for – deixamos para trás todas as outras escolhas. Se a pessoa “anda para o futuro de costas” sua atenção irá se fixar completamente naquilo que foi deixado e não naquilo que está sendo buscado.

    O medo do arrependimento, ficar horas remoendo as fantasias imaginando como teria sido “se…” faz qualquer pessoa sofrer em demasia, é uma auto tortura. Lidar com a realidade já é bastante complexo, lidar com as fantasias ainda mais e elas são, em geral, muito impiedosas e cruéis. No entanto, tudo isso se justifica quando se pensa que ninguém sabe, exatamente como será o futuro ou se fez a melhor escolha, em outras palavras o arrependimento não é algo que e impossível. Então, o que fazer com isso?

    Uma das respostas que gosto de usar para trabalhar com este tema é de que o nosso compromisso não é exatamente com a realização do que nos comprometemos, mas sim com o nosso processo interno de desenvolvimento. O “vir à ser” é algo mais importante do que o fato de concretizar ou não uma determinada meta. Porque trabalho com esta noção?

    Existe uma outra eventualidade da vida que levo em consideração neste momento: a morte. Não existe hora para morrer, podemos morrer à qualquer momento e que realmente importa é o que conseguimos viver. Ora, se o que realmente importa é o que conseguimos viver, se estamos vivendo a realização de um sonho, mesmo que este não esteja completo, e morremos, estamos dentro disso, dentro desta energia.Os indígenas americanos nas guerras contra o homem branco usavam uma expressão forte: “é um bom dia para morrer”. A expressão manifesta exatamente este compromisso não com uma meta, mas sim com uma experiência de vida.

    Outro argumento que uso para dar suporte à esta visão é sobre vários casos de pessoas que deprimem após conseguirem atingir grandes metas. É exatamente o mesmo efeito: elas, ao atingirem o sonho, deixaram de ter pelo que sonhar. Esta falta de intenção com a vida nos deprime e precisamos de uma nova meta para vivermos bem. Ele corrobora com a ideia de que o ato de criar é mais importante emocionalmente do que o ato de concretizar em si.

    Lidar com o arrependimento é lidar com a vida. Escolher e ter errado é menos importante do que não ter escolhido, do que não ter vivido. Se o arrependimento é doloroso a dúvida “e se eu tivesse feito” é destruidora. Isso se deve exatamente por este motivo de que quando estamos fazendo parte de nossa história contribuindo de maneira ativa à ela criamos o nosso ser – ou melhor, o nosso vir à ser – e isso alimenta a alma. Arrepender-se tem a ver com ter vivido e aceitado a vida, aceitado o desejo, mesmo ele não sendo adequado e isso só ter sido percebido posteriormente.

    Aquilo que fica para trás, portanto, é aquilo que eu decidi não viver. É o preço que pago por aquilo que escolhi viver, é a minha afirmação do meu ser, do meu vir a ser que se concretiza tanto quando eu realizo meus sonhos, tanto quanto nos sonhos que não realizei. As escolhas que não se faz são, portanto, tão importantes quanto as que faço pois ambas criam a minha realidade, a minha vida, o meu por vir.

    Abraço

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